Capítulo 24

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Estou a chegar a casa e a minha cabeça só pensa em ganhar coragem para finalmente falar com Jimin e pelo menos agradecer-lhe o facto de me ter oferecido o livro. A tensão entre nós é inevitável e para ser sincera sinto até a falta dele implicar comigo, ultimamente tenho sido ignorada constantemente e quando ele me responde é apenas um aceno positivo ou negativo com a cabeça. Entro em casa e tiro os meus sapatos calçando os meus chinelos, subo as pequenas escadas do hall de entrada e imediatamente o Serendipity vem em direção às minhas pernas. Baixo-me e faço-lhe festas enquanto olho ao redor.

"Não está ninguém em casa?" digo ao meu gato pegando-o ao colo.

A minha mala é atirada para o sofá e sigo caminho escadas acima em direção ao meu quarto, sento-me na cama. O som da água a correr sai da minha casa de banho e do Jimin e imediatamente o meu coração perde a calma, é a minha oportunidade de falar com ele. Se der para o torto pelo menos os pais não estão em casa para nos ouvir.

Olho para a minha estante mais uma vez e os meus olhos não saem dos livros que o Jimin me deu, posicionados um ao lado do outro. O embrulho do livro está há dias na minha secretária e não sei bem o porquê de não o consigo deitar fora, talvez devido às palavras que lá estão escritas. Faço uma nota mental para lhe perguntar também à cerca da nota quando ele acabar de tomar banho.

Alguns minutos se passam e finalmente a torneira é desligada e a água para de correr. Olho-me ao espelho e respiro fundo depois de pegar no livro.

"Vamos lá Areum, é só uma conversa" digo a mim mesma, tentando acalmar-me.

Encho o meu peito de ar e entro casa de banho adentro, a porta do seu quarto está fechada e a minha força de vontade é tanta que entro no quarto sem bater, contudo, imediatamente me arrependo. Os olhos escuros de Jimin encontram os meus e ele parece ficar sem cor no mesmo instante. Se fosse noutro momento qualquer os meus olhos estariam postos no seu corpo musculado ou nas suas feições perfeitas, em vez disso estão colocados na rapariga que se mantém em pé à sua frente enrolada numa toalha. A minha confiança e determinação rapidamente são abaladas e nada mais que raiva cabe dentro de mim.

"Olá" a rapariga diz simpaticamente. Ainda por cima tinha de ser bonita e simpática? Espera, é a rapariga que estava na festa na casa da Sarah?

"Areum, eu..." o Jimin começa, mas eu depressa o interrompo, não deixando que os meus olhos corram o seu corpo apenas com uns boxers vestidos.

"Essa toalha é minha!?" grito incrédula quando reparo que a toalha que enrola o corpo da rapariga é a minha toalha de banho.

"Desculpa, era a que estava na casa de banho" ela diz de forma simpática.

Os meus olhos depressa ameaçam deixar cair as lágrimas que estou a guardar para mim e nem sei bem se as estou a guardar por raiva ou por outro motivo que prefiro não pensar. O Jimin continua sem dizer uma palavra, os seus olhos permanecem em mim e ele parece não saber o que dizer. Atiro o livro para cima da cama dele e olho-o com desprezo antes de sair do seu quarto. As portas por onde passo são batidas com força e no meu quarto apresso-me a arrancar as roupas do meu corpo e atirá-las para o chão com toda a raiva que consigo. Visto o meu top e uns calções e apresso-me a chegar à sala de baixo antes de explodir. Coloco os fones nos ouvidos e esmurro o saco de boxe com toda a força que tenho. O peito aperta e a sensação de desconforto aumenta. Aumento o som da música de modo a tentar desligar os meus pensamentos, mas a minha mente parece não se aquietar de modo algum. Quero descarregar tudo, quero-me libertar destes pensamentos e sentimentos negativos. Mas caio em lágrimas agarrada ao saco preso no teto. Existem tantas coisas por dizer, e tão poucas que realmente podem ser ditas. A pior dor é a que tens de sentir em segredo, sente-se tão silenciosamente que o murmúrio mata. Sinto-me dominada, fracassada e tão perdida. Sinto-me longe de mim. Sinto-me tão longe, e sinto a minha dor tão perto. O que contestar quando se encontra o incontestável? Os olhos dele têm o brilho das estrelas e eu perco-me neles.

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