A vida muda num instante

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Foi com um misto de prazer e apreensão que atendi aquela ligação, após tanto tempo de silêncio. Eu havia bloqueado todos os números pelos quais ele poderia me contactar. E assim que desbloqueei o número conhecido ligou.

_ Como você está Emili?

_ Estou tentando ficar bem.

_ Preciso te ver pequeña! Preciso ver com meus olhos que você está realmente bem.

_ Não posso Pablo! As coisas estão complicadas agora.

_ Não me diga que aquele bastardo...

_ Não. _ interrompi _ Ele está na casa dos pais e eles vem buscar os meninos nos finais de semana. Mas ele pediu a guarda Pablo!

_ Não te preocupes. Sabe que jamais conseguiria tirá-los de ti. Vocês são perfeitos juntos.

_Eu sei. Mas espere um minuto... como você sabe isso?

_ Precisava te ver... observei você algumas vezes de longe. Eu os vi juntos.

_ Porque fez isso?_ soei apavorada

_ Estava preocupado. Sei que prefere manter distância nesse momento, mas eu precisava saber que está bem e você me bloqueou completamente.

_Por favor Pablo não faça nada que possa me comprometer! Não posso ser vista com você... Sérgio não é tolo e logo faria uma conexão.

_ Tranquilo mi pequeña. Jamais faria algo que possa prejudicá-la.

_ Escute Pablo, não há nada mais importante para mim do que meus filhos. Se para não perdê-los for preciso ficar numa boa com Sérgio, será isso o'que farei. Melhor não nos falarmos mais, nem mesmo por telefone e por favor não me procure... não torne tudo mais difícil.

_Oque está dizendo?!

_Não insista por favor! Preciso me acertar com Sérgio. Nós vamos ficar bem e tudo vai se resolve. Mas  por favor fique longe de mim!

_Emily por favor não faça isso...

Desliguei antes de que terminasse, não suportaria ouvir a mágoa em sua voz. Ele conseguiria muito facilmente me fazer mudar de ideia, pois tudo oque eu mais precisava no momento, era da proteção dos seus braços. Só eu sei o quanto eu queria que me fizesse mudar de idéia.

Durante aqueles longos meses em que durou o processo, houveram duas tentativas de conciliação rejeitadas por ambos. Após algumas intimações e comparecimentos ao fórum entramos em um acordo. Sergio abriria mão da casa e pagaria a pensão dos meninos, ficaria com as economias em nossa conta conjunta e com os carros. Teria direito a visitas e eu permaneceria com a guarda definitiva.
Foi desgastante e quando finalmente acabou me sentia emocionalmente esgotada. Oque me manteve de pé, além dos meninos, era o projeto que estava indo de vento em popa apesar de tudo, e a amizade das meninas, que não me deixaram esmorecer um segundo.

Começamos a trabalhar em casa mesmo, transformando um dos quartos em oficina e junto com as duas novas integrantes da confraria, coloquei as minhas ideias em prática. Nossa meta era abrir nossa própria loja, mas enquanto esse dia não chegava, criariamos e venderiamos peças exclusivas para lojas nos shoppings. A procura por nossas peças exclusivas crescia dia a dia e já contávamos com inúmeras clientes, incluindo é claro as integrantes da confraria e garotas propaganda da marca GG.

A vida seguia em frente apesar da dificuldade para os meninos se adaptarem a essa nova realidade, foi sofrido e conturbado. Doía responder a perguntas do tipo "Papai não gosta mais de nós?" ou "Ele foi embora por minha causa?". Mas aos poucos foram se habituando e cada dia era um passo para a normalidade. Precisei me dedicar ainda mais aos dois, Mat estava passando pela terrível fase da adolescência e estava bastante agressivo. Fui chamada na escola inúmeras vezes por causa de brigas e era terrível ter de dar explicações a completos estranhos, mas inevitável. Encontrei apoio na professora e nos unimos para suavizar esse momento complicado. Em uma de minhas longas conversas com os dois Mat me surpreendeu de modo terrível.

_Mãe, o pai foi embora por minha causa. Não sou filho dele e ele se cansou de bancar o meu pai.

_ Não diga bobagens Mateus. Sabe muito bem que seu pai ama você tanto quanto ao Pedro. Nunca houve diferença entre vocês no coração dele. Houve?

_ Não mãe. _ murmurou _ Mas tem um menino na escola que disse que o pai dele foi embora porque ele não era seu filho.

_ Foi por isso que você brigou na escola?

_Sim.

_Amor talvez o pai desse garoto não soubesse disso e ficou triste ao saber, por isso foi embora. Seu pai escolheu você como filho, ele decidiu te amar e te aceitar, você é filho do coração.

_Eu sei mãe... vocês sempre diziam isso. _ sorriu como a muito não fazia.

_ E algo mudou entre vocês? _indaguei preocupada

_Não sei, mas o pai está diferente. Parece mais distante.

_Querido, tem sido difícil para todos nós. Mas o seu pai ama você, assim como eu.

_ Tudo bem mãe... me desculpe.

_Muito bem. Que tal me dar uma abraço e deixar de criar caso com seus colegas da escola?

Pedro assistia tudo calado e com ar preocupado, pude ouvir seu suspiro de alívio ao ver que tudo correu bem.

Como se tirasse um peso dos ombros.

_Oque foi Pedro? Você também está preocupado com algo?

_ Não mãe. Sei que você e papai nos amam. Mas Mat me preocupou com essa história... odeio ver a senhora tão triste assim. Quero ajudar mas não sei oque fazer.

_Ah meu bem. _ sussurrei chorosa _ Você é um ótimo filho e o melhor irmão do mundo! O'Que mais posso querer? _ abracei os dois bem forte. _Sei que tenho estado triste , mas prometo que vai passar. Quanto a Mat foi uma preocupação legítima, mas já foi esclarecida, não é Mat?

_ Sim mãe. Desculpe Pedro, tenho sido egoísta. Prometo melhorar daqui pra frente.

_ Tudo bem Mat. Sou menor e mais criança que você, mais se precisar pode contar comigo!

_ Valeu irmãozinho... não vou esquecer disso.

Foram jogar videogame enquanto eu ficava ali observando os dois e fazendo força para não chorar. Mas dessa vez era de orgulho por ter filhos tão maravilhosos e não de tristeza como vinha acontecendo. Decidi ligar para Sérgio e contar sobre a conversa com Mat e acabei ouvindo desaforos, mas valeria a pena se ele tirasse aqueles pensamentos da cabeça do filho.

_ Eu poderia dizer que saí de casa porque a mãe dele é uma vadia.

_ Eu poderia dizer muitas coisas sobre você, mas não que seria capaz de magoar nossos filhos apenas por estar com o orgulho ferido.

_ Jamais magoaria os meninos de propósito Emili. Conversarei com Mat na próxima visita.

_ Obrigada.

_ Não faço por você.

_Eu sei disso Sérgio... mas que droga! Será assim toda vez que for obrigada a falar com você?

_ Sabe que eu te odeio não é?

_É uma pena Sérgio, porque eu não sinto absolutamente nada por você.

Desliguei para evitar prolongar a discussão. Nunca havia percebido esse lado de Sergio, cruel e vingativo. Ele estava mais amargo que nunca. Mesmo tendo mil motivos para odiá-lo, não conseguia desejar mal a ele. Desejava sim, distância e só falava com ele o estritamente necessário e apenas sobre os meninos. Me sentia quebrada, como se nunca pudesse ter concerto e não me sentia capaz de voltar a confiar em outro homem. Dividir minha vida com alguém... só de pensar nisso me estômago ficava embrulhado. Mas ainda assim, preferia que ele fosse feliz.

Gente feliz não tem tempo para infernizar a vida dos outros.



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