Irmãs

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Vocês pediram...

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Christian Dreyfus seguiu de carro em uma velocidade quase próxima da máxima na cidade. Estava com pressa, estava irado, e o envelope com as fotos e informações sobre o famigerado "tio Léo" pareciam queimar no banco do carona.

Ainda se lembrava do estado de plenitude como acordou, após sonhar com o beijo que trocara com Rosa na praia do Rio Vermelho.

Não havia nenhum tipo de intensidade, fogo, tesão absurdo; era apenas gentileza e doçura, com os lábios dos dois se conhecendo, e se misturando ao vento da noite e ao sabor de fruta que vinha dela. Os dois sorriram, meio tímidos um com o outro, entendendo que havia uma atração entre eles, e essa atração poderia significar algo a mais.

Ele ficaria em Salvador por mais alguns meses. Martine ficaria na escola que gostava tanto até o final do ano; e Christian tentaria prosseguir com aquela relação.

- Você estava tão certo em retornar... E como fica o seu trabalho na Inglaterra?

- Vídeo chamada já vem resolvendo todos os problemas desde que viajei para o Brasil, eles podem me aguentar com as mudanças no fuso por mais alguns meses. – riu, divertido.

Os dois caminhavam de mãos dadas pela praia, voltando da praça onde se encontravam e seguindo até a igreja, onde as pessoas continuavam se divertindo, grupos jogavam bola na quadra pública e alguns arriscavam andar de skate no meio do calçadão.

- Cuidado, Christian, eles vão te atropelar! – disse Rosa, entre risos, puxando-o pela mão e o envolvendo junto dela.

- Era para... Eles circularem assim... Desse jeito, por aqui?

- Hoje é sexta-feira... Quer dizer, sábado! Deixa o pessoal se divertir!

- Eu não sou o destruidor de diversões, Rosa! Só me preocupo com esses meninos... Nem usam um capacete, aí caem, quebram a cabeça e morrem!

- Que exagero, meu Deus! – a professora gargalhou. – Você já está usando o kit "pai do universo"!

- O que é isso?

- Todo pai tem esse kit: ele vê em todas as crianças e adolescentes os próprios filhos. Se eles se perdem na rua, ficam com medo e chamam o segurança ou policial para ficar de olho na criança. Se ele vê uma criança caindo durante a brincadeira de pega pega, ele fecha os olhos e diz "meu Deus, eu não quero ver isso" e pergunta cadê o pai da criança que não aparece pra acudir a filha!

Ele riu, e Rosa percebeu o quanto Christian parecia muito mais à vontade rindo, sem amarras ou as tensões de quando ele chegou em Salvador.

- Sim... Provavelmente eu vejo em todas essas crianças Martine.

Conversar com Rosa era caminhar nas nuvens. Ela o tornava alguém de quem ele realmente gostava, e não precisava se preocupar com dinheiro, posses, recursos, gente o adulando por ser bilionário.

Os dois permaneceram de mãos dadas, andando pela rua, e a jovem sentia os dedos entrelaçados nos dela, segurando com força. Não era apenas o beijo, mas aquele sentimento de que ele gostava dela, de verdade, e demonstrava isso. Rosa percebeu que demonstração de sentimentos não era exatamente o forte de Christian, mas imaginou que a convivência com Martinha o havia suavizado em relação a isso.

Ela não pensava que conviver com a própria Rosa o modificara.

"Tudo mentira, tudo teatro... Igual à vagabunda da Stephanie, mas Rosa foi mais esperta, porque estava de olho no ricaço idiota um, e no ricaço ainda mais idiota dois!", concluiu Christian, tentando controlar a própria têmpora, ao se sentir mais uma vez enganado. Mas agora, era algo mais profundo – o seu coração foi afetado pelo que ele considerou um golpe bem urdido.

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