Capítulo 9

118 33 168
                                    


- Pode colocar suas mãos no globo das visões – Disse Sonya para mim, quando entrei na sala de fumaça, ela já havia colocado as mãos dela no globo (que ficavam apenas atravessadas nele).

Coloquei minhas mãos no globo, como da última vez, eu apareci em outro lugar, mas já não era eu, estava no corpo de outra pessoa. Estava no corpo de uma mulher, rapidamente percebo que é Sonya alguns anos mais jovem. Ela está em um lugar meio escuro, como a sala da fumaça, sentada á uma mesa pequena. Do outro lado da mesa, tem uma mulher jovem e chorosa. O rosto dela tinha algo de familiar, talvez fosse um rosto bastante comum, mas senti que já o tinha visto em algum lugar

- Sonya, preciso saber o que vai acontecer com o meu casamento.

- Sinto muito, mas você vai acabar descobrindo que ele está te traindo uma hora ou outra

A mulher começou a chorar ainda mais alto.

- Eu dei tudo de mim por esse casamento - ela se lamentava. - melhor acabar logo com isso

A mulher colocou um dinheiro em cima da mesa e saiu da sala chorando. Em seguida, entrou outra mulher na sala

- Sonya, preciso saber o destino do meu filho - ela disse

- Sinto muito, ele não vai sobreviver à cirurgia.

A mulher ficou séria, colocou um dinheiro em cima da mesa e saiu da sala. Em seguida entrou um homem

- Sonya, preciso saber se devo continuar ou não com o meu comércio

- Lamento, aconselho que você não continue, pois o comércio irá falir. Está vindo uma crise econômica assombrar o país.

O homem sério, colocou o dinheiro na mesa e saiu.

A visão mudou. Sonya estava na mesma mesa e surgiu um homem zangado. O rosto, assim como o da primeira mulher, não me era estranho por completo, tinha algo de familiar, mas eu não conseguia saber o que era.

-Você mandou minha mulher me deixar - ele diz extremamente revoltado - como ousa dizer ás pessoas que é vidente e dizer coisas horríveis sobre a vida delas?

- Só digo o que eu prevejo. - Sonya disse. Ela tinha pensamentos de tristeza.

- Não quero saber o que você vê. Você é um demônio. Demônios tem que ser mortos.

- Não sou um demônio . - Ela disse impotente, e ele não se importou.

- Você é um demônio - Ele disse furioso, e de repente surgiu uma multidão atrás dele. Eles gritavam "demônios tem que ser mortos"

Rápidamente, o homem pegou a chave da porta da sala, que estava em cima da mesa, e saiu.

- Demônios devem ser mortos.

- Não sou um demônio. Sou uma práxi - sonya disse impotente. Ela não tentou fugir, ou resistir. Em poucos minutos, o quarto estava em chamas, ela morreu queimada e não deu nem um grito de dor. 

De repente, eu estava na sala de fumaça de novo. Sonya tinha um olhar sombrio e um pouco triste.

- No final da minha vida, resolvi tentar ajudar as pessoas contando-lhes seus destinos. Só depois da minha morte descobri que lucrar em cima de suas capacidades práxis é um crime celestial - ela olhou para mim - você em breve vai descobrir o que é um crime celestial. Apesar de ter o poder de precognição, ou videntismo, é difícil mudar seu futuro,  o destino não possui variáveis.

- O destino é só a consequência do presente. Se eu comando o meu presente, não sou perfeitamente capaz de moldar o meu futuro? - eu perguntei um pouco insegura

Ela me olhou com sobrancelhas erguidas.

- Pois então comande seu presente com sabedoria

Antes de entrar em meu quarto minutos depois, tive a certeza de que quando eu abrisse a porta, ele estaria lá esperando por mim, mas ele não estava. Sozinha no quarto, olhei para meu piano. Sentei-me em frente a ele um pouco insegura. Quando pousei as mãos sobre ele, Fur Elise veio automaticamente.

Eu já não estava nervosa, e a musica fluiu perfeitamente, com os meus dedos deslizando com facilidade sobre as notas de todo o piano, alternando constantemente as melodias lentas e rápidas. Não precisei desviar os olhos do piano para saber que ele estava lá, sua presença era muito clara para mim, era simplesmente uma energia boa. Eu conseguia senti-lo do mesmo jeito que eu sentia o calor gostoso do sol em um dia frio de inverno. Não consigo explicar, mas era uma sensação muito reconfortante.

Quando terminei de tocar a música, olhei para ele. Ele estava me olhando fixamente de um jeito intenso. Até que ele deu um sorriso. Aquilo me surpreendeu um pouco, fora a primeira vez que eu o vi realmente sorrindo, e eu jamais poderia imaginar que o seu sorriso seria tão deslumbrante. Durou menos de dois segundos, mas foi um sorriso tão meigo e sua expressão era tão encantadora, que era literalmente impossível não sorrir junto com ele. 

- Isso foi... lindo - ele disse me olhando

- obrigada - eu respondi - Pensei que você não fosse mais voltar

- também pensei em te deixar em paz. Mas sabe como é né? É muito legal te perturbar
.
Revirei os olhos com um leve sorriso

Tive vontade de saber por onde ele andou, mas resolvi não tocar no assunto por enquanto

- como estava o sorvete Alyssa? – ele perguntou meio sarcástico, provavelmente só pra deixar bem claro que apesar de eu não tê-lo visto no último dia, ele estava me vigiando, claro, eu só posso vê-lo quando ele quiser que eu o veja.

- Estava ótimo- eu disse.

- e aí, quer estudar matemática? Acho que você precisa – ele se gabou com um sorrisinho sarcástico

- claro- não que eu quisesse, mas realmente precisava.

Ficamos estudando matemática por um bom tempo. Eu tenho uma grande dificuldade para me concentrar, principalmente nessa matéria e com um garoto como Matheus ensinando, pois o sorriso dele era completamente desconcertante, e ele exibiu muito mais sorrisos do que o normal dele, naquele dia.

Ele me ensinava de um jeito muito divertido, nunca pensei que riria tanto estudando matemática. Uma hora e meia de estudos depois, resolvi ir na cozinha buscar água.

- quer água Matheus? – perguntei sarcástica, apesar de que a água atravessaria sem corpo e molharia o meu quarto, se ele conseguisse segurar o copo.

- sim, com limão, por favor - ele disse sarcasticamente.

Assim que abri a porta do quarto, me deparei com Marlene ao lado da minha porta. Ela estava inclinada em direção à porta, como se estivesse escutando a minha conversa.

- o que você está fazendo?

– com quem você estava conversando? – ela perguntou, de maneira acusadora, ignorando minha pergunta completamente.

- não te interessa o que eu estava fazendo.

- Tem alguém aí dentro?...

Então ela entrou no meu quarto, não a impedi. Ela jamais conseguiria ver o que eu escondia.

- eu estava só falando ao telefone- eu disse fazendo pouco caso e desci para beber água
Quando voltei para o meu quarto, Marlene havia bagunçado todas as minhas coisas, a procura de algo.

- Vou provar para todos o que você é – ela disse, com olhos arregalados de um jeito neurótico.

Claro, ela está sempre procurando o máximo de defeitos possível em mim, para jogar na minha cara que meu pai ama ela, não eu.

- com licença, saia do meu quarto – eu perdi a paciência, até demorou.

- Ainda vou descobrir- ela disse apontando pra mim, e saiu, finalmente.

Quando entrei, Matheus me olhou sério.

- Ela sabe...

Liguei a TV para disfarçar minha voz, caso ela ainda estivesse escutando

- Sabe o que? - perguntei, já sabendo a resposta

- ela sabe sobre sua capacidade sobrenatural - ele disse - e não gosta nada disso










Além dos CorposOnde histórias criam vida. Descubra agora