Capítulo 14

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O culto em Distopx se inicia. Diana sempre sente um travo na garganta ao iniciar seu sermão. Hoje não é diferente. Apenas a presença de Ivan e Luka, ao lado do altar, divergem do rito habitual.

— Irmãos de Distopx! — um pequeno pigarro para limpar a garganta. — Hoje é um grande dia. Hoje é o dia de nossa libertação.

A igreja observa, desconfiada, o início atípico da liturgia. Um pouco mais de tensão para a sacerdotisa inexperiente e despreparada.

— Vocês sabem que muitos de nossos irmãos de Utopx, deram sua vida na tentativa de nos libertar do jugo da tirania? — Diana mantém o peito erguido e o olhar firma, o tanto quanto pode. — Vocês sabem que houve uma tentativa, por parte de uma infiltrada, de destruir o poço de Glorx? Não sabem?

A igreja concorda, com gestos tímidos de cabeça. Estão todos receosos de admitirem que sabiam da conspiração.

— Hoje, está aqui, conosco, uma das pessoas que esteve presente nesse intento. — Diana convida Luka a entrar no altar. — Esta é Luka e como todos podem ver ela foi ferida em nossa tentativa de tomar o poder.

Um burburinho toma conta do ambiente. Todos olham assustados para Luka que exibe as marcas de queimadura em todas as partes expostas de seu corpo. Seu rosto, seus ombros e suas pernas estão ainda feridos, assim como o restante, oculto sobre o vestido simples.

— Há anos tentamos quebrar esse sistema. Há anos tentamos sair deste inferno, que nos foi imposto. Nunca fizemos nada para merecer essa vida. Estamos restritos apenas ao trabalho nas esteiras e as missas aos Domingos. Isso termina hoje!

Novamente a igreja se agita. Agora, mais ruidosa que antes. Estão todos temerosos, observando as entradas do templo, de onde provavelmente em alguns segundos entrarão os laranjas com seus bastões e lumnx para dar fim aquele sermão revolucionário. Percebendo o medo dos cidadãos, Diana, retoma o sermão.

— Vocês estão preocupados? Não há motivos para temer, pois, hoje estamos sós. Apenas nós aqui neste templo. Não é verdade, prefeito?

Assim que lança a pergunta, Diana convoca também Ivan para que suba ao altar.

— Não há o que temer. — confirma o Prefeito. — Todos os capatazes estão longe daqui. Foram levados por um aliado para uma missão em um lugar distante. Podemos falar livremente. Recomendo que possamos aproveitar este momento.

Agora a igreja está completamente fora de controle. Todos estão falando ao mesmo tempo, muitos gritam palavras de ordem como "Liberdade", "Justiça" entre outras.

Diana, vendo que a desordem está instaurada, pega o livro prateado sagrado e bate com ele cobre o altar três vezes seguidas. Na terceira batida a Igreja está completamente silenciosa novamente.

— Vamos ao que interessa. Eu não sou uma sacerdotisa, não tenho nenhuma formação religiosa. Eu ocultei uma infiltrada em minha casa por semanas e agora... Mina está morta... Ela deu sua vida por essa causa. Deu sua vida para nos libertar! Eu conclamo a todos aqui que cruzemos esta cidade e, com nossas próprias mãos, vamos demolir esse sistema injusto e desigual. Quem aqui está de acordo, levante a mão direita.

A igreja toda permanece parada. Todos tem medo de ser o primeiro e com isso assumir a traição. Se não forem seguidos por todos os que demonstrem ideias de rebeldia serão entregues aos laranjas.

Diana sente um arrepio. Apenas ela, o Prefeito e Luka permanecem com a mão erguida. Após alguns longos segundos de expectativa, uma mão se levante em meio aos cidadãos. Sara, erguendo a mão direita bem alto, sorri enquanto encara a filha no altar.

Poucos segundos depois, mais um cidadão toma coragem, e outro, e outro... Todos na igreja, estão com a mão direita erguida. Diana sorri.

— Muito bem! — Diana retira a batina e caminha pelo meio das fileiras de bancos. — Sigam-me. Vamos tomar uma cidade!

GLORXOnde histórias criam vida. Descubra agora