CAPÍTULO 8

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ANNIE

Eu seria uma completa mentirosa se dissesse que o encontro com o Luke na noite anterior não mexeu comigo.

Eu ainda sentia o coração palpitar e quase sair da minha boca só de lembrar do exato momento em que esbarrei nele. Me arrepiava quando as lembranças de seu toque na minha pele me atingiam com força. Meu estômago embrulhava de nervoso quando eu me lembrava da proximidade com que estivemos um do outro.

Deus. Por que eu tinha que me sentir assim? Todo esse tempo depois e o Luke ainda mexia comigo dessa forma? Isso era patético!

Eu achei que tinha esquecido ele. Jurava que sim. E tinha seguido a minha vida, encontrado uma pessoa que gostava de mim e que me tratava bem. Tínhamos construído um relacionamento saudável, com base na confiança um no outro, e eu estava feliz. Ou pelo menos eu achava que estava, até a noite passada.

Era inacreditável o efeito que ele ainda possuía sobre mim. Sua presença me paralisava e me anestesiava. Eu não me sentia assim com mais ninguém.

O nosso encontro havia mexido tanto comigo que a simples tarefa de trabalhar, no dia seguinte, exigia um esforço fora do comum pra mim. Eu tinha uma pilha de papéis pra entregar e um relatório imenso para enviar para uma auditoria interna, mas meu cérebro parecia não funcionar.

Ele não respondia aos meus estímulos. Eu tentava me concentrar, mas me lembrava do seu cheiro. Tentava escrever, mas me lembrava dos braços fortes dele. Tentava ler, mas me lembrava do seu toque.

Merda, Luke! O que você está fazendo comigo? Eu não era mais uma garota de dezoito anos que queria viver um amor proibido. Eu queria estabilidade. Precisava de estabilidade. Mas então, por que eu estava me sentindo daquela maneira?

O Luke tinha o poder de desconstruir tudo aquilo que eu achava que sabia. Ele sempre teve esse poder, e, aparentemente, ainda tinha, porque agora eu estava questionando tudo ao meu redor. Toda e qualquer mínima decisão que eu havia tomado na minha vida ao longo dos últimos quatro anos estava sendo posta em cheque, simplesmente porque ele voltou.

Aquilo era difícil. Esquecer o Luke foi difícil, e parecia ser humanamente impossível pra mim me reerguer quando ele escolheu ir embora. E agora, tudo aquilo que eu havia passado, parecia em vão.

Dá pra imaginar? Uma só pessoa ter o poder de desconstruir tudo que você demorou tanto pra construir ao longo dos últimos anos? Quando o Luke partiu, ele me deixou quebrada. E agora, quando finalmente eu tinha conseguido reunir os pequenos caquinhos de mim mesma, ele apareceu, fazendo ruir todo o meu castelo de areia novamente.

Eu estava perdida.

Completamente, inesperadamente e irresponsavelmente perdida.

—————

Quando finalmente cheguei em casa depois de um longo dia no escritório, eu estava exausta. Já passava das nove, e percebi que eu estaria em casa às seis se não tivesse perdido tanto tempo fantasiando sobre o meu antigo amor do passado. Meu nível de produtividade durante o dia tinha sido vergonhoso — nem mesmo o galão de cafeína que eu havia ingerido tinha conseguido me colocar de volta ao eixo depois que o furacão "Lucas Reed" chacoalhou a minha vida.

Tirei meus sapatos e me joguei na cama, deixando meu corpo cair enquanto meus cabelos se espalhavam pelos travesseiros. O Rocky subiu na cama junto comigo e me cumprimentou, como sempre fazia, com algumas lambidas na bochecha. Sorri, divertida com o carinho molhado que havia acabado de receber, e me afastei dele depois de alguns minutos para alcançar o meu celular dentro da bolsa, que estava em cima da minha mesinha de cabeceira.

Disquei o número do Adam e esperei que ele me atendesse. Sentia falta dele, apesar da confusão que minha mente estava agora. Praticamente não estávamos nos falando direito desde que ele havia ido pra Nova York — nossos horários não estavam batendo, e estávamos conversando apenas através de curtas e breves mensagens de texto trocadas ao longo da semana.

Talvez, se eu conversasse com ele, ele fizesse todas as minhas dúvidas irem embora. Na verdade, eu esperava e queria muito que isso acontecesse — que ele me lembrasse de quem eu era e do porquê estávamos juntos.

Esperei ansiosa e, depois de alguns toques, ele finalmente me atendeu.

— Annie? — ele perguntou, aparentemente surpreso por eu estar ligando.

— Oi, amor. — eu respondi.

— Não esperava uma ligação sua a essa hora. — ele informou.

— Desculpa, esqueci que em Nova York são três horas a mais do que aqui em Los Angeles. — eu falei, notando que havia esquecido completamente do fuso-horário.

— Está tudo bem? — ele indagou, de forma meio apressada.

— Sim. — eu esclareci —  Você parece meio ofegante. — notei — Está tudo bem?

— Sim, sim. — ele informou de imediato — É só que... eu estava dormindo e me assustei um pouco com o toque do celular.

— Ah, tudo bem. — eu lamentei — Desculpa, não queria ter te acord...

Querido, posso voltar amanhã? — ouvi uma voz feminina perguntar a ele do outro lado da linha.

— Quem está ai? — eu retruquei de imediato, ao notar que ele tinha companhia.

— Ninguém, é só a camareira. Ela acabou de bater na porta do meu quarto. — ele informou, um pouco nervoso.

— À essa hora? — eu rebati, com estranheza — Já passa da meia-noite aí.

— Sim... eu... havia pedido um serviço mais cedo na recepção do hotel... mas eles... — ele começou a se explicar, gaguejando.

— Adam, eu vou perguntar mais uma vez. — eu falei com firmeza, me colocando de pé no centro do meu quarto — Quem está aí?

— Eu já te disse, amor. — ele respondeu — Não é ninguém.

— Você está mentindo pra mim! — eu praticamente gritei — Eu ouvi uma voz de uma mulher vinda de dentro do seu quarto! Já é tarde da noite em Nova York e você espera que eu acredite que a camareira do hotel está em seu quarto?!

— Annie, eu posso explicar...

— Nem se dê ao trabalho! — eu bradei — Aproveite sua noite, Adam. Espero que valha a pena.

Desliguei o telefone e senti meus olhos marejarem. Eu simplesmente não conseguia acreditar. O Adam estava em Nova York com outra garota no quarto do hotel.

Como as coisas na minha vida ruíram de uma hora pra outra? Como eu havia permitido isso? Que diabos estava acontecendo comigo?

O Adam era o cara mais confiável que eu conhecia, e agora ele estava me traindo? Por que ele estava fazendo aquilo? Qual era o sentido de me pedir em casamento se ele era um filho da puta infiel? Por que ele estava fazendo isso comigo?

Senti a dor invadir com tudo o meu peito. Eu me sentia engana, traída, envergonhada... e tudo por causa de um imbecil que não era capaz de manter o próprio pau dentro das calças enquanto ficava alguns dias longe de mim.

Eu queria mata-lo! Como ele pôde?

Eu estava perdendo o controle de absolutamente tudo ao meu redor. Minha vida, tão cuidadosamente construída, estava desmoronando diante dos meus olhos e eu não podia fazer nada.

Um amor do passado retornou, meu noivo era um traidor e eu simplesmente estava no meio de tudo isso sem saber o que fazer.

E pior: sem saber o que sentir.

NocauteOnde histórias criam vida. Descubra agora