Confiar

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Quando eu disse antes de começar as publicações deste livro, que dois personagens de "Um Rosto no Espelho" e "Cavaleiros da Noite" apareceriam neste livro, outra pessoa ficou me atentando para dar as caras também.

Atentou tanto, mas tanto, que a pessoa que apareceria APENAS lá na frente estará neste livro. 

Dica? Vocês o viram em apenas UM capítulo de "Cavaleiros da Noite", numa cena bem fofa.

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Era um dia de sábado, e pela primeira vez em anos, Rosa não levaria Martinha para o Orfanato São Vicente.

Precisava se acostumar, já que após as provas de Junho, a menina passaria a viver na Inglaterra pelos próximos seis meses. Entretanto, apesar de todo o processo de "compreensão" da distância entre as duas estar sendo realizado com toda a tranquilidade possível, Martinha parecia mais animada e tranquila que a tia.

- Claro, né, amiga? – comentou Cíntia, tomando cerveja gelada em lata, após o retorno de Rosa do orfanato.

As duas aproveitaram a "noite das mulheres" para fazerem algo simples, mas que era praticamente impossível, considerando que Rosa cuidava de uma criança: foram a um barzinho perto do conjunto onde viviam, e a personal trainer pediu, além de cerveja, carne do sol com batata frita.

Rosa não bebia; preferiu uma água com gás.

- Martinha logo vai viver com o pai, e o pai é uma novidade né? Além disso... – tomou mais um gole, enquanto via um rapaz alto e forte, que reconheceu ser um frequentador da academia. Piscou o olho, charmosa, e ele respondeu sorrindo. – Você passou todo esse tempo sendo a tia responsável, séria, a Santa Dulce dos Pobres da nova geração, e agora com essa divisão de tarefas, é como se você estivesse...

- Sozinha. Eu sei. – suspirou. – Não me preocupo com a questão do pai, Christian é uma boa pessoa e adora Martinha.

- Sim, e é bonitão! Parece aquele gostosão daqueles filmes antigos que minha mãe assistia e ficava suspirando, qual é o nome mesmo?

- Não sei, Cíntia, não faço ideia dos filmes que sua mãe via...

- Aqueles que ele gosta de bater na namorada quando vão transar!

- É "Cinquenta Tons de Cinza", Cíntia, e "bater na namorada" é na verdade BDSM.

- Isso, esse filme mesmo! O pai dela é lindo, sua irmã não era boba não!

Rosa revirou os olhos.

- Pra mim, basta que ele ame Martinha.

- Oxe, Estrela, que conversa de virgem é essa? Cê jura que nunca olhou praquele espetáculo de homem?

- Cíntia... – bebeu um gole de água e disse: - Eu tenho mais o que fazer do que ficar reparando em pai de Martinha.

Pegou uma batata frita e comeu, amuada.

- Hum... Fez todo esse drama pra dizer um negócio desses... Aí tem.

Rosa ignorou as provocações da amiga, mas ela tinha razão em uma coisa: a professora já havia reparado no pai de Martinha. Como não poderia, já que os dois conviviam quase todos os dias? Ele tomava café à noite junto com a menina, eles dividiam as refeições? Conversavam sobre o futuro da criança? De que forma poderia ignorar os momentos em que Christian a observava enquanto falavam? Ele nunca desviava o olhar, sempre era direto em suas expressões e parecia sempre a analisá-la.

Nunca viu olhos verdes tão translúcidos e vibrantes, e Rosa sabia: eles brilhavam apenas para Martinha. E aquilo vinha enternecendo seu coração há muito tempo, mais do que ela esperava.

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