GLORX

Capítulo 15

— Você não faz ideia do que te trouxe até aqui e não tente me desmentir... — o velho sacramenta, diante de Ângelo, sua opinião inesperada.

— Não... Destino é um conceito que não faz parte de minhas crenças... — responde à pessoa coberta de escamas.

— Destino, vocação, acaso... Nada disso realmente existe. Você está se transformando, a esta altura já deve ter percebido.

— Percebi sim, senhor. Só não entendo...

— O porquê disso tudo. — o velho sorri. — Houve um tempo em que eu também não entendia nada. Em breve sua visão será esclarecida e nada mais será misterioso para você, meu jovem.

— Espero que isso leve a alguma conclusão. Espero poder ajudar a criar um mundo mais justo.

— Justiça é como o destino. Favorece aqueles que jogam com as regras corretas. — Um olhar severo irrompe do rosto do velho. — Agora precisamos resolver algo mais mundano. Temos que remover invasores de minhas terras. Hora de usarmos uma camuflagem.

Assim que o velho diz essas palavras, seu corpo muda para a imagem de um rapaz, jovem e bonito. De algum modo, a fisionomia não é estranha para Ângelo. Sem dúvida não conhece essa pessoa, mas parece com alguém que já viu, no entanto, não consegue se lembrar.

— Agora você... acione esse seu aparelho para parecer com outra pessoa.

Ângelo aciona sua layrx e assume sem pensar a imagem de Aviva. O velho sorri.

— Você é apegado a essa mulher...

— Não sou não... Isso é puro acaso.

Os dois se embrenham em meio às árvores em busca dos indesejados invasores das terras do profeta, assustando alguns pássaros e insetos ao longo do caminho fechado.

♃

Lino vasculha o chão da floresta em busca de rastros ou, quem sabe, localizar mais uma árvore frutífera em meio à mata. A vida do acampamento tem sido bastante estafante em sua busca diária por comida.

Ainda possuem bastante carne de gazebra, porém, não dá para viver somente com carne, precisam de mais variedade para manterem-se saudáveis, afinal, ninguém mais em seu grupo é jovem.

Percebe que se afastou muito de seus companheiros. Sente um temor de acabar cruzando o caminho de algum javagato. Ainda não houve oportunidade para este encontro indesejável que, certamente, colocaria a todos ali em risco. Acredita que o local mais próximo do rio e da montanha não seja o "habitat" dessas feras carniceiras, mas procura evitar ao máximo que aconteça.

Ouve um barulho na mata à sua frente. Galhos se partindo no chão, indicando que algo ou alguém vem ao seu encontro. Procura um galho para se defender, mas não consegue encontrar nenhum pedaço de madeira decente. Decide se ocultar atrás de um tronco mais largo de uma árvore de copa mais alta. Observa e escuta atento qualquer movimentação à sua volta, até que avista uma pessoa... Um homem.

Sai de trás da árvore com a crença de se tratar de um dos homens de seu grupo, mas assim que vê o rosto jovem à sua frente, se assusta para em seguida reconhecer aquele menino.

— Filho? Como é possível?

— Pai! — o rapaz reconhece Lino imediatamente e corre em sua direção.

Os dois se abraçam. Lino chora e segura o rosto do filho entre as mãos. Aperta o peito contra o corpo do filho, incrédulo.

— Meu filho! Meu menino... Como veio parar aqui?

— Pai... Eu vim te encontrar. Tanto tempo que não nos vemos...

— Eu... acreditei que você estava morto... Você terá tempo para me contar tudo. Agora venha comigo. Vou te levar para junto do nosso grupo. Este lugar é perigoso, melhor colocá-lo em segurança quanto antes.