4. O sol e a morte enfrentam a primavera

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 Tine acorda com uma galinha bicando seu nariz

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 Tine acorda com uma galinha bicando seu nariz.

Ele abre os olhos assustado, arrastando-se para trás, numa tentativa desesperada de se afastar do animal. Sarawat não está mais deitado ao seu lado (na verdade, ele não está em lugar nenhum, o que explicar a ave estar tão perto), então ele se arrasta pelo lugar em que outrora o outro ocupava, até bater as costas na placa de ferro que divide a parte das galinhas e a parte deles. A galinha o encara de onde está, fixamente, como se pudesse sentir o cheiro do medo, do mesmo jeito que os monstros (e cachorros) fazem.

A galinha se aproxima, em pulos e semi vôos, cacarejando à medida em que avança. Tine se encolhe, colocando as mãos na frente do rosto para se proteger caso ela resolva voltar a bicar-lhe. A centímetros de alcançá-lo (levando em conta o som cada vez mais alto), ela grunhe e os cacarejos se afastam em vez de se aproximarem. Tine tira as mãos do rosto e ergue os olhos a tempo de ver Sarawat, com a galinha na mão, a levando — lê-se jogando — novamente para junto das outras nos fundos do galinheiro.

O garoto apoia as mãos na cintura e olha para um Tine ainda sentado no chão, assustado.

— Sério que você tem medo de um bichinho desse tamanho? Você se deu super bem com aquele pégasus que é cem vezes maior.

— Tenho medo de qualquer coisa que queira me atacar.

Sarawat cruza os braços, parece ponderar a informação.

— Deveria ter medo de mim, então.

Tine sorri (um sorriso menos intenso do que ele costuma dar, mas ainda sim reconfortante).

— Isso seria impossível.

Sarawat não responde, voltando a fazer qualquer coisa para não ter que manter um contato visual com Tine. Este diria que viu a sombra de um rubor no rosto do filho de Hades, mas não poderia dizer com certeza. Até porque, ainda não consegue enxergar bem o suficiente (tanto por estar sem os óculos, quanto pelo sono) para confirmar sua suposição.

Ele rasteja até o espaço em que dormia há não muito tempo, à procura dos óculos. Ao encontrá-los, embaçados como sempre, coloca no rosto e levanta, batendo as mãos na roupa para tirar qualquer sujeira que possa ter ficado ali. Volta a olhar para Sarawat, que pega a mochila e a põe nos ombros. As bolsas roxas embaixo dos olhos entregam o fato dele não ter tido uma boa noite de sono. Tine também pega a própria mochila e o arco do chão.

— Está acordado há muito tempo?

— Não dormi — Sarawat dá de ombros e, arredio, muda logo de assunto. — Vamos embora antes que os donos venham ver as galinhas e nos encontrem aqui.

Após dizer isso, ele sai do galinheiro, sem esperar que Tine o siga — o que, obviamente, ele faz na mesma hora. Eles passam em completo silêncio perto da casa no meio do quintal, antes de pularem as cercas para alcançarem a rua.

Beijado Pelo Sol (2gether)Onde histórias criam vida. Descubra agora