Estrada de tijolos amarelos

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Eu particularmente amo esse capítulo por várias razões:

1. Porque inaugura uma nova fase no livro, e vocês verão em que situação estão os personagens;

2. Porque vocês vão começar a passar ainda mais raiva;

3. E se você prestar atenção com bastante calma, os sinais do próximo livro da SLU começam a surgir aqui, de maneira inesperada.

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Leonardo Cavalcante de Menezes conseguiu convites vip para um dos shows mais concorridos da cidade.

Como a casa de shows ficava em Villas do Atlântico, a ida e a volta para casa seria mais rápido do que as vezes que ele acompanhava o Day Riders no Rio Vermelho, e não raro pedia emprestado o apartamento de Rebeca para dormir – especialmente quando a irmã não usava o espaço para se encontrar com o P.A.

Entretanto, os Day Riders não tocavam em casas pequenas há um bom tempo. A banda cresceu mais do que o circuito alternativo do Rio Vermelho: eles já eram conhecidos por todo o estado, e faziam shows em alguns estados do Nordeste, com grande aceitação. As músicas autorais do grupo, em inglês e português, tinham retorno bom de streams e o empresário do Day Riders, Érico Mateus, dizia que faltava pouco para que eles pudessem gravar um CD.

A banda era famosa não apenas pelo repertório, que misturava clássicos do rock e do axé com músicas autorais, como também pela competência dos músicos, que costumavam trocar de instrumentos em algumas canções, e o estilo bem rockstar dos membros da banda, em especial a vocalista (que também tocava violão, guitarra e piano): sempre com calças de couro apertadas e camisas na cor preta, com maquiagem carregada nos olhos e os cabelos cacheados imensos, caindo até a cintura, com um volume tão grande que parecia uma juba de leão.

Ela também tinha a personalidade forte de uma leoa, tanto que o advogado inglês da banda a chamava de "Lioness" - e ela adorava o apelido.

No entanto, para Léo, "Lioness" seria sempre sua Estrela, Rosa, mesmo que os dois não tivessem mais a mesma relação de amizade de antes. Ele sabia que tinha estragado tudo ao esconder quem era de verdade, e magoou a jovem profundamente. Rosa odiava mentiras, e ele traiu a confiança dela.

"Não mais do que aquele britânico idiota, mas ela se apaixonou por ele, não por você", pensou o professor, enquanto bebia um gole de água, esperando o começo do show.

Começando pontualmente às 21h, um feixe de luz se concentrou na pessoa que ele queria ver, sentada elegantemente num piano preto com um sorriso enigmático para o público, provavelmente cerca de cinco mil presentes – casa lotada.

- Boa noite. Somos o Day Riders.

Logo os dedos de Rosa deslizaram pelo piano, e Léo reconheceu "Goodbye Yellow Brick Road", de Elton John, a nova abertura dos shows – Rosa Williams explicou numa live da banda que representava a fase de "desencantamento" da vida, para que o show explodisse em catarse no meio.

No entanto, a versão era mais pesada, com a bateria de Jan Severo levando a música para algo menos cadenciado e mais soul, como se transformasse a faixa numa experiência religiosa. Jônatas Monteiro, acompanhando no violão, Rian Dutra duelava com a jovem nos solos de guitarra e o baixo de Kauã Rios dava régua e compasso à levada soul impressa pelo jovem baterista, que estava chegando aos dezoito anos e não imaginava qual a surpresa dos colegas de banda para o seu aniversário.

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