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Andy tinha se lembrado da minha existência depois de vários dias, ainda que de uma forma muito genérica e contida.
"Oi!" — essa era a mensagem.
Era menos do que eu gostaria, mas era uma mensagem depois de dez dias de silêncio! Isso tinha que ser alguma coisa! De tão simples a mensagem, eu nem soube o que responder. Só consegui imitar a simplicidade.
"Oi"
"Ainda está chateado comigo?" — Ele mandou logo em seguida.
Então o "oi" era apenas uma sondagem discreta? Droga, isso era algo que eu mesmo poderia ter feito antes! Ou não. Eu não devia insistir quando não era bem recebido. Eu fiz bem em esperar. Respondi com os dedos trêmulos.
"Não estou chateado" — E não estava mesmo. Eu só estava perdidamente confuso por esse sumiço dele, além de estar dopado por analgésicos. Tomei um susto quando fui ver as horas no celular e soube que era domingo.
"Não tenho te visto na cafeteria..."
"Não estou indo lá por esses dias".
Ele tinha notado a minha ausência? Isso era um bom sinal. Sorri e passei a mão pelo rosto. Alcancei os óculos de leitura, que estava na mesinha amarela ao lado do sofá, e coloquei. Senti sede e tomei a água já em temperatura ambiente que estava ao lado dos óculos.
"Por quê? Não quer me encontrar? Sei que eu tenho sido meio ausente, FDP contigo, mas eu pensei que se a gente se topasse por lá..." — Ele parou por aí e não me deixou saber o que ele estava pretendendo.
Nessa altura, eu já estava lúcido e não apenas respirando.
"Não estou fugindo de ti. É que estou trabalhando em outro lugar."
Eu poderia ter dito a verdade. Andy sabia bastante sobre mim, sobre meu problema de nascença e minhas quatorze cirurgias. Ele só não sabia que o problema era maior ou menor dependendo de inúmeros fatores. Preferi não entrar em detalhes e parecer carente de atenção. O que, de fato, eu estava.
"Mudou-se?"
"Não. É temporário." Depois, emendei: "Eu espero".
E esperava mesmo. Eu sentia falta até mesmo do barulho do ar condicionado do escritório.
"Aconteceu alguma coisa?"
"Acontece, às vezes. Vai passar."
"Fique à vontade para se abrir. Se houver algo que eu possa fazer por você..."
Suspirei pensando no que ele poderia fazer. Eu não gostava de receber visitas quando estava acamado, nem mesmo a minha mãe ficava sabendo das crises, mas só de pensar no Andy eu já me sentia melhor. Nem o fato de ele ter me ignorado por todos aqueles dias me incomodava. Sobre isso, sutilmente eu perguntaria o que tinha acontecido. Se quisesse, ele me contaria. Se não, estava tudo bem. Eu não iria perder tempo com indagações.
"Tem uma coisa sim que você pode fazer por mim. Venha aqui hoje à noite. Ou quando preferir. Eu estou ficando em casa o dia todo".
"Tem certeza de que não me quer longe?" — ele perguntou. Enviou carinhas de riso e o macaquinho cobrindo os olhos.
"Tenho certeza de que te quero perto. Senti a sua falta.".
"Também senti a sua. Então você me busca mais tarde? Às sete, por exemplo?"
"Mando o Uber."
"Combinado".
No mostrador do celular, eram ainda três da tarde, e já que eu estava acordado, decidi tentar trabalhar um pouco para me sentir menos inútil.
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Depois da Tempestade - DEGUSTAÇÃO
RomanceATENÇÃO: ESSE LIVRO NÃO ESTÁ COMPLETO NO WATTPAD DEVIDO AO CONTRATO COM A AMAZON. AMOSTRA DE 16 CAPÍTULOS. Lothar é um homem solitário, que caminha com dificuldades, e que nunca se apaixonou de verdade. Seu único romance foi na adolescência, quan...