Capítulo 8

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A mesa vazia, branca e lisa combina com as paredes de compensado que compõem as divisórias da pequena sala. O ambiente é completamente branco, as lâmpadas fluorescentes completam a estéril atmosfera onde, os cabelos pretos e crespos emolduram rosto sério de Aviva. Sua figura morena contrasta com a brancura do exíguo espaço onde está confinada. Mina mais uma vez é Aviva e, deve representar a falecida proprietária da empresa, pelo menos até que o processo de aquisição da companhia de encerre.

A porta se abre. Uma pesquisadora da Fundação entra na pequena sala e se senta na cadeira posta do outro lado da mesa, de frente para Aviva. Há semanas, Mina cumpre o mesmo ritual, há semanas que está vestindo a layrx de Aviva, há semanas que busca autorização para acessar o objeto de sua pesquisa.

O produto que propôs entregar para a empresa é um documentário sobre a "matéria escura", um estranho e desconhecido objeto que há muito tempo é guardado pela Fundação. O acesso é bastante limitado, às restrições de segurança são rígidas, mas o passaporte que a Companhia de Aviva fornece é um facilitador e tanto.

A Fundação precisa de Glorx para se manter, assim como qualquer outra instituição de Heterotopx, e vem coexistindo a centenas de ciclos graças às doações, muitas vezes bastante generosas, de seus patrocinadores, mesmo assim, uma divulgação em todos os visorx de Utopx movimentaria um volume de influência que ninguém, em suas faculdades mentais, desprezaria.

Mesmo assim, os procedimentos são bastante espartanos e, Aviva vem sendo submetida seguidamente a diversas sabatinas, querem saber tudo a respeito da pesquisa, da Companhia e até mesmo da vida pessoal de Mina, mesmo estando abaixo da layrx de Aviva.

— Bom, senhora Mina. — a pesquisadora cruza as pernas e apoia seu visorx onde anotou mais uma centena de perguntas. — Parece-nos que não há mais nada que possa ser dito. Creio que posso levá-la até a sala de contenção.

— Isso seria ótimo. — Mina complementa. — Quando poderei, finalmente, ter este acesso?

— Como eu disse... Não há mais nada a ser dito. — a moça, ergue o visor em frente ao rosto de Mina e um feixe fino corre pela face de baixo para cima. — Seu acesso está liberado. Quer fazer uma primeira visita agora?

— Sim... Gostaria muito.

— Ótimo. Vou levá-la até o local, mas antes, preciso que a senhora esteja ciente das normas de segurança dentro da contenção. É muito importante segui-las para evitar que o artefato danifique sua Glorx.

— Certamente... Tomarei todos os cuidados e... na verdade, eu não verei o material diretamente, todas as imagens serão captadas pelo meu visorx.

Um longo processo, com vários protocolos se inicia. Mina deve colocar uma roupa especial, óculos de proteção e anotar uma série de protocolos de controle. A precaução é necessária porque a matéria negra é um material inteiramente desconhecido, que a princípio não causa nenhum dano ou nenhum mal às pessoas, porém, caso alguém olhe diretamente para o elemento escuro todo seu saldo de Glorx é sugado pelo estranho objeto.

Realizou-se centenas de pesquisas, diversos doutores de várias cadeiras dedicaram vidas inteiras ao estudo do objeto, no entanto, jamais se descobriu nada a respeito, nem de onde teria vindo, nem o que causa a estranha reação, nem do que é composto.

Mina, finalmente chega a porta do local que abriga o objeto, posiciona sua lente à frente de seu rosto e assim, passa a ver somente as informações que se projetam na tela virtual do dispositivo, cujo contraste está no máximo, de modo que barre completamente a luz anterior a esta barreira holográfica.

A porta espessa de ferro se abre, uma sala redonda se apresenta, ao centro um pequeno totem sustenta uma minúscula caixa transparente e dentro da caixa uma ínfima bolota preta expele uma fumaça também negra que se espalha e some como um éter.

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