Saudade

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Marcela McGowan

Sexta-feira, dia 3 de Abril 

Pisar na minha terra nunca foi tão bom como está sendo agora. Por sorte eu consegui agendar um voo que chegaria um pouco tempo depois do horário que Júlia sai da escola, ou seja, poderei matar a saudade da minha princesa e da minha esposa ao mesmo tempo. É maravilhoso, não é? Acredite; você nem imagina o quanto. 

Ao adentrar o aeroporto, logo começo a procurar por Gizelly e minha filha, de primeira não as vejo em meio a todas as pessoas que transitam por ali, mas logo as vejo. Minha esposa e minha filha também estão me procurando, não demora muito para que os olhos castanhos achem os meus. Mesmo de bem longe vejo o sorriso quase rasgar a face de Gizelly, ela diz algo para Júlia e aponta na minha direção. A pequena demora um pouco a me achar, aceno para ela e solto a mala quando ela começa a correr em minha direção.

- Uh! - Exclamo assim que o corpo dela colide com o meu, o baque foi tão forte que me desequilibrei um pouco. Sinto como se tudo tivesse voltado a fazer sentido, como se meu coração finalmente estivesse batendo outra vez. Sem dúvidas, não existe coisa melhor que voltar para casa. - Que saudades, meu amor. Meu Deus.

- Nunca mais vai embora, mamãe. Nunca mais. 

Ouvi-la implorando desse jeito com tanto desespero na voz faz eu me sentir péssima. Entendo porque ela é muito pequena para entender minhas razões para ter viajado, mas um dia ela entenderá. Porém, não sei se farei outra viagem dessas, mesmo que o dinheiro seja tão bom assim. Ou quem sabe eu possa ir com elas? Foi horrível ficar sem minha família.

- Eu prometo que nunca mais faço isso.

Júlia se afasta um pouco de mim, olho para ela e a vejo erguer a mãozinha com o dedo mindinho levantado. Seus olhos avermelhados e o bico em seus lábios, tão adorável. Parece uma miniatura minha.

- De dedinho? 

- De dedinho, pequena. - Entrelaço nossos dedos e sorrio para ela. – Você cresceu. 

- Mamãe disse que já estou do tamanho de uma mulher.

Empina o nariz e faz uma pose de "mulher'', acabo rindo disso e bagunço seus cabelos. Impressão minha ou o cabelo dela parece menor? 

- Será que tem espaço para mim também?

Afasto-me um pouco de Júlia e olho para bela mulher parada um pouco à frente de nós duas. Meu coração dispara dentro do peito, que saudades eu senti de ver minha esposa. Júlia dá espaço para mim como se soubesse o que eu iria fazer. Fico de pé, mas antes de ir até Gizelly, meus olhos caem para algo em suas mãos. Simplesmente um buquê enorme de flores brancas. 

- Gi... - Sinto meus olhos lacrimejarem, minha esposa sorri e anda em minha direção. 

- Bem vinda de volta, amor da minha vida. 

Ela me estende o buquê e eu prontamente o pego, fico admirando por um tempo as flores. Volto a olhar para Gizelly, ela me olha com um sorriso apaixonado e os olhos brilhando. Abro os braços e não demora mais que meros milésimos de segundos para que minha esposa agarre meu pescoço.

- Que abraço gostoso. - Murmuro contra seus cabelos. Gizelly está me apertando com mais força do que deveria, tanto que já está doendo um pouco. Mas não me importo, senti tanta saudade dela que realmente não me importo em ser sufocada agora. - Não sabe quantas saudades eu senti disso. - Ela esfrega o rosto em meu pescoço, é possível ouvi-la inalando meu perfume, como se quisesse matar a saudade dele. - Chora não, meu amor. 

- Eu-eu. - Ela gagueja, apertando-me mais ainda contra ela. Sinto duas mãozinhas em minha mão e sinto alguém pegar o buquê, olho por cima do ombro de Gizelly e faço um sinal de positivo para Júlia. - Eu amo você, eu amo você, eu amo você. 

Amnésia | GicelaOnde histórias criam vida. Descubra agora