Confusão

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Gizelly Bicalho

Minha cabeça estava latejando. Senhor como é horrível acordar assim, meu corpo está dolorido como se um caminhão tivesse passado por cima dele muitas vezes.

Que droga de sonho foi aquele.

 A luz forte do quarto incomodou meus olhos. Voltei a fecha-los já xingando Rafa mentalmente, não que eu não a ame, mas mesmo ela sendo minha irmã mais velha esse hábito de não apagar as luzes parece de criança, com certeza devia ter sido ela que veio aqui e deixou a essa merda acesa. Quero saber quando ela irá parar com essa mania estúpida. Levantei da cama com os olhos meio fechados mesmo, entrei no banheiro e arranquei minhas roupas, ou melhor, o que tinha né, eu não me lembro de ter ido dormir apenas de roupas íntimas. Que horas são agora? Ainda tenho que ir a escola! Será?

A água quente bateu contra meu corpo, gemi de satisfação. Era tudo que eu precisava. Abri meu olho esquerdo e procurei pelo sabonete. Desde quando ele é azul? Ontem era laranja. Rafaela! Tenho certeza, ela precisa parar de invadir meu espaço. Esfreguei o sabonete nas mãos formando uma espuma com aroma de flores que eu gosto, voltei a colocar o sabonete na saboneteira e passei as mãos com espuma pelo corpo, primeiro o quadril, barriga e subi para os... Espera aí! Arregalei os olhos e olhei para baixo. 

― Meu Deus, eu tenho peitos! Eu tenho peitos.  Como? – eu estava incrédula, desde quando eu tenho peitos tão grandes, macios e lindos? ― Que merda é essa? Só posso estar sonhando, é isso mesmo. 

Eu estava assustada e hipnotizada ao mesmo tempo. Se isso é um sonho eu não quero acordar agora, é ótimo ter peitos tão gostosos de pegar assim. Fiquei os massageando com minhas mãos. Cara, isso é gostoso. Apertei meus mamilos entre meu dedo polegar e o indicador e os apertei, céus! É tão bom. Estava prestes a gemer quando ouvi a porta ser aberta, arregalei os olhos e soltei meus peitos imaginários, nem tão imaginários agora. Virei-me por reflexo.

― O que você tá fazendo aqui? – Marcela abriu e fechou a boca algumas vezes, seu olhar não saia do meu corpo nu e só então me dei conta da minha nudez. Senti meu corpo esquentar e eu tentei me tampar da melhor forma possível. - Marcela! Sai daqui, agora!

― Eu-eu... Okay.

Derrotada e de ombros baixos ela virou-se e saiu do banheiro de cabeça baixa, mas voltou apenas para colocar uma muda de roupa em cima do cesto de roupas sujas. Bufei e neguei com a cabeça, essa garota está ficando louca. Eu quero saber quem foi o idiota que a deixou entrar na minha casa.

 Voltei ao meu banho, mas dessa vez não quis tocar nos meus peitos, eu faria isso depois. Apenas tomei meu banho e depois saí do box. Me aproximei do cesto de roupas sujas, receosa eu peguei a muda de roupas que a louca deixou aqui para mim. 

Coloquei as peças íntimas sem nem me importar se eram minhas mesmo, mas deviam ser porque estava no meu quarto. Será que ela fuçou minha gaveta de calcinhas?! Não acredito! Eu vou matar essa garota. Vesti-me com uma camisa do Flamengo, o short de algodão azul escuro e enrolei a toalha nos cabelos. Abri a porta do banheiro cheia de ódio, mas paralisei no lugar... Oh não! Era aquele mesmo quarto, ontem não foi um sonho. Quer dizer, eu desmaiei? Marcela me sequestrou mesmo? Oh merda! 

Eu preciso ir embora, eu vou lá enfrentar a sequestradora e exigir que ela me leve embora daqui. Minha mãe vai falar à beça no meu ouvido por ter perdido o teste de matemática. E ainda passar a noite fora de casa.

Sai do quarto, a casa estava silenciosa. Quem será que mora aqui? Olhei pelas paredes e vi algumas fotos, quem eram aquelas pessoas?

– Essa parece a Rafa será que é minha irmã mesmo? Espera, por que tem uma foto da Rafa aqui?

Continuei olhando e vi Bianca, ou seria alguma sósia dela mais velha? Que droga de lugar é esse?

Estava ocupada tentando pensar em alguma explicação, buscando na memória de quem poderia ser aquela casa e porque tinha foto daquelas pessoas ali. Uma me chamou a atenção, era uma daquela mesma menina que eu vi ontem, ou mais cedo, não sei. Ela está sentada no colo de uma mulher e... Espera! Manu? Mas isso é impossível, Manu só tem 5 anos.

Quem é essa cópia mais velha da minha irmã mais nova?

Agora era fato, eu estava morrendo de medo, e assustada. De repente uma alta campainha ressoou pela casa, é a minha chance. Corri em direção à escada, desci os primeiros degraus com cautela. E se for algum comparsa da Marcela? Aquela cretina.

– Você disse que iria comigo lá ver as coisas do Diego, Marcela, não fura comigo.

Bianca! É agora, minha chance de fugir daqui. Desci o resto dos degraus correndo, só ele poderia me ajudar. Ouvi a voz de Marcela e a segui, logo cheguei a uma enorme sala de estar. Marcela, falava andando pra lá e pra cá... Bianca? Mas ela não era tão alta assim ontem na escola. Nem estava com os cabelos curtos, mas ela pode ter cortado, né. Gizelly sua burra.

– Bianca?!

O chamei curiosa, ao ouvir minha voz os dois se calaram. Bianca virou-se para mim e sorriu. Puta Merda. Mas o quê? Desde quando ela tem tatuagens? E desde quando ela parece tão mulher assim, ela tem cara de bebê plastificado como a Marcela.

― Tchitchela, boa tarde. – veio em minha direção e me puxou para um abraço, ele estava mais forte também. Não retribui o abraço, pois estava assustada demais. ― Será que você pode convencer a sua esposinha querida a me ajudar nas compras dos moveis para o quarto do Diego? O afilhado de vocês e minha esposa irão agradecer se formos logo, sabe... Assim vocês ficam mais juntinhas!

Mas de que droga que ela estava falando? Esposa? Minha esposa? Esposa dela? Quando ela se casou? Quando que... Eu não quero nem pensar nisso!

— Que merda de brincadeira estúpida é essa? 

Esbravejei fazendo-o saltar e me olhar sem entender. Marcela suspirou pesado, mas estava ocupada demais tentando entender que universo paralelo era aquele. 

― Era isso que eu estava tentando te contar, Bianca – Marcela se pronunciou, olhei para ela que estava com o olhar perdido. ― Gizelly você não está se sentindo bem hoje, parece que você está confusa.

― O que houve? Você me sequestrou e me drogou.

Tentei avançar para cima dela, que se encolheu surpresa, senti braços firmes em minha cintura. Eram os braços de Bianca me impedindo de matar a irmã dela.

― O que houve? Como assim a Marcela te drogou e te sequestrou? Gizelly, por que ela faria isso com a própria esposa?

Bianca falou brincalhona, Marcela deu um sorriso amarelo e assentiu com a cabeça como se concordasse com ela. Mas o que?

― Você também está tirando uma com a minha cara? Desde quando eu sou casada com aquela coisa plastificada a perfeição.

Soltei-me dela completamente revoltada, nem me importando com a expressão aparentemente triste da "minha esposa".

Bianca tinha seu cenho franzido, parecia confuso. Olhou para a irmã e depois para mim, segurou minha mão esquerda e a levantou, deixando bem visível a gritante aliança de ouro em meu anelar esquerdo.

― Desde oito anos atrás quando você disse sim a ela Gizelly!

 Meu estômago embrulhou na hora, outra vez. Senti que iria pôr tudo para fora e me afastei dela, mas ao invés de vomitar, isso não estava bem, nada bem. Tudo estava ficando embaralhado e confuso.

Amnésia | GicelaOnde histórias criam vida. Descubra agora