CAPÍTULO 9

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LUKE

Quarenta minutos.

Esse era o tempo que eu fiquei dentro do carro, parado em frente à casa da minha mãe.

Já estava anoitecendo e nuvens no céu anunciavam que uma grande chuva iria cair. Mas ali estava eu, há quarenta minutos, tentando criar coragem pra descer do carro e tentar conversar com minha mãe.

A Emma passaria o final de semana na Universidade e havia sugerido que eu aproveitasse esse tempo pra conversar com nossa mãe a fim de que pudéssemos colocar os pingos nos i's.

E eu queria isso. Muito. Sentia falta dela na minha vida. Mas, ao mesmo tempo, não queria ter que me sentir rejeitado por ela novamente. Eu havia tentado inúmeras aproximações ao longo dos últimos anos, mas não havia sido bem recebido por ela. E aquilo me doía, mas, ao mesmo tempo, eu sentia que não estava na posição de cobrar nada dela. Não quando fui eu o responsável por lhe causar tanto sofrimento.

Mas talvez estivesse na hora de colocar um ponto final em tudo aquilo. Talvez, só talvez, ela estivesse pronta pra me perdoar. E eu esperava muito que isso acontecesse.

Tomei uma rajada de coragem e saí do carro correndo, pra não me molhar. Quando finalmente apertei a campainha, minha mãe abriu a porta e me viu.

— Oi, mãe. — eu finalmente falei.

— Oi. — ela respondeu.

Seu olhar pra mim era frio e sem vida, e aquilo me machucava muito.

— Posso entrar? — questionei.

— Bem, foi você que comprou esta casa, não foi? — ela retrucou, me dando passagem.

— Mas ela é sua. — eu respondi, finalmente entrando e saindo da chuva.

— O que você quer, Lucas? — ela disparou, impaciente.

— Esperava que pudéssemos conversar. — eu expliquei.

— Você ainda vai continuar lutando?

— Sim. — assenti.

— Então não temos nada a ser conversado. — ela respondeu.

— Mãe, por favor. — eu pedi — Não podemos viver assim pra sempre. Você precisa me escutar...

— Não, Luke. — ela me interrompeu, com mágoa no olhar — Quem precisa me escutar é você. Quando você saiu pela porta a quatro anos atrás, eu te falei que se você fizesse essa escolha, que se você optasse por tomar esse caminho, você estaria sozinho. E eu falei, sério, Luke. E mesmo assim você foi, porque aparentemente lutar pra você era mais importante do que ter o meu amor. Então não apareça aqui dizendo que precisamos conversar ou que não pudemos viver assim pra sempre quando foi você quem fez essa escolha por nós.

— Então nunca vou ter o seu perdão?! — eu retruquei — Você não é capaz de aceitar e perdoar o seu próprio filho?

— Você não é mais meu filho, Luke. — ela respondeu, em alto e bom tom — E fez questão de deixar isso bem claro quando saiu por aquela porta.

As palavras dela me rasgaram por dentro. Eu sentia que meu coração havia sido atingido por estilhaços de vidro e que ele sangrava dentro do meu peito.

"Você não é mais meu filho."

Por muito tempo, quando meu pai morreu, eu tratei minha mãe mal e cheguei a dizer que ela não era a minha mãe. Mas agora, ouvindo aquilo dela, eu me arrependia profundamente daquilo, porque se fiz minha mãe sentir um terço do que eu estava sentindo naquele momento, eu podia imaginar o quanto ela estaria destruída.

Engoli o nó que se formou na minha garganta e dei as costas pra ela. Eu não encontraria perdão e salvação ali — pelo menos não enquanto ainda lutasse. Sai da casa correndo, me ensopando novamente por conta da chuva que, naquele momento, já estava mais forte, e entrei no carro de novo.

Aliás, eu nem deveria ter saído dele naquela noite. Teria me poupado muito sofrimento se eu tivesse escolhido não ir até ela. Agora, eu teria que ir embora com um coração partido e com a certeza que minha mãe não me tinha mais como filho.

Senti algumas lágrimas escorrerem do meu rosto e se misturarem com a água da chuva. Segurei o volante do carro com as duas mãos e abaixei a cabeça, esperando que, assim como a chuva, minhas lágrimas lavassem tudo que havia de ruim no meu peito.

Dei a partida no carro e sai logo dali. Eu não era bem vindo e não queria ficar ali nem mais um minuto.

Dirigi por alguns minutos, até que finalmente estacionei o carro na frente de um bar de quinta categoria. Eu precisava de uísque se queria sobreviver àquela noite chuvosa.

NocauteOnde histórias criam vida. Descubra agora