Capítulo 5

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Na empresa, a imagem ranzinza que eu tinha era de grande ajuda. Todos se punham a trabalhar quando eu estava chegando, e os resultados era arrancados com muita persistência. Apesar disso, havia muitas pendências, e eu tinha outras coisas para cuidar. Minha empresa de construção, a centenas de quilômetros, ainda dependia da minha presença. Em alguns dias, eu teria que voltar lá para resolver questões.

Mas uma coisa inédita na minha vida aconteceu: eu decidi emendar essa viagem nuns dias de férias, e pensei em levar companhia. Teria, claro, que combinar com a "companhia", saber de seu entusiasmo e disponibilidade, e só então fazer reservas. Como sou metódico demais, comecei a fazer pesquisas e planejamentos, e isso me deixou mais leve no trabalho.

Quando foi levar documentos para que eu não precisasse me deslocar demais, Robson, o gerente, viu na tela de meu computador minha mais recente pesquisa.

— Bom lugar! — disse ele.

— Conhece?

Em outro momento, eu não daria assunto, mas não podia perder aquele conhecimento de causa disponível e sincero.

— Sim. Passei minha lua de mel aí.

— Hum. — Desanimei. Não queria algo tão explícito. Abri outras opções.

Felizmente, lugares e datas estavam amplamente disponíveis, e a viagem só dependia de mim e da pessoa que eu pretendia convidar. Porém, o timing do convite estava longe de acontecer. Se eu convidasse o Andy para viajar comigo, ele me riria na cara. E era nele que eu estava pensando.

Dias depois, Andy aceitou meu convite para assistir mais filmes, e foi por conta própria, sem que eu fosse buscá-lo. Era uma quarta-feira, e tinha feito calor durante o dia, então ele chegou sem seu trench coat, usando camiseta branca com uma estampa colorida, calça preta e botas. Estava com os cabelos soltos, leves e louros, ainda mais louros do que antes, e eu pensei que se ele precisasse usar o transporte público, muitas pessoas o confundiriam com uma mulher. Tomei coragem num momento em que ele escolhia que pizza íamos pedir, e perguntei.

— Andy, você anda de ônibus?

Ele respondeu sem me olhar.

— Às vezes, para trabalhar. Por quê?

— E ninguém te chama de gatinha?

— Ah, isso! Sim, sempre! É normal, sabe. Tenho um amigo hétero que tem cabelos longos e é mais baixo do que eu. Imagine as cantadas que ele recebe.

— Imagino.

— A vontade de tirar meu porte de armas é grande. Rom pom pom pom! — ele deu uma risada. — Brincadeira!

Eu não estava familiarizado com o termo, então me limitei a sorrir.

Por causa dos filmes, Andy achou melhor pedir pizza ao invés de eu cozinhar para ele, e eu fiquei impressionado com a sua fome quando a encomenda chegou. Ele comeu a maior parte. Tive ensejo de perguntar para onde ia aquilo tudo, já que ele, apesar de ser alto, não pesava mais de sessenta quilos. Não fiz a pergunta porque estava me patrulhando para não ser inconveniente demais.

Foi ele quem escolheu o filme, mas não ficou muito concentrado nele. Conversamos a maior parte do tempo, e quando nos deitamos próximos, nos beijamos. Foram alguns poucos beijos, os quais eu mesmo tomei a iniciativa. Andy não forçou nada dessa vez. Em certo momento, o beijei na nuca, porque ele estava de costas na minha frente, e ele ficou todo arrepiado.

— Gosta disso? — perguntei, alisando um dos seus braços.

— Todo mundo gosta.

Fiquei um tempo em silêncio, pensando no que dizer. Aquela viagem não saía da minha cabeça, mas seria o momento adequado? Eu sabia que não era, mesmo assim...

Depois da Tempestade - DEGUSTAÇÃO Onde histórias criam vida. Descubra agora