Capítulo 10

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Desde quando meu segredo veio à tona, tenho feito uma descoberta muito interessante. Tudo depende da maneira como você encara as coisas.

Digo isso porque meu mundo está de pernas pro ar, mesmo sem ter saído do lugar.

Quero dizer, ultimamente as ondas do mar não me causam arrepios, sentir a areia sob meus pés não é como voar.
Os pores do sol continuam lindos, mas observá-los não resolve mais meu dia.
E o hotel continua nos trinques mas tudo que eu quero é ficar longe dessa recepção.

O mundo em si, continua exatamente o mesmo, no mesmo ritmo, com as mesmas pessoas, mesmas belezas. Ainda vivo no paraíso. Mas não consigo mais compreendê-lo, ou desfrutar dele.
Não existe espaço pra uma mim na vibe alegre e leve que eu mesma coloquei nesse lugar.

Talvez porque não tenho mais com quem dividir minhas observações estranhas, minhas análises detalhadas e filosóficas, nem livros, não tenho quem me conte piadas ruins ou me indique um milhão de músicas.

Não tenho meu companheiro de crime, literalmente.

É como se metade de mim tivesse desaparecido e eu sinto sua falta.

Sinto sua falta pelos momentos bons que vivemos, pelos que nós ainda podíamos viver. Sinto falta de seu apoio e sua tranquilidade nesse momento tempestuoso, sinto falta de tudo.
E como sinto...

Fazem três semanas desde que minha vida foi virada do avesso por alguém que eu nem sei quem é. E nem consigo afirmar se isso parece uma eternidade ou apenas breves segundos de agonia.

Meu cérebro não faz mais questão de processas as coisas, apenas recebe estímulos e responde. Nenhuma emoção muito forte toma conta dos meus pensamentos, pelo menos nenhuma emoção positiva.
Estou apenas empurrando meus dias como posso, dessa vez sem ter um destino em vista.

Talvez o peso de carregar dois corações partidos seja demais pra mim.
O meu, e o do garoto que amo.

Não sei como Calum está e ando fazendo o máximo para não descobrir, infelizmente, não acho que ele esteja bem e eu não quero motivos pra me sentir pior.

Minha cortina nunca mais foi aberta e eu não posso me atrever a espia-la tão cedo. Também não podemos conversar no colégio, coisa que me faz agradecer por termos terminado o trabalho de história na semana em que eu estava de atestado. Ah... na melhor semana da minha vida.

Aquela história de deixar a poeira baixar foi a maior idiotice que eu já disse. Sempre que ela para de ser sufocante, meus pais chacoalham tudo de novo, e voltamos à estaca zero como se em uma tempestade de areia no deserto.

Eles não me dão um segundo se quer de trégua, há três semanas. Ficam no meu pé vinte e quatro horas por dia desde o acontecido, de um jeito nada agradável claro, e sim cruel, sufocante. Dá pra ver que estão descontando sua raiva em mim sem nenhum tipo de limite.  

Perdi a moral quando viram minha foto com Calum. O respeito deles quando disse que o amava. Mas quando, no meio de uma discussão agitada demais, revelei que estamos juntos há tanto tempo, perdi o posto de filha.

Minha palavra nunca mais vai ter valor pra eles, e nem nada que esteja relacionado a mim.

Dizem que o amor pode vencer qualquer coisa... não me conformo com o fato de que meu mundo não funciona assim.
Meu amor por Calum não venceu nada, nem mesmo o amor dos meus pais por mim.

Amor não está significando nada pra mim.

Estávamos andando na corda bamba, como Cal cantou aquele dia no colégio, e nós caímos feio. Soltei a única mão que podia me sustentar ou diminuir minha queda, porque acreditei que teria braços acolhedores, no mínimo respeitosos, lá em baixo.

Love - Calum HoodOnde histórias criam vida. Descubra agora