Capítulo 49

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Não escutei Brendan se aproximando de mim por trás, e dei um salto quando colocou a mão sobre o meu ombro.
-Enfim sós - sussurrou ele. - Estava começando a achar que nunca ia conseguir ficar a sós com você durante toda a viagem, com esse seu avô abelhudo e a fedelhinha da sua irmãnzinha sempre por perto. Mas agora temos a desculpa perfeita, estamos procurando nos manter aquecidos.
Tentou me puxar para perto de si, suas mãos deslizando para dentro da minha japona, mas o repeli sacudindo o meu corpo.
-Brendan, não - disse com firmeza.
Ele estava sorrindo.
-Ah, sem essa, Amber. O que é que há agora? Você está tão tensa. Relaxe...
-Sinto muito, Brendan -repliquei. - Foi muito bom da sua parte vir me visitar, e eu estava apenas tentando levar as coisas em banho-maria até o fim da sua estadia, sem lhe contar a verdade. Eu... eu acho que fui uma covarde, mas é que não queria ferir os seus sentimentos.
Brendan deu uma risada curta.
-O quê? Você está tentando me dizer que não me quer mais?
-Acho que sim - respondi.
Respirei fundo e comecei:
-Entenda, Brendan, eu...
Mas antes que eu pudesse continuar, ele me agarrou.
-Este ar frio deve estar afetando o seu cérebro - concluiu, começando a esfregar os seus lábios nos meus. Ele me agarrava com tanta brutalidade que estava começando a doer.
-Não, Brendan! - exclamei, empurrando-o com toda a minha força. Ele saiu voando para trás e aterrissou na neve. Até então não tinha percebido ainda o quanto todos aqueles afazeres no sitio haviam fortalecido os meus músculos. Brendan parecia estarrecido, e bastante bravo. Ele se ergueu cambaleante.
-Puxa, você mudou mesmo -reclamou.
- Sinto muito - desculpei-me. - Não queria empurrá-lo desse jeito. Mas você esta certo, Brendan. Eu mudei. Coisas diferentes são importantes para mim agora.
"Rich é importante para mim agora", quis dizer, mas Brendan me cortou.
-É, já percebi. Você não é mais divertida nem interessante. Ficou tão entediante e sem graça quanto todo mundo por aqui. Não vejo a hora de ir embora deste maldito lugar amanhã de manhã.
Voltou para dentro da choupana, batendo a porta atrás de si. Fiquei lá parada, sozinha na noite, sem saber o que fazer em seguida.
-Belos músculos, moça - disse uma voz no meio da escuridão. - Acho que vou
inscrevé-la nos torneios de laço ao novilho na próxima primavera.
Virei-me e vi a silhueta de Rich inclinada contra o tronco de um grande pinheiro.
-Você viu a cena toda?
Ele fez que sim com um movimento de cabeça.
- Estava quase indo salvá-la, mas logo vi que você não ia precisar de mim.
-Esta muito enganado - retruquei. - Preciso de você, sim.
-Ah é?
-É -respondi, respirando fundo. -Estive procurando um jeito de contar a verdade a Brendan desde que ele chegou. Para começar nem mesmo queria que viesse, mas fui covarde demais para dizer isso a ele.
Os olhos de Rich brilhavam com o luar.
- Bom, isso não é completamente verdade - continuei devagar, já que era muito difícil dizer o que tinha a dizer com aqueles olhos de Rich penetrando direto em minha alma. - Queria checar se ainda guardava algum sentimento por Brendan. Tinha lembranças tão boas, Rich. . Queria ter certeza de que estava chegando à conclusão certa.
-E qual é a conclusão certa? - ele perguntou com firmeza.
-Que não pertenço mais a Brendan nem a nenhum dos meus amigos de Nova York. Eles não sabem o que é verdadeiro.
- E o que é verdadeiro? - indagou baixinho, agora tão próximo de mim que eu tinha dificuldade para pensar com clareza.
-Você e eu - sussurrei. - Acho que o que existe entre nós é muito, muito
verdadeiro. Não tinha percebido isso até ontem, Rich. Nada em toda a minha vida me magoou tanto quanto saber que havia ferido você. E então decidi que faria qualquer coisa que pudesse para consertar a situação e fazer tudo voltar a ser como era antes.
Lentamente seus braços se fecharam ao meu redor.
-Pois acho que você conseguiu - disse ele.
Os labios de Rich estavam surpreendentemente quentes quando encontraram os meus. Nem sei por quanto tempo ficamos là, nos abraçando com força enquanto a
neve cintilava a nossa volta. Quando finalmente nos separamos, ele riu.
-Acho melhor a gente entrar. Não seria nada bom sermos encontrados congelados juntos assim amanhã de manhã.
-Não posso imaginar um jeito melhor de morrer -afirmei, contemplando-o com adoração.
- Vamos lá - disse ele, tocando na minha bochecha. - Ajude-me a carregar estas toras.
-Bem que gostaria de poder entrar lá com uma fumegante garafa de cappuccino.- comentei rindo.- Ia adorar ver a cara de Mandy!
Na manhã seguinte acordamos com o barulho do ronco dos motores. Um
helicoptero estava voando baixo por cima de nossas cabeças, e descemos correndo até a linha principal, onde demos de cara com um limpa-neve. Meus pais e varios de nossos vizinhos estavam bem atrás dele.
- Graças a Deus que vocês estão a salvo! - exclamou meu pai com uma voz trêmula, me abraçando com seus braços enormes. - Ficamos tão preocupados quando vieram inspecionar a avalanche e disseram que tinham visto a camionete mas nenhum sinal de vida...
-Bah, nem precisava se preocupar com a gente - disse eu sorrindo e segurando a mão de Rich. - Tinhamos um autêntico homem das montanhas conosco. Ele tomou conta de todos muito bem. Tudo esta simplesmente maravilhoso - respondi, me virando para sorrir para Rich.
Ele se inclinou para me beijar.
-Para ser mais exata - continuei -, tudo está perfeito.
Tão perfeito que me dei conta até de que estava ansiando mais do que nunca por terminar o colegial ali mesmo, no Wyoming, com minha família,meu avô... e, é claro com Rich.

Coração divididoOnde histórias criam vida. Descubra agora