Capítulo 25

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Chego ao meu quarto e a porta está aberta. Por momentos penso que estou louca porque tinha quase a certeza que a tinha fechado, contudo a minha janela também está aberta. Alguém esteve mesmo aqui. Vou para fechar a janela quando vejo o corpo de Jimin sentado naquele que é o meu esconderijo nesta casa, o telhado.

"Hey" digo sentando-me ao lado dele. Os seus olhos encontram os meus.

"Então..." ele diz-me enquanto desvia os seus olhos para as estrelas.

"Já queria ter falado contigo antes... Queria-te agradecer pelo livro que me deste" eu digo e de imediato mordo o meu lábio. Porque é que é tudo tão difícil com ele? Porque é que eu não me sei comportar de forma adulta ao seu lado? Parece que ele muda completamente quem eu sou, ou pelo menos sinto que sou diferente com ele, em relação ao que sou com as outras pessoas.

"Não tens que agradecer. Achei que era o passo certo para nos começarmos a suportar um ao outro..." ele diz sem conseguir disfarçar a malicia atrás das suas palavras.

"Acho que chegámos a um ponto em que temos mesmo que parar. Cansa, andarmos sempre nisto" eu sorrio com ironia antes de me encostar para trás e ficar deitada.

"Então... Tu e o Jun... andam?"

Os seus olhos não encontram os meus e dou por mim a agradecer por isso. Não sei se posso dizer que eu e o Jun estamos numa relação, mas também não posso dizer que não estamos. Temos saído muito ultimamente, ele tem-me levado a encontros maravilhosos e tem me mostrado uma faceta de mim que eu própria não conhecia. Tenho tido o meu tempo, tenho conseguido estudar o suficiente, tenho conseguido treinar imenso e já pensei sinceramente em ir para a equipa para poder passar mais tempo com o Jun. Contudo, há uma parte de mim que sente falta de alguma coisa, ainda há algo por preencher em mim e não consigo saber o que.

"Não. Quer dizer... eu não sei"

"Estás feliz?" ele encosta-se para trás ficando ao meu lado.

"Sim. Ele era a pessoa que eu queria" eu digo.

A reação de Jimin é morder o seu lábio para se conter de dizer alguma coisa e as suas sobrancelhas levantam e baixam num movimento muito rápido. Sinto que ele não diz aquilo que quer para não me magoar e sinto-me culpada por tudo o que se passou entre nós antes.

"Só quero que estejas feliz" ele diz rompendo o silencio constrangedor.

"Eu estou. Agora estou" olho para ele e a sua expressão parece triste. "Estás bem?" pergunto.

"Para te ser sincero? O que é que tu achas Areum?" ele senta-se e a sua expressa passa rapidamente de triste para irritado.

"Podes falar comigo se se passar alguma coisa" eu digo. Inocente.

"Não posso. Não, posso Areum. Esse é o problema. Tu és o problema" ele diz e sinto que as palavras dele me atingem como tiros.

"Tu não percebes mesmo, pois não?" ele diz e eu não sei o que hei de dizer.

"Porra Areum. Eu estou perdido da pessoa..., eu já não sei quem sou, principalmente no que se refe a ti" ele diz levantando-se.

"O que é que queres dizer com isso?" eu digo completamente confusa.

"Nada" ele diz passando as mãos pelo seu cabelo. Um hábito que faz quando está irritado.

"Espero que estejas mesmo feliz com ele. E que finalmente possamos dar-nos bem. Espero que ele se porte bem ou tenho que lhe bater" ele diz puxando-me para cima de modo a ficar de pé. Inesperadamente os seus braços envolvem o meu corpo num abraço e sinto-me ainda mais confusa que há momentos atrás. Primeiro sou um problema, agora abraça-me e diz que quer que seja feliz? Os meus braços envolvem o seu pescoço e a minha cara repousa no seu ombro. O cheiro do amaciador da roupa, juntamente com o cheiro do seu perfume formam o aroma perfeito, que me entra pelas narinas adentro. Dou por mim a dar um longo suspiro, e também a não querer largá-lo. Momentaneamente sinto que estou a segurar o mundo nos meus braços e a sensação na minha barriga deixa-me ansiosa. O Jimin afasta o seu corpo do meu, uma lágrima escorre pelo canto do seu olho, estava tão envolvida no momento que não reparei que ele estava a chorar? Mas o que é que se passa?

"Jimin eu estou bem" digo, não tendo a certeza de lhe querer dizer se está tudo bem, se ele vai ficar bem, ou se eu estou bem.

"Tem cuidado, está bem? Às vezes o amor não se sente como devia" ele deixa um pequeno beijo na minha testa e todo o meu corpo é percorrido por um arrepio. O Jimin deixa-me sozinha sobre as estrelas e a noite já não parece tão bonita como há momentos atrás. Pela minha cabeça passa a hipótese do Jimin ter sentimentos por mim, mas isso é impossível.

Ele é como o Scott para mim, apenas mais irritante e chato. Não quero pensar que ele possa ter sentimentos por mim, porque a minha relação com o Jimin não é igual à minha relação com o Scott e se alguma vez houvesse mais que esta relação de "meios irmãos", sei que nunca iriamos ter a capacidade de superar isso.

Pela minha cabeça passam mil e uma teorias e nenhuma faz sentido em relação a nada. Recordo a primeira vez que me cruzei com o Jimin, e a primeira vez que olhei verdadeiramente para ele, e todas as discussões que temos tido até hoje. A minha vida aqui é caracterizada por instabilidade, tudo é maior, desde a distancia de casa até à escola, o edifício da universidade, esta casa. Os meus pais não estão tão presentes, não posso dizer que os meus amigos daqui são iguais aos de lá... Contudo, a minha constante é o Jimin, ainda que passemos mais de metade do tempo a discutir, é ele que está sempre lá. Talvez as nossas discussões sejam o significado de "estou aqui para ti. Não estás sozinho". Os meus olhos fecham por momentos e sinto a brisa fresca na minha cara.

* Posso te ligar? * recebo a mensagem de Jun. Em vez de lhe ligar sou eu que tomo a iniciativa e ligo-lhe.

"Olá"

"Desculpa só dizer qualquer coisa agora. Tive no ginásio a organizar uns documentos"

"Tudo bem. Também tenho estado ocupada de volta dos livros"

"Só te queria dar um beijinho de boa noite e dizer que tem sido incrível estar contigo. Obrigada"

Sorrio ao ouvir as palavras queridas que me são ditas. Não sei o que responder nestas alturas, não por não querer corresponder, mas sim porque nunca ninguém foi assim comigo antes e não sei como reagir.

"Senti a tua falta hoje" digo com medo das minhas próprias palavras.

"Desculpa. Podemos combinar qualquer coisa se quiseres. Amanhã?"

"Eu queria. Mas vou ter um teste, amanhã preciso mesmo de estudar muito. Importas-te que fique para outro dia? Eu não queria arruinar os nossos planos" digo de modo a que o Jun não me interprete de forma errada.

"Não. Tudo bem, depois combinamos melhor"

"Obrigada"

"Dorme bem Areum. Sonha comigo" ele ri antes de desligar o telemóvel e consigo perfeitamente visualizar o sorriso perfeito e caloroso à frente dos meus olhos.

Entro no meu quarto e visto o meu pijama antes de ir à casa de banho lavar os dentes. Por momentos penso em bater à porta do quarto de Jimin mas é melhor não, finalmente as coisas parecem estar bem entre nós, nem que dure apenas esta noite, mas vou aproveitar.

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