Segredos

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Gizelly Bicalho

Depois do jantar, subi para colocar Júlia na cama, mas ela estava inquieta, não queria dormir antes de dar um beijo em Marcela.

— Mamãe chama a mama pra vir me dar um beijo de boa noite, por favor. 

Implora com os olhinhos brilhando. Como negar algo para ela? Se ela me olha com esses olhinhos castanhos tão lindos e essa carinha fofa, como? É impossível. 

— Tudo bem. — Concordo e ela sorri, pega a chupeta e coloca em sua boca. Preciso começar a ensinar ela a dormir sem isso, já passou da hora dela largar a chupeta. — Já volto. 

Ela apenas acena e agarra o tigre de pelúcia que está em seus braços. Levanto-me do chão e saio do quarto, a porta do quarto onde Marcela dorme está aberta, o que quer dizer que ela não está ali. Desço as escadas em busca de dela, nada na sala, penso em ir ao seu escritório mas, ao ver a luz da cozinha acesa deduzo que ela está la.

— Má...

Me calo ao me deparar com aquela cena, engulo seco e travo no lugar. Marcela está encostada em um dos balcões da cozinha, ela lê algo em seu aparelho celular enquanto come alguma fruta que está no pequeno pote verde ao seu lado. Mas o que me chamou a atenção não é o que ela está fazendo e sim a forma que ela está vestida. Pigarreio e balanço a cabeça, tentando em vão desviar a atenção de suas pernas.

— Que susto. — A voz alarmada de Marcela me faz voltar a olhar seu rosto, ela está com uma mão na boca e os olhos meio arregalados. — Desculpa, você me assustou, amor. 

Amor... 

Poderia até tentar pensar em alguma coisa mais coerente, mas por que raios as pernas dela parecem tão atrativas? Por que Marcela está usando essa camisola, robe, não sei o que é. E por que eu simplesmente não consigo raciocinar ou ter reação de não olhar para ela?

Marcela parece ter algum tipo de áurea sexual que te atraí como um imã. Não é porque não me lembro de alguns anos da minha vida que parei de apreciar a anatomia feminina, afinal, sempre gostei de admirar as garotas da escola. E admito... Marcela sempre foi uma delas.

Mesmo sendo irritante e idiota, Marcela sempre foi linda. Confesso. 

— Ou? Tudo bem? — ela estala seus dedos em frente ao meu rosto, salto com o susto e quase caio no chão, mas Marcela me segura pelos ombros. — Está sentindo alguma coisa? Você está meio pálida.

Sua voz demonstra preocupação, balanço a cabeça negativamente. Ela então solta meus ombros e dá um passo para trás, mantendo o olhar em meu rosto, estudando-o com cautela, como se estivesse se certificando de que está mesmo tudo bem comigo.

— Eu estou bem, eu só... 

— Quer cereja? — Marcela me interrompe, olho para ela e a vejo pegar o mesmo potinho que vi antes. — Essas estão doces, do jeito que você gosta.

Ela pega uma cereja e leva até sua boca, seus lábios envolvem a pequena fruta e ela fecha os olhos para saboreá-la. Meus lábios se abrem um pouco sozinhos, minha respiração falha e tenho que me controlar para não pensar besteira alguma. Por que de repente tudo em Marcela me faz pensar em algo sexual?

Foi a maldita dança... Maldita Bachata! 

— Eu não quero, não, obrigada. — Finalmente consigo dizer, Marcela dá de ombros e pega outra cereja. — Eu vim te chamar, a Júlia pediu que você fosse dar um beijo nela de boa noite.

— Hm. — Ela se afasta do balcão e deixa o pote em cima do mesmo, limpa a boca com as costas de sua mão. — Eu esqueci de ir lá falar com ela.

Amnésia | GicelaOnde histórias criam vida. Descubra agora