Capítulo 4

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O motor gera um ruído constante e ritmado. Os três tripulantes da pequena embarcação estão quietos. Caio segura a haste do motor de popa, guiando o barco em direção à escuridão. Mina está abraçada com Luka, aquecendo a menina com um pequeno cobertor que encontrara, convenientemente, disponível no convés.

— Falta pouco agora. Em breve chegaremos a Utopx. — diz Mina em um tom acalentador.

— Quase fomos presas... Fiquei com muito medo. — responde Luka.

— Deu tudo certo. Agora podemos seguir. — Mina se volta para Caio — Como você fez aquilo?

— Aquilo o quê? O fogo? — ele responde sério — Sempre temos que pensar em um plano B, não é mesmo?

— Sim... Você suspeitava de algo?

— Sempre — responde, lacônico. — Sempre temos que pensar no que pode dar errado.

— E agora? O que fará? — a pergunta de Mina é de uma preocupação sincera.

— Deixarei vocês em uma praia e voltarei para Distopx.

Alguns minutos se passam e Luka cochila, calmamente, ainda enrolada no cobertor e deitada no colo de Mina.

— Vão te prender se fizer isso...

— Não se preocupe. Não farão nada comigo.

— Como pode ter tanta certeza disso?

— Nenhum deles me viu...

Mina não tinha pensado nessa possibilidade, mas rememorando as cenas em sua memória conclui que realmente é possível que ninguém, de fato, o tenha visto. Os homens todos fugiram rapidamente do fogo, apenas o líder dos capangas permaneceu e foi golpeado quase que imediatamente.

Ao ver que a criança está dormindo, Caio se volta para Mina.

— Você pretende contar para a menina?

— Contar o quê? — Mina pergunta assustada.

— Sobre seu passado... Sobre quem é você...

— Não penso nesse assunto. Sou o que sou agora... amanhã posso ser algo completamente novo...

Caio permanece com seu olhar congelante fixo em Mina.

— Não pretendo contar nada para a menina. Se é isso que você quer saber. Por que o interesse?

— A menina terá um papel importante na revolução que se aproxima. Realmente é melhor não contar nada para ela. Pelo menos por enquanto... — ao dar essa resposta Caio se vira para trás e observa algo no mar. — Eles ainda não desistiram. Estão atrás de nós.

Mina se levanta enquanto pede que Luka continue deitada. Observa o horizonte em busca do que pode ter despertado a atenção de Caio, mas não avista nada.

— Não tem ninguém... Do que você está falando?

— Acredite em mim. Estão nos seguindo. Posso ouvi-los.

Mina aguça a audição, mas o ruído do motor, tão próximo, impede que ela ouça qualquer outra coisa.

— Venha até aqui e guie o barco. — Caio espera que Mina segure o leme e então solta-o. Dá um longo suspiro e completa. — Daqui em diante, cuide de chegar em Utopx, e siga as instruções. — E se atira no mar.

— Ei! Espera... Caio...

Mina perde rapidamente o homem de vista. O mar escuro impede a visão de qualquer coisa a poucos metros de distância. Continua esquadrinhando o horizonte quando, finalmente, percebe um pequeno barco vindo na mesma direção, contudo, não consegue mais ver Caio. Após alguns segundos identifica algo como uma pequena explosão. Algumas chamas, à distância, brilham vermelhas e se extinguem sob as águas do mar.

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