Capítulo 23

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"Lembras-te quando eras pequena e querias ir sempre a casa da Maura para puderes tocar no piano dela?" o Sang diz-me atrás de mim. Estou sentada no banco do piano e sorrio enquanto os meus dedos dedilham suavemente pelas teclas, formando uma melodia linda e limpa.

"Tenho pena de não ter aprendido mais" digo lembrando-me de como eu e o Scott adorávamos ir para casa da Maura, a minha vizinha. Ela brincava connosco, fazia-nos lanches do outro mundo e mimava-nos como se fossemos netos dela.

Lembro-me perfeitamente do dia primeiro dia em que toquei uma tecla, o Scott estava chateado comigo porque na aula de Taekwondo o Jason foi o meu par em vez dele. Lembro-me como ele deixou de falar comigo durante dias e quando finalmente falou disse que não queria mais ser meu amigo. Sorrio ao lembrar-me da nossa inocência. Eu continuei a visitar a Maura todos os dias, mas o Scott deixou de ir, ou ia embora assim que eu chegava, a minha tristeza era inconsolável. Lembro-me do Sang me deixar à porta da Maura e ela estar sentada em frente ao seu gigante piano, sentei-me com ela no banco e observei tudo o que ela fazia. Consigo lembrar-me perfeitamente da minha cara de envergonhada quando ela parou de tocar e eu carreguei numa tecla, porque queria fazer como ela. Desde esse dia, descobri um novo amigo para além do Scott, aprendi a tocar piano e todos os dias assim que acabava os trabalhos da escola, corria para casa dela para aprender mais um bocadinho. Em cada sítio que havia um piano, havia eu, e havia barulho.

"Tu és fantástica para alguém que nunca teve formação" ele diz pousando o seu copo de água em cima do tampo do piano.

"Estás a dizer que a minha filha precisava de formação para ser ainda mais fantástica?" a minha mãe aparece por trás do Sang defendendo-me, o que me fez rir.

"Nada disso, ela é fantástica em tudo o que faz. Deve ter aprendido com a mãe" ele diz e puxa a minha mãe pela cintura antes de deixar um beijo na sua testa. Estes dois são uns fofos.

"Que me dizem de fazermos todos uma noite de pizzas e cinema?" a minha mãe sugere com um sorriso.

"Agrada-me a pizza. Mas tenho que estudar, não posso ver o filme" olho para a pauta e toco um pouco.

"Achas que o Jimin quer?" a minha mãe pergunta ao seu marido com um pequeno sorriso e ele franze levemente a cara.

"E que tal deixarmos os miúdos com as coisas deles?" ele puxa-a e beija-a. Sinto-me a mais neste momento, pego nas minhas folhas e saio sorrateiramente da sala sem que eles vejam.

O Serendipity está deitado na minha cama e eu junto-me a ele fazendo-lhe festinhas. Os meus olhos vão para os livros da minha prateleira e é inevitável não pensar quando o Jimin me ofereceu o livro que estragou na tarde de piscina. Por falar em Jimin, onde anda ele que hoje ainda não o vi? Puxo o meu computador e ligo para a Ashley e para o Scott por videochamada, tenho saudades deles. O Scott não atende, mas a Ashley atende ao fim de uns segundos.

O seu cabelo está despenteado e a sua cara ensonada diz-me que a acordei. Ainda assim o seu sorriso é enorme quando me põe os olhos em cima.

"Hey!!"

"Olá" ela diz endireitando-se na cama e esfregando os olhos.

"Acordei-te não foi?" rio.

"Há coisas que nunca mudam" ela diz com um enorme sorriso. "Tenho saudades tuas".

"E eu tuas. Fazes-me tanta falta aqui" digo. A Ash realmente faz-me falta e sem dúvida que se alguém colocaria o Jimin no seu lugar era ela. Mas porque é que estou só a pensar nele?

"Conta-me novidades" ela diz andando com o telemóvel de um lado para o outro.

"Nada de novo. A universidade é fantástica, mas faltas tu... a minha mãe e o Sang estão fantásticos como sempre e pronto é isso... Liguei ao Scott, mas ele ainda deve estar a dormir" digo olhando pela janela.

"Ohhh sim, ele está" a minha amiga ri virando a câmara para a sua cama. Os caracóis do Scott são impossíveis de não reconhecer.

"Ash!!"

"Shiu. Vais acordá-lo" ela vira a camara de volta para si e o sorriso mais lindo que ela tem brilha no seu rosto.

"Tu não me digas que..." digo e ela mete a sua escova de dentes à boca para evitar sorrir. "Que falsos que vocês são!" digo de modo a provocá-la. "Quando é que estavam a pensar contar-me?"

"Nós já tínhamos falado disso, mas andas sempre ocupada. Ainda não tinha havido oportunidade" ela volta a colocar a escova na sua boca e esfrega os seus dentes.

"É, desculpa. Tenho-me esforçado imenso para ser a melhor da turma e tudo isto com o Jun e com o Jimin... tenho-me esquecido completamente" vagueio.

"Jimin? Jun? Espera. O que se passou?" ela diz rapidamente.

"Para te ser sincera nem eu sei... O que quer que fosse que eu tivesse com o Jun, não me parece que exista mais"

"Por causa do Jimin?" ela parece surpreendida.

"Não. Sim... Não sei" digo ficando confusa comigo própria.

"O que é que ele fez?"

"O Jun? Teve com alguém... O Jimin... odeia o Jun"

"O que tem o facto de ele o odiar? Por vezes as pessoas não gostam umas das outras" ela diz saindo do seu quarto deixando o Scott ainda adormecido na sua cama.

"Eu sei. Eu que o diga. Já não posso como Jimin. Está constantemente a tirar-me do sério" a Ash abre-me os olhos muito de repente e as suas sobrancelhas sobem e descem várias vezes.

"Quer dizer. Quem é que ele pensa que é..." a Ash tosse muito interrompendo-me. Viro-me imediatamente quando vejo uma figura atrás de mim através do ecrã do meu computador. O Jimin encara-me com olhos tristes e deixa um saco de papel castanho em cima da minha cama antes de pegar no Serendipity e sair. Bato na minha testa.

"Eu tentei avisar-te" a Ashley ri. Se ela ao menos soubesse.

"Não faz mal, estamos de relações cortadas" ela ri e continua a contar-me pormenores sobre ela e o Scott, mas na verdade a minha cabeça já não está nesta conversa. Que saco é aquele e porque é que ele deixaria alguma coisa na minha cama?

"Vamos jantar" a minha mãe bate à porta do meu quarto antes de espreitar para dentro.

"Vou já" sorrio. Nem dei pelo tempo passar. A Ashley contou-me como as coisas desenrolaram entre ela e o Scott e como os seus pais e o seu irmão mais novo adoram quando o Scoot vai lá a casa. Também me contou do pedido super romântico numa cabine telefónica de londres. Não consegui evitar rir, mas a Ashley diz que foi super querido.

"Olá Ashy" a minha mãe acena para ela e sorri. Ainda estou para perceber porque é que a minha mãe lhe chama isto todas as vezes. A minha amiga sorri e acena-lhe antes de se despedir de mim e prometer ligar em breve. Ia sair do quarto quando o saco em cima da minha cama toma a minha atenção. Pego nele, é pesado. Algo está embrulhado e posso afirmar com toda a certeza que isto é um livro.

Rasgo o papel e os meus olhos brilham quando vejo o "After – Depois da esperança da Anna Todd" na capa do livro. Os olhos vão direitos à minha prateleira e o livro preenche o único espaço que falta, o único que me faltava na coleção. Mas como é que ele sabia? Porque é que me deu isto? A minha cabeça está cheia de perguntas, mas nenhuma delas consegue tirar o sorriso que tenho no rosto. Pego no saco para o atirar para o lixo quando vejo algo escrito.

Não adianta dar espaço, para quem não sabe ocupar lugar

O meu coração dispara e não consigo deixar de pensar que ele se está a referir ao Jun. Ele sabe? 

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