Capítulo 13

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O arcanjo sobrevoa a cidade-Estado cinzenta. Os telhados, as paredes, o chão e até mesmo o mangue que isola Distopx do mar, tudo ali é cinza.

Mesmo sendo um infiltrado, sempre conseguiu se manter distante dali. Seu passado triste, na cidade do labor, o manteve afastado o quanto pode, mas agora, ele está de volta. De volta em uma situação que jamais seria capaz de imaginar. Ele é um índigo. Um ser com acesso irrestrito, um indivíduo que pode abrir qualquer porta a qualquer tempo. Suas únicas limitações serão a que ele mesmo se impuser.

O drone, gigantesco, se aproxima do chão, seguido pelos dois drones extras dedicados à sua escolta. Em frente ao prédio monumental, o arcanjo retorna por um momento à sua infância diante dos minaretes coloridos, o que lhe causa uma leve, porém agradável, nostalgia.

A mesma nostalgia é reforçada pelo cheiro. O ar de Distopx é pesado. Dominado pelo odor de óleo e fuligem. Suas narinas não apenas sentem, mas parecem ser capazes de contar cada partícula de poluição que agora inalam. Ajeitando o sobretudo, o arcanjo inicia a subida dos degraus da escadaria que leva ao palácio-sede da cidade-Estado.

Um segurança, de uniforme cinzento e puído pelo excesso de uso, faz menção de interceptar sua entrada, mas assim que percebe as auras, se afasta assustado. O vigia, não só deixa que o arcanjo passe, como também o acompanha e conduz, assim que é informado do destino desejado pelo nobre visitante.

A porta da sala do prefeito se escancara de uma vez. Sem aviso e sem cerimônia, o arcanjo entra e senta na cadeira de Ivan. O prefeito surge de seu toalete privativo, em sua própria sala. Assim que deixa o reservado, dá de cara com o homem em sua cadeira e, do mesmo modo que o segurança, abandona qualquer menção de protesto assim que percebe a tonalidade da áurea do visitante.

— Não há outra forma de dizer isso... — Ivan faz uma pausa. — O que fiz para merecer tamanha honraria?

— Nada... — o arcanjo, futuca o cinzeiro, apinhado de cinzas e guimbas de charuto. — Talvez um pouco de limpeza seja necessária, não acha?

— Desculpe... — Ivan pigarreia. — Como devo chamá-lo? Senhor...

— Pode me chamar de chefe. — o arcanjo responde enquanto vira as cinzas em cima da mesa e forma uma pequena pirâmide usando uma folha de papel como pá. — Sejamos breves... Quero os infiltrados que se escondem aqui, nessa cidade imunda.

Ivan permanece de pé e não demonstra nenhuma hesitação, apenas uma controlada dose de descrédito quanto a dúvida levantada em relação à sua ilibada lealdade.

— Então... chefe. — Ivan saca um charuto do bolso de seu paletó.

— Nem pense em acender isso enquanto eu estiver presente.

Ivan, cheira o charuto, passando-o suavemente pelo bigode e coloca-o de volta no bolso.

— Claro! Claro, chefe. Sem charutos... — Ivan aponta para a cadeira vazia, reservada normalmente a seus interlocutores. O arcanjo finge que não entendeu. Ivan continua de pé. — Como eu ia dizendo... não temos notícias de infiltrados aqui em Distopx.

— Humpf. — O arcanjo faz um muxoxo. — Não é o que dizem por aí... Tenho notícias, de fontes confiáveis, da existência de pelo menos uma mulher aqui nesta cidade que abrigou uma espiã recentemente. Onde ela está?

Ivan dá uma risada histriônica.

— Você deve estar se referindo a nossa nova sacerdotisa, Madre Diana. — Ivan, abana a cabeça como se achasse graça daquilo tudo. — Houve um mal-entendido e... agora ela presta serviços à comunidade. Jamais houve novas suspeitas ou queixas.

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