Serendipity Pt

Capítulo 2

"Não vocês só podem estar a brincar. Não pensem que isso vai acontecer! Eu não vou sair daqui! É aqui que está a minha vida, a minha escola, os meus amigos!" berrei para eles enquanto batia com os punhos na mesa do jantar. A cara da minha mãe não demonstrava nada mais que preocupação e lágrimas ameaçavam cair a qualquer momento.

"Areum" começou o Sang mas eu depressa o interrompi.

"Não é Areum, queres voltar para a Coreia vai! Eu não vou, vocês não têm o direito de me fazer isto. Por favor, é a única coisa que vos peço." Sem reparar lágrimas involuntárias corriam pela minha cara.

"Desculpa Areum, é uma proposta mesmo muito boa. Assinei o contrato imediatamente... Percebo que estou a pedir muito, mas a Coreia pode-nos proporcionar uma vida que não temos aqui. Vamos ter uma casa bem maior, vamos ter regalias que aqui não conseguimos ter"

"Quero lá saber das regalias. Pensaram em sequer falar-me da proposta? Pensaram que eu podia não querer sair daqui? Não! Só vos interessa os vossos umbigos"

Corri escadas a cima e a porta do meu quarto foi fechada com força. Atiro-me imediatamente para cima da cama e olho para o teto. O quarto é pequeno, a minha cama, o roupeiro de parede, um armário e uma secretária, os meus livros estão amontoados em pilhas entre a parede e a secretária. Apoio-me nos cotovelos e os meus olhos viajam pela pequena divisão, fotografias minhas do taekwondo que estão colocadas na parede parecem agora memórias distantes, os troféus parecem ser os momentos mais felizes da minha vida neste momento. Ouço o som da campainha vindo lá de baixo mas estou demasiado ocupada na minha raiva para poder dar atenção ao que quer que seja. Dou por mim a andar de um lado para o outro no quarto e a única coisa que me apetece agora é chutar tudo o que me aparece à frente.

Sento-me no chão, as minhas costas encostadas ao fim da cama. Os meus dedos cravam os meus cabelos  apertando-os com força. Não sei o que fazer, não sei como os posso fazer mudar de ideias. Durante toda a discussão a minha mãe nem me conseguiu olhar nos olhos. A mulher doce de cabelo claro estava perdida nos seus pensamentos, envolta em preocupação, provavelmente por minha culpa. Eu simplesmente não quero acreditar.

A porta do meu quarto abre-se após uma leve batida de dedos, a Ashley entra com um pequeno sorriso e senta-se ao meu lado antes de me abraçar. Encosto-me a ela e as lágrimas voltam a cair.

"Não quero ir Ash... não te quero deixar"

A sua bochecha encostada à minha testa e os dedos a passar levemente pelos meus cabelos castanhos e finos de algum modo acalmaram-me. A minha respiração tornou-se mais leve, as minhas mão foram passadas na minha cara de modo a limpar as lágrimas antes de me endireitar. A Ashley mantinha o seu olhar em mim enquanto eu olhava para o chão, 1001 pensamentos vagueiam na minha mente e não sei a qual deles dar mais importância. 

"Estou a ser injusta não estou?" olhei para Ashley que me deu um pequeno sorriso antes de me prender os cabelos atrás da orelha.

"Não, não estás. Tens toda a tua vida aqui, eu percebo o teu lado. Mas também percebo o da tua mãe e do Sang, é uma oportunidade única para o negócio... Mas tu sabes que a tua mãe não sai daqui sem ti"

"Não a quero fazer escolher entre o Sang e eu, ela não merece que eu lhe retribua tudo dessa maneira. Também não quero ficar sem ele"

"Por muito que custe tu sabes o que tens a fazer..." ela levantou-se em direção ao meu roupeiro. As suas mãos vasculham as minhas roupas antes de ela tirar um top branco e uma calças largas pretas que me atira para cima. "Veste, vamos para a festa e curtir a noite, amanhã quando tiveres a ressacar sem nada para fazer pensas nesse assunto". Sou puxada do chão e obrigada a vestir-me. A Ashley dá um jeito no meu cabelo fazendo o ficar com umas ondas lindas e maquilha-me de uma maneira tão perfeita que é impossível alguém perceber que eu estive a chorar. O que é que vai ser de mim sem a Ash e o Scott, do outro lado do mundo... Apanho a minha mala e o casaco antes de descermos as escadas, a minha mãe o Sang levantam-se do sofá e ambos olham para mim com ar de preocupação.