Capítulo 22

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Mary Beth foi para a biblioteca fazer a sua lição, mas decidi ir com a saltitante Mary Jo para o treino de animadoras de torcida. Nunca havia estado numa escola com animadoras de torcida antes, e fiquei um pouco curiosa. Além disso, tinha ficado o dia todo sentada na sala de aula e ia ser bom fazer algo fisico.
- É divertido, não é dificil - me confidenciou Mary Jo enquanto caminhava ao meu lado. - A maioria das garotas não é muito boa, e por isso fazemos movimentos bastantes simples. Todo mundo consegue. Tenho certeza que você vai pegar logo o jeito, se quiser participar.
Minha primeira olhada para a equipe de animadoras de torcida de Indian Valley High School me demonstrou que Mary Jo com certeza estava certa. Elas não tinham a manha. Movimentos de pernas com os joelhos dobrados, pompons sacudindo de qualquer jeito, uma bagunça total. Depois que elas terminaram uma série, Mary Jo me apresentou a todas. A escola era tão pequena que a maioria já sabia quem eu era.
-E, então, você vai nos ensinar algum número de animadoras de torcida nova- iorquinas? - perguntou uma ruiva grandalhona, com um ar algo desafiador.
-Nunca fui animadora de torcida -respondi. - Minha escola não tinha time de rúgbi.
- Não tinha? Mas que tipo de escola era essa? - perguntaram elas me olhando com piedade, como se eu viesse de uma escola para deficientes e retardados.
- Tinhamos várias outras atividades- expliquei. - Um ótimo grupo de teatro,
dança, arte...
Reparei que várias delas começaram da dar risadinhas com as mãos sobre os labios. Provavelmente estavam achando que eu vinha de uma escola de burguesinhos afrescallhados.
- Você é muito bem-vinda para assistir a nós hoje e julgar se vai ser capaz de fazer as series que fazemos - disse outra garota com gentileza.
Era a garota que Mary Beth tinha me apresentado antes como a secretária do Clube de Alunos.
-Apesar de que já estamos no meio do semestre - continuou ela. - A gente ensaiou bastante desde agosto, e, se você não tem nenhuma experiência, vai ser dificil.
-Vou tentar - repliquei. - Eu aprendo rápido.
Sentei-me educadamente e assisti ao ensaio. Depois de algum tempo algo começou a me inquietar e impulsivamente perguntei:
-Vocês não fazem séries de semimortais, ou piramides?
-Nós fazemos estrelas - respondeu outra garota.
Não consegui resistir mais.
-Mas nada como isto? - perguntei com doçura.
Então fui para perto delas e fiz uma série de semimortais percorrendo toda a extensão do salão. Quando terminei, havia um silêncio absoluto.
-Onde você aprendeu isso? - alguém perguntou por fim.
-Eu fiz ginástica olímpica durante anos.
-Nossa! Você está indo para as Olimpíadas ou algo parecido?
-Não sou boa o suficiente para isso. E cresci demais, fiquei muito alta. Foi por isso que parei. Mas cheguei ao nivel mais alto.
- Faça isso de novo, Amber! - pediu Mary Jo, excitada.
Fiz uma nova demonstração.
-Será que você conseguiria ensinar algo disso para nós? - perguntavam todas, agora me rodeando no auge do entusiasmo.
-Poderia ensinar a vocês algumas acrobacias basicas -respondi. - Isso tornaria as séries de vocês bem mais divertidas e atraentes.
-Com certeza! - disse Becky. - Faça algo mais para a gente ver.
Então fiz tudo de que me lembrava: piruetas, paradas de mãos, estrelas sem mãos alguns saltos-mortais de frente e de costas. Elas ficaram impressionadissimas.
-Esperem só até aqueles garotos do rúgbi verem isso! - comentou Mary Jo. - Eles se acham o máximo!
Olhei de um rosto para o outro. Apenas quisera demonstrar a elas que não era uma burguesinha que pensavam que eu fosse e que Nova York era melhor do que o Wyoming. Não pretendera dar inicio a um verdadeiro movimento feminista na Indian Valley High School, mas parecia que era exatamente isso o que acabara de fazer.
-Talvez a Amber pudesse nos ensinar uma série nova para o jogo de sabado -sugeriu Becky. - Sei que a gente não poderia aprender essas coisas que ela faz até lá, mas poderíamos aprender o suficiente para surpreender as pessoas. Fazê-las se levantarem dos assentos e repararem em nós.
Elas se aglomeraram ao meu redor.
- É, boa idéia! O que você acha, Amber? - perguntaram. - Você poderia ensinar alguns desses truques para a gente? Talvez haja alguns mais fáceis e que impressionem bem...
Elas estavam tão excitadas que queriam começar imediatamente. Tive de me esforçar para me lembrar das minhas primeiras aulas e fiz com que todas elas plantassem bananeiras contra a parede. Uma coisa ficou clara desde o começo todas tinham bons musculos, por causa dos afazeres do campo. Lá pelo fim da tarde já haviam aprendido truques básicos, e então comecei a ensina-las a fazer uma pirâmide. Era muito simples, e logo subi ao topo escalando os fortes ombros de uma garota parruda.
-Tchã !- gritou uma das que olhavam, e todo mundo aplaudiu.
Olhei ao redor e percebi que alguns dos garotos do time de rúgbi tinham estrado sorrateira e silenciosamente no salão, e que Rich estava lá também, a apenas alguns metros, olhando para nós. Não sei porque, mas aquilo me desequilibrou. Já fizera acrobacias na frente de outras pessoas muitas vezes. Talvez as outras garotas tenham ficado nervosas todas ao mesmo tempo ao reparar que os jogadores de rúgbi estavam lá. Tudo o que sei é que de repente os ombros de Alison começaram a tremer como se houvesse um terremoto,e perdi o equilíbrio
- Ai! gritei enquanto caía.
Mas subitamente uns braços fortes me seguraram no ar.
- Não se preocupe, peguei você! - disse Rich.
Ele estava me olhando com uma expressão preocupada, e me senti alterada pelo calor e pela proximidade dele, pela potência de seus braços fortes me enlaçando.
-Obrigada - murmurei. - Mas não precisava se preocupar. Nós, ginastas, sabemos como sair  corretamente.
-Desculpe - disse ele, meio tenso. -Tudo o que vi foi você e o chão prestes a se encontrarem.
Lembrei-me de como gritara com ele na noite anterior. Não tinha o direito de fazê- lo se sentir mal de novo.
-Como é que você poderia saber?- observei. -Obrigada.
Os olhos dele sorriram para mim.
- Foi uma acrobacia realmente impressionante. Não sabia que você tinha trabalhado para o circo em Nova York - concluiu Rich enquanto me depositava no chão.
- Pois é- repliquei, sorrindo para ele. - Domadora de feras.

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