Capítulo 30

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"Posso entrar?" o Jimin diz metendo a cabeça dentro do meu quarto.

"A tua namorada já se foi embora?" digo pousando o livro que tenho em mãos. Por vezes olho para o Jimin e tenho medo que ele seja o meu Hardin, apesar de não serem nada iguais, consigo relacioná-los devido a todas as confusões entre nós, a maneira como o Hardin brinca com a Tessa e é gentil com ela, e a maneira como a irrita e a atiça, faz-me lembrar o Jimin em relação a mim.

"Bem, a minha namorada não existe. Mas o teu namorado já se foi embora sim" ele diz entrando e sentando-se no fim da minha cama.

"O Jun... nem me lembrei dele" digo coçando a testa.

"Porque é que estás com alguém de quem nem sequer te lembras?" ele diz e os meus olhos ficam presos na sinceridade que os seus olhos transmitem.

"Vieste aqui para falar disso? Porque é que te estás sempre a meter onde não és chamado?" pergunto irritada. A raiva que saiu de mim há momentos atrás não foi o suficiente para expressar tudo o que tenho acumulado e o Jimin por vezes parece não saber o que são limites.

"Vim ver como estavas, só isso. Tu passaste-te mesmo" ele diz com um sorriso, como se estivesse orgulhoso de mim.

"Estou farta de fazer tudo o que as pessoas esperam que eu faça. Estou farta de me sentir sozinha" digo. Desde que viemos para a Coreia a minha mãe parece que se esquece que tem uma filha, o tempo com ela é escasso e sinto que quando estamos juntas, qualquer passo em falso pode gerar uma discussão.

"Não estás sozinha, sabes disso certo? Eu sei que eles têm andado cheios de trabalho e que por vezes mal os vimos mas..." enquanto ele fala e se mostra solidário com os nossos pais, nada ocorre na minha mente a não ser este rapaz que tem a mania de se vestir à rufia, e rebelde, sempre com roupas largas e de chapéu na cabeça mas que tem um coração de ouro. Dou por mim perdida nos seus lábios e na maneira que se movem com cada palavra sai deles, o meu corpo chega perto do seu e num impulso junto os meus lábios aos seus, pela primeira vez tomo esse passo. Pela primeira vez sinto que posso fazer aquilo que realmente quero.

Ele parece surpreendido e por momentos sinto que apenas eu estou neste beijo, mas rapidamente o peso do seu corpo cai para cima do meu acabando por me deitar na cama, com o tronco de Jimin em cima de mim.

"Jimin" tento interrompê-lo.

"Shhhh. Deixa-te ir" ele diz com os seus olhos fechados e a sua testa ainda encostada à minha, a sua respiração ofegante bate na minha cara e eu quero implorar por mais. Mas os meus pensamentos são mais fortes que a minha vontade, e acabo por o afastar.

"Não posso Jimin, não está certo" eu digo rebolando por baixo dele e fazendo com que o seu corpo caísse na minha cama.

"Não está certo? Então porque é que me beijaste? Não me podes beijar e dizer que está errado" ele sussurra de maneira a garantir que ninguém no resto da casa nos ouça.

"Eu não sei... eu... eu estou confusa" digo passando as mãos pelo meu cabelo.

"Pois então vê se resolves tudo o que vai nessa cabeça, porque estás a arrastar pessoas contigo" ele diz e sai do meu quarto para o dele batendo com a porta.

O que é que eu fui fazer? Por que raio é que eu o beijei? A minha vida não se pode tornar mais confusa, ultimamente parece que destruo tudo aquilo em toco, tudo à minha volta parece complicar-se mais e mais. Mando mensagem ao Jun e peço desculpa pelo sucedido durante o jantar, à qual não obtive resposta. Ligo à Sarah, mas tem o telemóvel desligado.

Desço ao piso de baixo e todas as luzes estão apagadas, sento-me ao piano e começo a tocar River Flows in You do Yiruma. Estou tão emersa no som e no sentimento que esqueço o mundo, esqueço a raiva e esqueço que horas são. Considero o Yiruma a minha salvação muitas vezes, o artista que realmente me fez apaixonar pelo piano. As minhas lágrimas caem sem que perceba e paro de tocar, não estou a ser justa e sincera, nem comigo, nem com eles.

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