Capítulo 22

8 1 0
                                    

Os braços de Sarah são cruzados à frente do seu peito, sabendo que lhe estou a esconder alguma coisa. A Sarah é a minha única amiga aqui e apesar de a conhecer há pouco tempo, desde que me mudei para a Coreia, tem me mostrado que posso confiar e contar sempre com ela.

"O que é que ele fez?"

"Nós... Eu não sei como dizer isto" pouso os hashi no meu prato e a Sarah arregá-la os seus olhos para mim. Respiro fundo mais uma vez.

"Eu e o Jimin beijámo-nos" digo e passo as mãos pela minha cara vermelha de vergonha.

A Sarah olha para mim perplexa, sem reação mesmo. Ela deixa cair os seus hashi no prato e engole em seco. A sua cabeça parece estar a tentar processar a informação que lhe dei, e por momentos ela parece uma estátua com os seus olhos fixados em mim.

"Vocês o que?"

"Eu sei... aliás, eu não sei. Aconteceu" olho para a minha sentindo-me mal comigo própria e ela parece desiludida por momentos.

"Era por isto que o Taehyung não me podia contar?" ela diz ainda chocada.

"Eu não sei. Eu nem sei que fazer, só sei que isto está errado e não deveria ter acontecido" dou um golo na minha bebida de maneira a tentar ganhar coragem para encarar a minha amiga.

"Eu nunca pensei que se passes alguma coisa entre vocês, quer dizer, vocês odeiam-se. E são irmãos!" ela reforça a última parte.

"Eu não sei como aconteceu. Eu estava cansada da minha bebedeira e tinha medo de ficar sozinha e aparecer alguém no quarto, pedi-lhe para ficar comigo até adormecer e aconteceu"

"Aconteceu? Espera. Isso foi na minha casa?" ela pergunta incrédula.

"A primeira vez sim..." digo olhando para ela pela primeira vez desde que lhe contei o que aconteceu.

"Primeira vez? Mas há quanto tempo isso dura?" ela diz dando uma dentada na sua comida e esperando pela minha resposta.

"Não dura, não existe nada" digo bruscamente. "Quando saímos de tua casa ele levou-me a um sítio, depois ao jantar bebemos mais do que devíamos e ele voltou-me a beijar"

Não sei se me sinto mais aliviada ou mais envergonhada por ter contado à Sarah. A sua cara não apresenta qualquer julgamento, mas vejo perfeitamente a curiosidade e choque na sua expressão, não a critico, eu estaria na mesma situação.

"Estou desapontada de ser a última a saber" ela diz fazendo beicinho.

"Sarah, eu não sei se ele contou a alguém, até duvido que o tenha feito. Eu não sei que fazer, quer dizer, eu nem queria contar pela vergonha que é" digo arrependida.

"Ei, comigo não tens de ter vergonha. Só fui apanhada de surpresa, pensei que vocês se odiavam"

"Eu odeio-o! Eu até mandei vídeos dele para empresas para ver se ele se vai embora!" digo irritada, mas rapidamente tapo a minha boca. Tanto os olhos de Sarah como os do funcionário estão arregalados e postos em mim, fazendo-me sentir constrangida.

"Tu o quê?" ela pergunta ainda mais espantada.

"Saah, por favor, não digas nada ao Tae.O Jimin nunca pode vir a saber disto, por favor" imploro-lhe.

"Tudo bem. Eu não vou dizer nada" ela concorda. "Oh meu deus, eu ainda estou chocada. E o que é que falaram?"

"Não falámos. Não falamos um com o outro sem ser em casos extremos" digo brincando com a comida no meu prato.

"Eu pensei que ele estivesse com aquela loira da festa. O Jimin é mesmo uma caixinha de surpresas" ouço-a dizer, mas estou perdida nos meus pensamentos e na forma como ele pegou na minha cara e juntou os seus lábios aos meus, um arrepio percorre o meu corpo e volto a mim.

"Ouviste alguma coisa do que eu disse?" a Sarah pergunta.

"Desculpa..."

"Estava a perguntar o que vais fazer agora" ela diz, o seu prato já está a mais de metade e eu parece que ainda nem toquei na minha comida.

O que penso fazer? Isso era o que eu gostaria de saber. A minha cabeça anda a mil e o facto de ter que conviver com o Jimin diariamente não ajuda, só piora a situação.

O amor por vezes acontece. Chamemos-lhe as irregularidades da vida, ou outro nome qualquer que ajude a tapar a culpa que causa em mim. Sei que quero o Jun, mas é a voz de Jimin que ecoa na minha mente. Existem as impossibilidades da vida, e a possibilidade de as fazermos. E depois existe ele, existe a sua forma de tornar tudo numa piada. Os seus avanços silenciosos. E os recuos que me matam. E depois existe o cheiro do seu perfume e o odor da sua pele. Existe o seu sorriso que me aquece a qualquer altura. E depois existe o mar, e o barulho das ondas, que comparado com a sua gargalhada me acalmam de forma igualitária. E existe o vento que o leva e que o traz. Mas que te o traz mais do que o leva. E depois existem os seus braços, e o seu peito que parece o apoio perfeito para mim, existem as suas mãos que enquanto percorrem a minha pele me mostram que tudo é possível. Perco-me nele, mesmo que seja apenas em pensamentos e à medida que mais me perco, também mais me encontro e o meu coração deixa para trás um Jun que eu queria, mas querer só não chega.

"Não há nada que possa fazer, por vezes, a ignorância é aquilo que cura. Ou que evita que tenhamos de curar algo..." os olhos da Sarah estão em mim e ela parece um pouco assustada.

"Tu estás mesmo a bater mal" ela diz pegando na minha mão.

"Como é que um erro pode causar tanta confusão dentro de uma pessoa?" digo com os meus olhos a arder.

"O melhor que tens a fazer é falar com ele..." ela diz recostando-se para trás na sua cadeira.

"Nem pensar, isso está fora de questão. Dar-lhe ainda mais razões para gozar comigo? Ele ainda é capaz de dizer que fui quem o beijou!" digo atrapalhada e meto um pedaço de comida na boca.

"E não foste?" ela dá uma pequena gargalhada sem querer. "Quer dizer, o tango só se dança a dois... Tu não rejeitaste propriamente o beijo..."

Passo as mãos pelo meu cabelo afastando-o da cara, como quem quer afastar a frustração. A Sarah tem razão, mas nunca o vou admitir. Nunca vou dar esse gostinho ao Jimin, nunca vou permitir que ele saia por cima.

O telemóvel da Sarah toca e eu agradeço por me conseguir livrar da sua pergunta. Devoro o meu prato em menos de nada, ainda não tinha reparado que estava com tanta fome. A minha amiga parece estar numa conversa com o seu namorado, apesar de não ter a certeza que é ele, o seu sorriso gigante que aparece no seu rosto quando ouve as palavras do outro lado, denunciam-na.

O rapaz do restaurante ainda olha discretamente para mim, e as minhas bochechas coram imediatamente quando reparo. O seu colega aparece por trás dele tocando-lhe no ombro e surpreendendo-o.

"Já sabes o resultado da audição?" o seu colega pergunta-lhe e ele coça a parte de trás do seu pescoço nervoso.

"Ligaram-me para passar na agência, não sei mais nada" ele diz. Não consigo deixar de ouvir a conversa deles, sempre é mais interessante que as lamechices da Sarah e do Taehyung.

Os dois rapazes continuam a sua conversa, mas sou puxada de volta para a conversa de Sarah quando ela repete a Taehyung que eu estou com ela e que alguém não está comigo. Pergunto-me se porventura o Taehyung está interessado em saber do paradeiro de Jimin. Acabo de comer o último pedaço de comida e a Sarah imediatamente pousa uma nota em cima da mesa.

"Hoje pago eu. Vamos te animar" ela levanta-se da mesa e literalmente pega-me por o braço tentando-me levantar da cadeira, não me deixando acabar a minha bebida para conseguir engolir a comida mais facilmente.

Queria-vos pedir que passassem no blog da minha amiga e dessem uma vista de olhos, tem textos muito bons e provavelmente vou incorporar alguns deles na fic!! 

Serendipity PtOnde histórias criam vida. Descubra agora