Outra Vez

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Gizelly Bicalho

Tenho que confessar, essa conversa com a Josiane me ajudou bastante a esclarecer algumas coisas. E me sinto cada vez mais segura de que ficar ao lado de Marcela, me deixar envolver, é o certo a se fazer. Afinal, nos damos bem, agora pelo menos. Marcela me faz bem, e preciso dizer outra vez, ela me passa uma segurança incrível. E agora, ela precisa de mim. Do mesmo jeito que eu sou a parte dela que transborda, ela é a minha sem dúvida nenhuma.

O resto da noite, até a hora da ceia, continuou animado da mesma forma. Todos pareciam felizes ali, e faziam de tudo para ver Marcela melhor. Eu sabia que tinha sido a melhor escolha fazer a ceia de natal em casa. Ficou decidido que a troca de presentes só aconteceria amanhã, pois já estava tarde demais e algumas pessoas estavam cansadas. Mas todos voltariam no dia seguinte, claro. No final da noite, apenas sobrou, Marcela, Júlia e eu.

— Mamãe, eu acho que estou com sono. 

Ouço Júlia resmungar sonolenta e a vejo praticamente se arrastando em direção a Marcela, que está no sofá sentada. Ela a pega pelos braços e a coloca em seu colo.

— Você acha?

— Acho. 

Ela sorri sapeca e esconde o rosto no pescoço de Marcela, me sento ao lado das duas e ela me puxa pelo ombro, fazendo-me deitar a cabeça em seu ombro.

— Vamos subir, o princesa? Antes que você durma aí. – Me solto do abraço dela e levanto, Marcela faz o mesmo, trazendo consigo Júlia, que está agarrada em seu pescoço. — Me ajuda a colocar ela para dormir? 

— Claro.

Concordo e a acompanho até o segundo andar de nossa casa. Depois te ter tomado um banho rápido e escovado os dentes, sendo supervisionada por Marcela, Júlia volta para o quarto. Cheirosa e vestido com um pijama rosa cheio de flores coloridas estampadas. Sorri para a imagem da pequena sonolenta, ela esfrega os olhinhos com suas mãos e depois pega impulso para subir na cama. 

— Boa noite, meu amor. – Marcela deseja e dá um beijo em sua testa, depois a cobre. Nossa filha boceja rapidamente e deita de lado. — O que foi? 

— Mama, mamãe... Eu sei que eu vou ganhar meu presente de natal amanhã, mas eu... Posso pedir só mais uma coisa? 

Me aproximo da cama para ouvir seu pedido, me ajoelho ao lado de Marcela. 

— O que você quer, filha?

— É que... – boceja mais uma vez. — O Diego me disse que vai ganhar um irmãozinho. Por que eu não ganho um irmãozinho também? Eu sou uma boa menina, eu queria ganhar um irmãozinho do Papai Noel também. Eu não sou uma menina ruim, eu mereço um.

Oh... Jesus.

Marcela abaixa a cabeça e ouço ela respirar fundo, como se estivesse se controlando. Pressiono os olhos e praguejo em pensamento. Sei que ela não fez de propósito, mas esse não foi o momento ideal para um pedido assim. Ainda mais na frente de Marcela. Droga. 

— Depois nós conversamos sobre isso, tudo bem? Agora vai dormir. – Ela apenas concorda com a cabeça de olhos fechados, parece cansada demais. O dia foi mesmo exaustivo. — Boa noite, pequena.

Marcela levanta do chão com uma rapidez que até me faz piscar os olhos. Suspiro, já sabendo que teria que lhe dar suporte outra vez. Ela estava indo bem, o dia todo sem lembrar do que aconteceu. Apago a luz do abajur e me levanto do chão, saio do quarto de Júlia sem fazer barulho. Ouço o barulho de algo se quebrando no quarto, meu corpo entre em alerta e eu logo corro para lá. Marcela está de pé, um pequeno jarro de flores está espatifado perto da porta do banheiro. 

Amnésia | GicelaOnde histórias criam vida. Descubra agora