Capítulo 30

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O sorriso dela passa a ser assustador. Gelo inteiramente. Ela estaria aqui comigo, sem meu pai para controla-la nas próximas semanas, ou seja lá quanto tempo meu pai vá ficar fora.

Não acredito que havia sido tão iludida a ponto de pensar que ia me livrar dela com tanta facilidade.

Meu pai vem para perto de mim. Se ele havia percebido o enorme caos que estava acontecendo em meu interior, não demonstrou perceber ou se importar.

— Quando eu voltar, vamos recuperar o tempo perdido — Ele diz tranquilamente.

Ele se afasta um pouco de mim e eu tento sorrir, mas não consigo parar de pensar no cantarolar irritante de Marlene que vou ter que continuar escutando, mas ele aproxima a boca da parte de cima da minha cabeça e dá um beijo no meu couro cabeludo. Ok, eu não estava esperando por essa. Esperava um aperto de mão, o que já parecia demais, mas aquele gesto genuíno de carinho me pegou desprevenida.

Olho para ele surpresa e ele dá um sorriso, em seguida, se vira e anda em direção às escadas que dão para a garagem no subsolo. Estou muito surpresa para me mexer. Havia acabado de ser beijada por meu pai. Sei que não parece ser nada demais, mas para mim, que até duas semanas atrás não tinha trocado mais de uma frase com ele, era uma coisa muito chocante, e por um momento me fez esquecer da presença irritante e desagradável de Marlene ali. 

Quando volto a mim, meu pai já havia descido as escadas para a garagem e Marlene, que tinha ido até lá com ele, já estava subindo de novo.

— Que cara é essa, Alyssa? — Ela perguntou fingindo preocupação e se aproximando de mim. — Parece que viu um fantasma.

Não aguentava mais aquela mulher. Revirei os olhos, passei por ela e me tranquei em meu quarto. Matheus estava lá.

Passo por ele e vou ao closet, coloco alguma roupa de dormir e escovo os dentes. Quando volto ao quarto, ele percebe minha expressão transtornada.

— O que aconteceu? — Sua voz já me deixara um pouquinho melhor.

Me deito em minha cama e dou um profundo suspiro exasperado.

— Marlene vai ficar aqui por mais algum tempo.

Ele esboça uma expressão de angústia e raiva.

— Me conte uma história para dormir? — Eu peço baixinho. Só precisava continuar escutando sua voz, e tudo melhoraria.

Ele dá um sorrisinho.

—Tudo bem —  Ele se deita ao meu lado — Era uma vez, uma princesa chamada Alyssa.

Dou um sorriso, e ele continua.

— Alyssa era linda, e tinha uma madrasta muito malvada. Até que um dia, ela conhece um garoto chamado Matheus, e ele a ajudou a mandar a madrasta embora para bem longe. E depois, eles  vivem felizes para sempre. Fim.

A história tinha sido terrível, mas escuta-lo falar havia me ajudado a relaxar muito e fico com sono.

— Sou um grande contador de histórias, eu sei — Ele se gaba.

Sua energia positiva me deixara mais alegre, e sua voz me deixara mais tranquila, e em alguns instantes eu já estava dormindo:

"Estava sentada sozinha em um dos bancos na pracinha da rua da minha casa, onde conheci Matheus. Estava fazendo calor e era um dia muito bonito e ensolarado. Apesar disso, não tinha mais ninguém além de mim lá.

Matheus aparece andando devagar em minha direção. Ele está deslumbrante, seu rosto cheio de vida e alegria, tem um sorrisinho fraco, mas sincero. Seus olhos cinzentos brilham de um jeito que conseguem deixa-lo meigo e misterioso ao mesmo tempo.

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