Love - Calum Hood

Capítulo 19

A rotina de Sydney não se parece nada com a de Noosa quando ela começa a existir. É como se fosse outra vida.
Talvez, porque nós trocamos de fase,por assim dizer, deixando o colégio para trás e encarando a vida adulta de frente e sozinhos.

Não vou dizer que é perfeito, um mar de rosas. Tem dias que sinto vontade de me atirar da janela ao invés de limpar a casa, ás vezes passar fome parece uma ideia melhor do que ter que cozinhar alguma coisa, e outros momentos em que só quero desativar o despertador e fingir que ele nunca tocou.

Mas existem momentos bons. Muito, muito bons.

Todos eles envolvem Calum.
Ter nosso espaço e a nossa liberdade não tem preço, conhecer uma cidade totalmente nova com ele, curtir todas as coisas que nós sempre fizemos planos juntos e pensávamos que seriam impossíveis de serem alcançados.

Mesmo que esses momentos se encaixem no meio da luta diária pra manter nossa vida nos trilhos, ela absolutamente vale a pena.

É a prova que eu sabia que viria, a confirmação de que jamais vou me arrepender dessa escolha. Ter coragem pra enfrentar os medos e lutar pelo que te faz feliz não é fácil, mas vale cada instante de apreensão.

"Vegetais na prateleira de cima da geladeira, peixes na do meio, e carnes na de baixo. Alimentos não perecíveis na esquerda e conservas do lado direito, temperos perto da porta." Me lembro da ordem da arrumação da dispensa do café, afinal é a primeira vez que preciso cuidar de uma entrega por conta própria.

May, a garota que ocupava essa vaga antes de mim, me explicou tudo com muita paciência durante minhas semanas de treinamento. Mas ainda assim eu confiro tudo várias vezes, já que, além de não querer decepcionar Ben, se não ficar organizado eu mesma vou me perder quando precisar buscar alguma coisa.

Felizmente não preciso cozinhar nada, seria muita pressão pro meu lado. A cozinheira é Gil, uma mulher de cinquenta e poucos anos com uma paciência e humor que eu nunca vi na minha vida, é ótimo passar o tempo aqui atrás com ela.
Mas apesar de não estar por conta dos temperos, todo o resto da cozinha é comigo. Montar os pratos, organizar os pedidos, lavar a louça. Eu nunca estou atoa aqui.

–Achei você, finalmente! – ouço uma voz doce e logo braços envolvem minha cintura, me pegando despreparada em um abraço – Estava com saudades.

Meu coração dispara.

–Me solte imediatamente! – digo alerta, mas o garoto já tinha se afastado antes mesmo que eu mandasse.

–Cacete, você não é a May! – ele diz, horrorizado – Me desculpa!

–Sempre importante conferir. – respondo sem graça.

–Desculpa de verdade. – ele repete, parece sincero – Nós sempre nos encontramos aqui, você está de uniforme e cabelo preso... foi mal mesmo. Sou um panaca.

–Está tudo bem, enganos acontecem. – digo para tranquiliza-lo – Estou trabalhando no lugar dela há uma semana, e tenho certeza de que você não devia estar aqui atrás.

Ele me olha perdido.

–No lugar dela?

–Ela ganhou uma bolsa de estudos na Universidade da Tasmânia pelo que sei – explico terminando de guardar alguns vegetais da entrega.

–Ela já foi?! – ele parece não estar entendendo nada.

Totalmente desnorteado.

–Sim, e eu não tenho mais nenhuma informação que possa ser útil pra você. – assinto – Então vou pedir, mais uma vez, pra você sair da área dos funcionários.