Que Caixa?

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Marcela McGowan

Dou um beijo na testa da minha filha, que já dorme profundamente agarrada em seu leão de pelúcia. Apago as luzes do quarto, deixo apenas uma pequena luz ligada na tomada perto da porta. Ela odeia acordar no escuro, e caso ela acorde de madrugada não quero que ela acorde assustada. Olho uma última vez para a pequena dormindo...

Fecho a porta devagar, estico bem os braços e ouço os ossos da minha coluna estalando. Não foi nada confortável ficar minutos na mesma posição com uma criança pesada no colo, mas vale á pena. Adentro meu quarto e vejo Gizelly distraída comendo uma maçã e lendo um livro, sorrio para a imagem fofa dela entretida na leitura. O biquinho em seus lábios e a testa franzida, o modo como ela resmunga consigo mesma. Deuses! Ela é perfeita, e eu sou estupidamente apaixonada por ela. Completamente, por cada detalhe. 

Desde a primeira vez que a vi naquele colégio, toda cheirosa, parecia uma daquelas garotas estudiosas. Quando ela começou a gritar comigo por ter derrubado os livros dela, eu só conseguia pensar em como eu gostaria de beijar os lábios dela. Tão lindos e atrativos, eu pensei que deveria ser uma delicia chupar eles e pegar naquele cabelo dela. Por tanto tempo eu desejei poder ter aquilo, que quando tive a primeira vez nem consegui aproveitar. Mas graças ao destino, aqui estamos nós duas. Ela é minha esposa agora, mãe da minha filha. E a mulher da minha vida. E porque não dá eternidade.

— Vê se não deixa calcinha pendurada no banheiro, ou eu vou começar a jogar elas lá no quintal.

É impossível não rir dessa fala dela. Gizelly tem falado para eu não fazer isso há semanas, mas me dá preguiça de pendurar as calcinhas. Às vezes faço para irritar ela, confesso.

(...) 

Após terminar meu banho, saio do banheiro enrolada na toalha. Gizelly continua lendo aquele livro, a maçã já acabou. Parece bastante entretida na leitura, mas eu quero que ela preste atenção em mim. Só preciso de uma idéia.

Já sei! 

Volto para o banheiro e pego um frasco de hidratante. Lembro bem que ela adorava esse em especial, um que comprei de uma moça que foi na minha galeria uma vez. É de morango, bastante cheiroso. Mantive contato com ela apenas para conseguir mais dele. E claro, queria agradar minha esposa.

Gizelly continua distraída com seu livro, sorrio maliciosa enquanto caminho em direção a cama. Me sento na beirada da mesma, de costas para ela. Coloco um pé apoiado no colchão e coloco um pouco do creme em minha mão, esfrego uma na outra e depois passo em minha pele. O aroma adocicado de morango começa a tomar conta do ambiente, é realmente cheiroso. Aliso devagar meu tornozelo, passo para os pés, depois subo e vou até a coxa. 

— Que cheiro gostoso. – Ouço-a comentar e inspirar com força em seguida, seguro meu sorriso de satisfação e continuo passando o creme. — O que é? Frutas vermelhas? 

— Morango. - Mantenho a voz no tom normal, coloco mais creme em minha mão e repito o mesmo processo na minha outra perna. — Pode passar nas minhas costas? 

Olho por cima do ombro e balanço o frasco de creme, Gizelly demora alguns segundos para responder, parece hipnotizada com algo. Sorrio de lado, ela fecha o livro e o coloca sobre a mesa de cabeceira. Solto um pouco a toalha e deixo-a deslizar pelo meu corpo até parar em meu quadril. O colchão se movimenta atrás de mim, Gizelly pega o frasco da minha mão e senta atrás de mim.

— Quer uma massagem também? 

Meus pelos se arrepiam um pouco com a voz dela soando baixa em minha orelha. Fecho os olhos e respiro fundo, maldita! Ela não pode simplesmente virar o jogo, e o pior, sem perceber. Apenas aceno com a cabeça. Segundos depois sinto o contato de suas mãos quentes cobertas pelo creme gelado em minha pele, suspiro. Impossível não gemer quando ela começa a apertar meus ombros e girar os polegares, tocando os pontos certos. Gizelly sempre foi ótima com as mãos e os dedos, eu bem sei disso. 

Amnésia | GicelaOnde histórias criam vida. Descubra agora