Capítulo 7

99 10 7
                                    

Os minaretes em torno do prédio, ornados com domos coloridos, abrigam a Prefeitura de Distopx. Do alto de uma das torres, o prefeito observa as ruas vazias da cidade industrial. O velho, gordo e barbudo, respira pesadamente enquanto sua áurea índigo vasculha inquieta os movimentos entre uma e outra lufada do fogo que irrompe das chaminés da fábrica de metais.

Sua busca é interrompida pela porta. Ao ouvir as batidas, sua sebosa figura despenca na poltrona atrás de uma mesa bruta de madeira envernizada de um tom escuro e brilhante. O homem recolhe um charuto, e autoriza a entrada dos visitantes.

— Sr. Ivan — um homem enorme, com a pele cor de bronze e uma áurea laranja chamativa está à porta. — Desculpe o incômodo a essa hora, mas poderíamos entrar?

— Claro, Rodolfo. Fique à vontade.

O homem faz um sinal para alguém no corredor, entra na sala repleta de mobília marrom e um grosso carpet com cheiro de tabaco, ao mesmo tempo em que é seguido por dois outros laranjas que trazem uma mulher amordaçada e vendada.

— Senhor, precisamos de uma audiência. Essa mulher ocultou uma infiltrada em nossa cidade. A mulher que fugiu de mim... há algumas semanas. O senhor deve se lembrar, não?

— Claro... Claro... — o velho acende o charuto e bafora abundantemente, deixando a sala repleta de uma fumaça branca e mal cheirosa. — Como sabem que foi essa aí quem a abrigou?

— Infelizmente não tenho provas materiais... Foram vistas juntas, nos trens, nas fábricas, na Igreja...

— Na Igreja? — outra baforada fedorenta, precedida pelos estalos da combustão da brasa de uma profunda tragada — Isso torna tudo muito mais... Pecaminoso.

Rodolfo, não entende bem a observação dita pelo velho. Seu senso prático permite apenas que respostas claras sejam compreendidas e ele espera que apenas uma ordem de execução seja proferida por Ivan.

— Senhor... Desculpe, mas podemos ser mais diretos? Pode autorizar a execução?

— Calma rapaz... Ainda não ouvi a outra parte... Isso não seria um julgamento justo e não somos selvagens. — Ivan dá outra baforada. — Tirem essas coisas do rosto da mulher. Tenho perguntas a fazer... E peça que seus homens aguardem do lado de fora.

Rapidamente, Rodolfo obedece e, ordena aos homens que desamarrem a venda e a mordaça e que esperem por ele do lado de fora da sala. Apesar de estar com o rosto ferido, possivelmente, por alguns socos e tapas liminarmente presentes em qualquer detenção que ocorra em Distopx, o velho reconhece Diana. Aguarda que os homens saiam e que a grossa porta de madeira esteja completamente fechada.

— Diana, a quanto tempo não nos falamos... — o prefeito se aproxima da mulher, observando curioso as marcas de pancadas em seu rosto, seu lábio inferior inchado com uma bolha de sangue coagulado. — A última vez foi quando? Ah! Creio que tenha sido na inspeção que realizei na indústria de carne... Não foi?

Diana não consegue responder a pergunta. Está zonza e tenta reconhecer o lugar e o homem que lhe fala. Seu olho esquerdo está bastante inchado e uma lágrima corre por cima de um risco de sangue que secou ao esguichar de seu supercílio.

— Ei! Diana!! — o prefeito estala os dedos em frente ao rosto da mulher. — Está me vendo, senhorita?

— Sim... — Diana escolhe a vista tentando fitar seu interlocutor.

— Muito bem... O que esses cavalheiros me informaram é muito grave. Ocultar uma infiltrada aqui? Na nossa cidade? Por que alguém faria isso? — ele traga novamente, a brasa queima ruidosamente emitindo um clarão vermelho que acompanha a claridade exterior gerada por uma das chaminés. — Por que deixar algo assim atrapalhar seu trabalho, sua produtividade? Está desmotivada? É isso?

GLORXOnde histórias criam vida. Descubra agora