Eu vou recuperar a minha memória?

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Gizelly Bicalho

Sabe aquela sensação de estar dormindo e sentir tudo que acontece ao seu redor?

Assim eu estou me sentindo.

Ouço vozes e sinto meu corpo se mover, como estivesse saltando. Isso é efeito de alguma droga? Abro os olhos assustada, a possibilidade de eu estar drogada era alta já que minha vida deu uma volta sinistra. 

― Mamãe!

Um gritinho e logo em seguido algo cai em cima de mim. Conheço essa voz, e conheço esse cheiro de bebê. Antes eu odiava que me acordassem, ainda mais assim, gritando e pulando em cima de mim. Porém agora estou sorrindo, mas também, é ela, a pequenina encantadora que me enche de alegria sem nem se esforçar. Não sei explicar, mas parece que a cada novo dia um sentimento maior por ela cresce dentro de mim, eu a amo, sei que sim, eu sinto isso. Rafa disse que é meu instinto materno, mesmo eu não lembrando das coisas ainda assim a reconheço como filha. 

Talvez seja verdade.

― Bom dia pra você também, Juju.

Finalmente abro os olhos por completo e olho para baixo, ela está com o queixo apoiado em minha barriga e seus joelhos apoiados ao lado de meu quadril. Ela sorri ao me ver acordada e se arrasta para cima, até que sua cabeça esteja em meu colo. 

― Bom dia, mamãe.

― Júlia, vem aqui. – Marcela aparece irritada, o corpo da minha filha enrijece sobre mim e segundos depois a porta é aberta bruscamente. É... Ela parece mesmo irritada a julgar pela cara fechada e rosto vermelho. ― Por que você saiu correndo, mocinha? Eu te disse que não era para acordar sua mãe.

Ela a repreende fazendo Júlia esconder o rostinho na curva entre meu ombro e pescoço, sinto dó por ela, Marcela parece assustadora falando assim. Acaricio as costas da pequena e beijo seus cabelos.

― Mas hoje é dia de dançar na chuva.

Ela fala abafada já sua boca está pressionada em meu pescoço, olho curiosa para Marcela, ela passa as mãos no rosto e nega com a cabeça.

― Dia do que?

Pergunto confusa, seria isso um tipo de código ou programa em família?

― Dia de dançar na chuva. – Marcela responde e vem até a Júlia e eu, ela segura pela cintura e a puxa para cima, Júlia tenta em vão se segurar em mim. Penso em pegá-la e deixá-la aqui, porém ela está rindo, parece estar gostando disso. Marcela a segura contra seu corpo e olho para a pequena só então noto que ela está vestindo apenas um pijama de algum desenho animado. ― Você senhorita vai tomar seu banho, e depois nós vamos conversar sobre você me desobedecer.

― Não precisa brigar com ela também, ela é só uma criança. 

Falo sem pensar e Marcela me lança um olhar que faz com que eu deseje sumir dali naquele momento. Ela sustenta esse olhar sério durante alguns segundos e sem dizer nada apenas coloca Júlia no chão, a pequenina acena para mim e depois sai correndo do quarto.

 ― Ela é uma criança sim, Gizelly Bicalho, mas ela precisa saber que não pode desobedecer as pessoas. Então não me repreenda na frente dela outra vez, porque ela vai achar que está certa e vai fazer sempre, a não ser que você queira uma criança mimada que te responde.

Ela está completamente séria, os braços cruzados abaixo de seus seios. Me sinto como uma criança levando uma bela bronca dos pais. Marcela consegue assustar as pessoas quando fica assim.

― Desculpa.

Ela suspira e seu rosto suaviza a expressão, morde o lábio e depois nega rapidamente com a cabeça.

Amnésia | GicelaOnde histórias criam vida. Descubra agora