[67] meio do mato.

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Sina.

— Eu não acredito que você me trouxe para o meio do mato, Sina. — Noah reclamou pela terceira vez em menos de cinco minutos. — Se você quisesse me sequestrar, era só me avisar, princesa. Você sabe que eu deixaria sem problema algum. — Soltei um suspiro irritado.

— Talvez se você calasse a boca e fosse um pouco menos babaca, nós chegaríamos mais rápido. — Respondi, afastando um galho e segurando para ele poder passar.

— Não vejo como isso iria ajudar. — Retrucou e eu apenas fiquei em silêncio. Eu o tinha trazido para o meu lugar de paz. Foi o primeiro lugar em que havia pensado em vir depois do que vi mais cedo.

A situação toda se complicou ainda mais quando Noah viu a mesma coisa que eu. É claro que eu sabia sobre isso, praticamente desde quando começou. Bailey não era bom em esconder as coisas e eu era esperta demais para não perceber.

A garota não sabia sobre mim, mas eu sabia sobre ela. E Bailey disse que tinha parado de vê-la, mas obviamente essa foi mais uma de suas mentiras. Estava tão perdida nos meus pensamentos que soltei um galho sem querer na cara de Noah. Só percebi o que tinha feito quando ele praguejou baixinho.

— Caralho, Sina! Eu poderia ter ficado cego! — Ele reclamou e eu apenas dei de ombros.

— É só você prestar mais atenção.

— A culpa foi sua, e você sabe. — Finalmente chegamos ao destino final. Era uma espécie de penhasco, o céu ficava incrivelmente lindo daqui. Todas as vezes em que me sentia incomodada ou pressionada com algo, eu vinha para cá. Esse lugar era o meu santuário, e eu nunca tinha o dividido com ninguém. Até agora.

— Chegamos, senhor reclamão. — Me virei para Noah e vi os seus olhos brilhando de emoção. Sorri ao perceber que mesmo sem dizer nada, ele entendia o significado daquele lugar.

— Uau. É lindo. — Um sorriso bobo se espalhou em seu rosto.

— Eu sei. Encontrei esse lugar uma vez quando fugi de casa. Eu pretendia chegar na Flórida e acabei chegando aqui. — Ele riu e se aproximou.

— Não sabia que você era uma criança rebelde. — Sorri.

— Você não sabe muitas coisas sobre mim, Urrea. — Seu rosto ficou sério no mesmo instante.

— Não sei mesmo. Inclusive não sei o motivo de você ter preferido falar comigo do que terminar com o seu namorado, que te traiu.

— Não vou terminar com ele. — Respondi, dando de ombros.

— O quê? — Seu tom era incrédulo.

— Não vou terminar com o Bailey. — Falei pausadamente.

— Você só pode estar de brincadeira.

— Te garanto, eu não estou brincando.
— Ele passou a mão pelo rosto, e depois pelo cabelo, como se estivesse frustrado.

— Você acabou de descobrir que ele te trai, Sina. Como você pode não terminar com ele? — Tinha certeza de que estava frustrado, apenas pelo seu tom de voz.

— Eu não acabei de descobrir. Eu já sabia, desde o verão. Aquela fase que você me perguntou? Foi essa fase. E aparentemente ela não passou. — Não sabia como minha voz pareceu tão firme, estava mais frustrada que o Noah.

— Então, me deixa ver se eu entendi. Você é corna desde o verão, sabe disso, e aceita levar chifre sem mais nem menos? — Dito assim parecia ridículo, e na verdade era mesmo.

— É mais complicado do que isso, Noah. — Ele soltou uma risada sarcástica.

— Para mim não parece nada complicado.

— Não parece porque não é você quem está passando por isso. Eu sei o que você deve estar pensando, que eu sou burra e estúpida por aceitar toda essa merda. — Ele tentou negar, mas eu o interrompi. — Não se dê ao trabalho de negar, eu consigo ver no seu olhar que é exatamente isso que você está pensando. Mas, sabe de uma coisa? Você não sabe de nada. Você não sabe o que eu senti quando descobri, ou de como foi difícil guardar isso só para mim, sem poder contar ou desabafar com ninguém. Você não sabe o quão difícil é ver o meu namorado saindo todos os dias e ficar em casa me perguntando a todo momento se ele está a vendo ou não. Você não sabe nada disso, Noah. Você também não sabe o quão difícil foi lidar com isso tudo. Sabe desde quando eu conheço o Bailey? Desde que nasci. Nós somos grudados desde sempre. Todas as minhas lembranças de infância têm o Bailey nelas. Eu passei a minha vida inteira ao lado desse garoto e eu não consigo imaginar uma vida que não tenha ele nela. Ele faz parte de quem eu sou e sempre vai fazer. — A última parte saiu como um sussurro e não percebi que estava chorando até sentir os dedos gelados de Noah encostando no meu rosto, limpando as lágrimas.

— Eu sinto muito, princesa. Desculpe por ter te julgado. — Sua voz rouca causou arrepios no meu corpo, e uma corrente elétrica passou pela minha espinha quando ele tocou os meus braços. — Mas não vou me desculpar por achar o Bailey um idiota. Ou por querer socar ele. Ou por achar que você merece alguém muito melhor do que ele. — Ele me puxou, me envolvendo em seus braços.

— E quem seria esse alguém melhor? Você? — Minha voz saiu abafada contra o seu peito.

— Claro que não. Você é boa demais para qualquer um. — Não sabia o que responder, então apenas fiquei em silêncio e Noah não me forçou a falar mais nada. Não conseguia pensar em um lugar melhor que não fosse o abraço de Noah Urrea.

PERFECTLY WRONG ↯ noartOnde histórias criam vida. Descubra agora