Acordei com dor de cabeça e bastante indisposto naquela manhã. Se não tivesse compromissos urgentes, não teria nem me levantado da cama. Passado as delícias e dissabores do dia anterior, só tinha restado um homem confuso e mal-humorado, irritado com as dores nas pernas e com o efeito da bebida e dos remédios.
Lídia estava do outro lado da porta cheia de curiosidades e essa era uma das razões da minha demora em me levantar. Eu não queria falar sobre Andy nem sobre nada que tinha acontecido, seja no shopping, seja depois dele, e tinha certeza de que ela iria falar.
Inevitavelmente nos encontramos na cozinha, e vendo meu mau humor, ela se calou. Na única referência ao dia anterior, cheia de dedos, ela pediu desculpas pela intromissão e por ter estragado o meu dia. Eu a fiz mudar de assunto.
Me enfiei no trabalho porque ele precisava de mim, mas também para esquecer aqueles dilemas. Não estava tão confiante para encontrar Robson, meu vizinho, no elevador, nem Mara, que às vezes almoçava comigo. Eles fariam perguntas que eu não estava pronto para responder. E Andy? Como você o conheceu? Vocês estão juntos? Você é gay ou bi? Eu não queria falar sobre isso.
Por outro lado, esperava ansiosamente pela resposta de Andy ante o meu convite para viajar. Era algo confuso na minha cabeça. Meu bom-senso dizia não ser boa ideia, mas meu novíssimo espírito romântico desejava. Um embate dentro de mim se travava: de um lado, a razão pedindo que eu mudasse de ideia e avisasse Andy o quanto antes; de outro lado, a reavivada fagulha de calor juvenil pedindo que eu levasse aquilo em diante. A gente só vive uma vez, ela dizia.
Andy não entrou em contato naquele dia. No começo eu fiquei ansioso, nervoso, mas depois achei melhor assim. Fiz o mesmo e não o incomodei.
Quem me mandou mensagens foi Mara, minha amiga corretora de imóveis. Como fazia uma ou duas vezes por semana, ela me convidou para almoçar num restaurante próximo ao meu trabalho. Em outros dias, eu ficaria feliz com a companhia, mas naquele dia eu estava querendo ficar sozinho. Nem do escritório eu saí. Não fui à cafeteria.
Usando Lídia como desculpa, não aceitei o convite, mas sugeri o dia seguinte. Eu já imaginava qual seria o assunto durante o almoço, o assunto que eu queria guardar só para mim, mas se eu não almoçasse com ela, que era a pessoa mais próxima a mim depois do Andy, seria muita indelicadeza. Eu não queria perder uma amiga tão especial.
Mara era uma mulher grande, de voz forte, e era séria e centrada. Tinha personalidade marcante e as pessoas ou a respeitavam ou a temiam. Tínhamos nos tornado amigos desde o primeiro encontro para tratar de um negócio que acabou não se concretizando, já que a compra do meu imóvel foi um negócio interno da minha firma.
A noite foi uma solidão confortável. Lídia tinha saído para cuidar de suas coisas e só voltaria dias depois, então fiz o que fazia antes de conhecer Andy: fiz algo para jantar, li notícias no aplicativo do jornal, relaxei na sala, liguei para minha mãe. Dormi cedo. Enfim, dei uma pausa na minha ansiedade.
O restaurante onde eu costumava almoçar quando tinha convite ou vontade própria ficava a poucos metros da minha empresa. Mara chegou dirigindo quando eu estava chegando a pé. Ela teve trabalho para conseguir uma vaga no estacionamento próximo ao local.
Esperei-a. Nos abraçamos quando ela chegou. Subimos para o segundo andar, pedimos os pratos e conversamos sobre a noite do encontro. Ela fez rodeios, falou de minha prima, da amiga que tinha levado, do cardápio, mas eu sabia que não demoraria muito a chegar em Andy.
Ela estava curiosa. Nunca tinha me visto com alguém nem me ouvido falar de alguém, e felizmente nunca tinha cismado de me apresentar a alguém, por isso, o fato de eu ter um amigo tão próximo, que me beijava no rosto e claramente me despertava ciúmes era uma grande novidade para ela.
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Depois da Tempestade - DEGUSTAÇÃO
RomanceATENÇÃO: ESSE LIVRO NÃO ESTÁ COMPLETO NO WATTPAD DEVIDO AO CONTRATO COM A AMAZON. AMOSTRA DE 16 CAPÍTULOS. Lothar é um homem solitário, que caminha com dificuldades, e que nunca se apaixonou de verdade. Seu único romance foi na adolescência, quan...