Contra-ataque

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Vamos ver quem estava de olho em Rosa e Marco...

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Martinha já estava em meio à aula com os tutores, após um café da manhã animado, em que ela exigiu a presença do pai durante a tarde para continuarem os ensaios do balé.

- O senhor ainda está muito duro e sem movimento! – ordenou a menina com firmeza, entre uma colherada de cereal e outra.

Aquele jeitinho mandão parecia familiar demais para Christian.

Antes de sair para o escritório, deu um beijo na filha, que riu ao perceber que a barba castanha estava crescendo.

- O senhor vai ficar igual a um homem das cavernas, pai!

- Mas não foi a senhorita quem disse que me queria com a barba maior?

- Sim! Porque fica igual a um galã de novela! Mas essa barba tá grande demais, tem que cortar!

Christian riu. Deixaria a barba cerrada, a fim de atender às exigências da sua filha, que também queria que ele não usasse tantos ternos escuros ou os cabelos penteados perfeitamente para um dos lados.

Mas era um homem de negócios, precisava usar um bom terno, sua gravata de seda azul-escura e os sapatos oxford na cor preta, de uma marca italiana favorita de Christian.

Viu o horário no relógio e informou ao mordomo que logo os hóspedes chegariam em Oxford Hall, e deveriam deixar a mesa do café pronta para eles, ou algum lanche mais leve.

Assim que colocou os pés para fora da mansão, viu os membros do Day Riders saindo de uma van, carregando as mochilas e com um ar de cansaço por causa dos shows.

- Bom dia, Sr. Dreyfus. - cada um dos membros da banda foi cumprimentando Christian em português, e ele respondeu com um "bom dia" mais arrastado, porém um pouco mais firme do que na primeira vez que eles o ouviram arriscar-se no português.

A última pessoa a sair da van foi Rosa, e a cena que ele testemunhou acabou por transformar sua manhã aparentemente comum no fim de todas as suas esperanças.

Ele viu a conversa íntima entre a cantora e um desconhecido, uma conversa que os divertia, e se encerrou com um beijo de despedida, intenso ao mesmo tempo que bastante íntimo. Não conseguiu ver o rosto do homem, mas parecia alguém do grupo de amigos do Day Riders, algum cantor ou músico que também estaria em turnê; alguém que tinha os mesmos gostos, a mesma vivência, que entenderia Rosa muito melhor do que ele, alguém que ela disse de forma categórica que era um "paranoico".

"Aquele sim, deve ter a confiança plena dela... E ele deve confiar integralmente nela... Não ficou desconfiando desde o primeiro dia...", pensou Christian, enquanto controlava as próprias emoções a fim de cumprimentar a jovem, que parecia bem feliz e satisfeita.

- Bom dia, Christian.

- Bom dia, Rosa. Martine está na aula com os tutores, e conversei com Walter para deixar a mesa do café posta, caso queiram se alimentar.

- Vamos descansar um pouco, depois descemos pro café.

- Tudo bem. Eu estarei na Dreyfus Group. Com licença... - e seguiu até a garagem, sem notar que era observado por Rosa, que parecia bem surpresa com a tranquilidade exibida por Christian naquele momento.

Pensou que ele faria perguntas sobre Marco, discutiria a "influência" do "namorado" da jovem na vida da filha, daria uma de "pai zeloso e superprotetor", mas... Sua postura era de alguém que parecia ter visto uma cena de beijo na novela, nada mais e nada menos.

"Engraçado... Me pediu perdão, parecia tão interessado há seis meses para agora... Simplesmente não ligar a mínima para o que viu: eu e Marco nos beijando... Sempre soube quais eram suas verdadeiras intenções, Dreyfus..."

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