GLORX

Capítulo 12

Três olhos se abrem...

Um, contempla o passado.

Suas dores excruciantes

De seu corpo degradado

Brilham áureas triunfantes

Seus olhos se abrem. Rico sente ânsia, causada pelo tubo em sua garganta. O tubo que nutriu seu corpo por dias. Não sabe onde está... Não consegue enxergar quase nada... A luz fere sua retina. O líquido que o envolve, como uma cortina, bloqueia qualquer possibilidade de avistar algo que não sejam vultos que transitam à sua frente.

Não há dor alguma. Sente-se confortável na temperatura amena do fluido onde está inserido. Como em um sonho, flutua. Sensações inanimadas, um feto alimentado no útero vítreo de uma proveta colossal.

Abruptamente, seu sonho se esvai. O líquido é esgotado furiosamente quando o ralo é aberto. Seus pés tocam a superfície, depois de um longo período Rico sente seu próprio peso sobre seus pés.

O tubo se divide, abrindo sua passagem para o novo mundo que se descortina diante de seus olhos. A vida toma um sentido inesperadamente fantástico e surreal. Uma floresta em miniatura. Vida! Animais, plantas, água corrente e até uma cascata ornam a imensidão do jardim suspenso.

— Que lugar é esse?

O violeta dá um passo à frente. Se preparou por dias para recepcionar seu arcanjo. Seu paladino prometido. O homem se ajoelha em reverência, abaixa os olhos humildemente e declama:

— Você nos salvou. Salvou todos os megalotópicos do caos e destruição. — O homem, enfim se ergue. - Bem-vindo, Ricardo. Nosso príncipe corajoso.

Rico observa a cena. Desconfortável, diante daquele "mise en cene" protesta.

— Que palhaçada é essa? — seu olhar se volta para Eros, o homem fica lívido com a atenção inesperada.

— É uma grande honra... senhor Rico... Ricardo... — sua voz se apaga. — Desculpe, esse é nosso grande líder. Esse é Ibraim, o último violeta de nossa gloriosa terra.

— Entendo... Mas, me diga... O que quer de mim?

Ibraim fita o rosto de Rico, um leve desapontamento cruza seu semblante. Ainda assim é o seu dever realizar o rito, de modo que, prossegue como se não houvesse sido interrompido pelos estúpidos questionamentos de Rico.

— Quero que se aproxime, Ricardo. — Ibraim ergue a mão direita espalmada. — Pegue minha mão.

Rico desce, relutante, da pequena plataforma. Entrega sua mão ao estranho velho. Se surpreende com a força do aperto, ao que é puxado para perto, muito perto do corpo de Ibraim e suas vestes azuis.

— Você salvou a todos uma vez. Não será a única! Ainda precisamos de sua dedicação.

Rico escancara os olhos. Agora sente medo do ancião. Implacável, Ibraim continua.

— Receba a sua glória, receba sua missão e cumpra-a, meu arcanjo Ricardo!

Rico dá um grito assustado, sente um golpe em sua áurea, sente-se momentaneamente cego. Puxa a mão com força e consegue se desvencilhar do aperto imposto por Ibraim. Com o impulso involuntário, cai sentado no chão. A cena é patética, como uma vingança de Ibraim pela falta de tato do seu escolhido. Rico sente os ossos de sua mão doerem, ergue a cabeça com raiva e observa Dr. Rui e o Sr. Eros, admirados... Os dois avaliam Rico, incrédulos.

— Está feito. — Ibraim conclui. — Agora, você deve cumprir sua missão.

— Que missão? Velho idiota. Você machucou minha mão.