Capítulo 15

149 24 58
                                    


Ele é casado...

Andy é casado.

Eu continuei a tomar o milkshake como se não tivesse ouvido nada. Sabe quando alguém te dá alguma informação tão absurda que você não tem vontade nem de retrucar? Foi assim que aconteceu. Eu entrei no modo desligamento. Me lembrei de um filme que tinha assistido na noite anterior. Nele, Bruce Willis era um agente da CIA e levava uma vida dupla. A esposa e o filho não sabiam a verdade. Merecidamente, ele morreu na história.

— Você entendeu, Loth? — Lídia insistiu. Seu olhar demonstrava pena, e isso me irritava.

— Sim.

— Andy é...

— Eu ouvi, Lídia! Por favor, vamos mudar de assunto.

— Você não acha melhor...?

— Não! Seja lá o que for, não!

— Você quer ficar sozinho?

Não respondi. Ela ficou ao meu lado mais um pouco, tentou ser solícita, depois saiu. Foi para o quarto. Nosso clima de comemoração tinha acabado. Droga, aquilo não deveria estar acontecendo!

Me sentei na cadeira em frente à vidraça. A vista dali era linda. Peguei o telefone. Os dedos treinados digitaram sem que eu precisasse olhar para a tela.

"Insisto no restaurante amanhã" — enviei para Andy.

"Tem certeza?" — ele respondeu pouco depois.

"Sim. Precisamos conversar, e eu sou nostálgico".

"Ok"

Ficamos por aí mesmo. Logo Andy não estava mais online. Foi bom para que eu não cedesse à tentação e me arriscasse continuar puxando conversa.

Fiquei ali por bastante tempo. Nem sei dizer o quanto. A noite fechou e uma chuva fina molhava o terraço e fazia gotas no vidro. As gotas escorriam e se juntavam à outras gotas. As plantas cuidadas por dona Soraia pingavam.

Massageei as pernas por cima do tecido da calça. Parecia tudo ok. Eu passaria bem horas e horas olhando aquela cena urbana noturna, só com meus pensamentos, mas eu não queria fazer isso. Não podia fazer isso com Lídia. A gente não podia comemorar o sucesso de um negócio como se alguém tivesse morrido. Não, aquilo não podia ficar assim.

Me levantei e segui pelo corredor. Bati na porta do quarto de hóspedes. Lídia veio abrir, e havia ansiedade em seu rosto.

— Vamos ao cinema? — pedi.

Ela não entendeu logo.

— Por que cinema?

— Por favor! Eu quero ir ao cinema. Eu te chamaria para um bar se eu pudesse tomar pelo menos uma cerveja. Mas já que não posso, e não posso viajar, vamos ao cinema. A gente volta se as minhas pernas incharem demais. Por favor, vai ser divertido.

— Ah, ok! Vamos ao cinema. — Ela parecia surpresa pelo convite depois da notícia que tinha dado. — Em dez minutos eu vou estar pronta.

— Ok. Dez minutos para mim também.

Nos arrumamos rápido. Bem agasalhados, descemos juntos e seguimos para o shopping mais próximo. Lá, assistimos filmes e nos divertimos como crianças. Comemos doces, pipoca, e mais milkshakes. Por esse exagero, cheguei a vomitar no banheiro. Só voltamos para casa depois da última sessão do cinema.

Nem foi preciso pedir a Lídia que não falasse em Andy. Ela se concentrou nos assuntos da loja e em fofocas sobre parentes e conhecidos. Ela adorava fazer fofocas. Por ela, fiquei sabendo que o filho de um conhecido nosso, conhecidamente homofóbico, tinha acabado de se assumir, se tornando assunto no bairro. Internamente eu pensava que ela já tinha fofocado sobre mim para suas amigas mais próximas. Era um assunto interessante demais para ela não passar para frente.

Depois da Tempestade - DEGUSTAÇÃO Onde histórias criam vida. Descubra agora