Capítulo 6

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Pouco depois, Andy chegou e começou a me ajudar.

— Ciúmes, baby? — ele falou, me cutucando e rindo.

Não respondi.

— Por que não se sentou com a gente? Ia ser divertido.

— Não sou bom nisso, Andy. Eu sou um lobo solitário.

— Você é um gato melindrado e todo mundo vê isso.

Suspirei profundamente. O vi com taças sujas de vinho na mão e me adiantei para pegá-las.

— Não precisa fazer isso, Andy, vai sujar sua roupa.

— Eu pego uma sua depois. Posso?

Sorri, um pouco irritado.

— Não sei. Você é muito magro.

— E você é um fofo. — Ele me deu um abraço pelas costas. — Vamos dançar?

— Dançar? Você está de brincadeira, né?

— Não. Se segure em mim. Vem!

Ele me puxou, então enxuguei as mãos e me deixei levar. Ele pegou meus braços e pôs sobre seus ombros e começou a cantar em meu ouvido. Se movia lentamente, num ritmo que eu conseguia acompanhar, me fazendo imitá-lo. Fechei os olhos sentindo o nervosismo dar lugar a um sentimento melhor. Aproveitei o contato. O abracei e pus ao nariz em seu pescoço. O cheiro dele sempre me inebriava.

Ouvi passos se aproximando e quase travei porque tinha certeza de que a Lídia iria encher o saco mais tarde, mas me mantive como estava, sendo conduzido por Andy e de olhos fechados. Minha prima chegou e saiu sem dizer nada.

Não reconheci nenhuma música que Andy cantou — todas em inglês —, mas gostei do som da sua voz no meu ouvido, e sua respiração tocando meu rosto. Senti vontade de beijá-lo, e fiquei só na vontade. Não me atrevi a interromper seu momento musical. Eu não estava alterado pela bebida, pois tinha tomado apenas algumas taças, mas ele estava bem perto da embriaguez. Às vezes ele ria no meio da música, e às vezes ficava mole e falava coisas sem sentido. Num momento, quase caímos juntos, e ele riu alto. Me ajudou a encostar na bancada, e se abaixou no chão.

Lídia voltou para ver o que estava acontecendo. Tinha uma falsa cara de preocupação. O que ela estava sentindo era curiosidade, apenas. Eu a conhecia.

— Está tudo bem?

— Está. — E eu pensei em como seria ótimo se ela não tivesse vindo para ficar. Olhei para o relógio da parede. — Quer ir dormir? Está mais do que na hora.

— Sim, estou com sono.

— Vou ao quarto contigo.

— E ele? — ela apontou Andy, que se levantava ainda rindo.

— Eu vou embora — disse ele.

— Não vai não. Está tarde e olha o seu estado.

— Uber! Eu deixo você pagar, daddy.

— De jeito nenhum! Vem comigo.

Peguei-o pela mão e o levei ao meu quarto. Ele deu um assovio quando entrou.

— Fique à vontade que eu já volto.

— Eu vou dormir aqui?

— Isso. Pode ir ao banheiro. Nossa, você está péssimo!

Deixei-o no meu quarto e fui verificar a porta de entrada. Estava aberta. Fechei-a, apaguei as luzes da sala e guardei um pouco das coisas que tinham ficado na bancada da cozinha. Restos de vinho e de outras bebidas, restos de salada, temperos. Juntei os últimos copos perdidos e os coloquei na pia.

Depois da Tempestade - DEGUSTAÇÃO Onde histórias criam vida. Descubra agora