A Conversa

2K 117 161
                                    

Gizelly Bicalho

Mariana fez questão de me deixar em casa após rodarmos praticamente o shopping inteiro. Se tem uma coisa em que ela não mudou nada, é em gastar dinheiro. Mari sempre esbanjou dinheiro por aí, ela não se importa com as contas em seu cartão de crédito. Eu já sou o contrário, não gosto de gastar muito. Não vejo necessidade, mas cada um com seus costumes. 

Acho que nunca, nesses vinte e oito dias, me senti tão feliz em voltar para a casa. Meus pés estão latejando, e eu não aguento mais esse casaco enorme. Está de noite, as luzes de minha casa estão acesas. Não faço ideia se Marcela já está em casa ou se ainda está no estúdio. Adentro a casa e logo sinto cheiro de biscoitos de banana com chocolate, são inconfundíveis. 

— Mamãe chegou. 

Júlia grita do sofá assim que me vê na porta, abro um sorriso, deixo as sacolas caírem aos meus pés e me abaixo para abraça-la. Minha filha agarra meu pescoço e eu aspiro seu perfume, perfume esse que parece o de Marcela. Levanto do chão com a pequena, dou milhares de beijos em sua bochecha, ela gargalha de olhos fechados. 

— Que saudade, meu amor. — A abraço com mais força, sentindo o calor do corpinho dela. Não existe sensação melhor do que abraçar minha pequena, é uma coisa inexplicável. Um sentimento tão forte que sufoca. — Sua mãe está em casa? 

— Foi preparar chocolate quente. — Responde quando a coloco no chão, ela não me dá nem tempo de retirar meus saltos e já saí me puxando em direção a sala. — Vamos assistir um filme, vem assistir com a gente. 

Na mesa de centro vejo uma bandeja grande cheia de biscoitos com gotinhas de chocolate. Um dos meus favoritos, impossível não reconhecer o cheiro de longe. Sento-me no sofá, Júlia senta em meu colo, de lado com a cabeça deitada em meu peito. 

— E está prontinho... — Marcela aparece na sala e se surpreende ao me ver ali. — Chegou agora? Nem ouvi barulho de carro do lado de fora. 

— Acabei de chegar. — Júlia desce de meu colo e vai até a mesa de centro para pegar uma das canecas que Marcela trouxe. — Cuidado para não queimar a língua. 

— Pode deixar. 

Ela diz e senta no chão ao lado da mesinha de centro, as pernas cruzadas em forma de índio. Volto a olhar para Marcela que está de pé ainda, olhando-me. 

— O que foi? 

— Deveria ser tão erótico você toda séria assim? 

Arregalo os olhos ao ouvi-la, Marcela vira a cabeça um pouco de lado e fica me observando. Meu rosto começa a esquentar, minhas bochechas devem estar da cor de uma pimenta malagueta. Ela abre um sorriso, maldita! Então esse é o jogo dela? 

— Mamã... — Desvio o olhar daquela sem vergonha e olho para Júlia, que está de lado assoprando o chocolate na caneca. — O que é eroti... Erotic... Isso ai que a senhora disse. O que é? 

Meu queixo caí um pouco e olho para Marcela, que está tão, ou mais boquiaberta que eu. Mas então sorrio, bem feito. Ninguém mandou ficar falando esse tipo de coisa, ainda mais perto da nossa filha.

— É mamãe, o que é erótico? 

Sorrio cínica para Marcela, que fecha a cara e me fuzila com o olhar. Ela respira fundo e olha para Júlia, a pequena está com o olhar vidrado nela esperando a explicação. 

— Erótico é... Hm, é... Uma coisa... Como eu posso explicar. — Começa a gesticular e se atrapalhar com as palavras, deixo uma pequena risada escapar e ela me olha como se tivesse lazer em seus olhos. — Quando você tiver mais idade eu te explico. 

Amnésia | GicelaOnde histórias criam vida. Descubra agora