『13』Vozes De Ninguém.

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      Lilium observou, espantada, um fantasma imponente se aproximar da mesa, abaixar-se e atravessá-la, a boca aberta de modo a engolir um salmão fedorento.

— O senhor pode provar a comida quando a atravessa? — perguntou-lhe Harry.

— Quase — respondeu o fantasma triste e se afastou.

— Imagino que tenham deixado o peixe apodrecer para acentuar o gosto — disse Mione em tom de quem sabe das coisas, apertando o nariz e se debruçando para examinar o picadinho pútrido.

— Podemos ir andando? Estou me sentindo enjoado — disse Rony.

 Nem bem tinham se virado, porém, quando um homenzinho saiu voando de repente de debaixo da mesa e parou no ar diante deles.

— Olá, Pirraça — cumprimentou Lilium, com um sorriso maroto.

 Ao contrário dos fantasmas à volta, Pirraça, o poltergeist, era o oposto de pálido e transparente. Usava um chapéu de festa laranja-vivo, uma gravata-borboleta giratória e exibia um largo e maldoso sorriso no rosto.

— Aperitivos — disse simpático, oferecendo aos garotos uma tigela de amendoins cobertos de fungo.

— Não, muito obrigada — disse Mione.

— Ouvi você falando da coitada da Murta — disse Pirraça, os olhos dançando. — Que grosseria com a coitada. — Ele tomou fôlego e berrou: — OI! MURTA!

— Ah, não, Pirraça, não conte a ela o que eu disse, ela vai ficar realmente chateada — cochichou Mione frenética. — Não falei por mal, ela não me incomoda, ah, alô, Murta.

 O fantasma atarracado de uma moça deslizou até eles. Tinha uma cara muito triste, meio oculta por cabelos escorridos e espessos, e óculos perolados.

— Que foi? — perguntou aborrecida.

— Como vai, Murta? — cumprimentou Mione fingindo animação. — Que bom ver você fora do banheiro.

 Murta fungou.

— A Srta. Granger estava mesmo falando em você... — disse Pirraça sonsamente ao ouvido da Murta.

 Lilium e Adhara trocaram olhares, e abafaram risadas.

— Só estava dizendo... dizendo... como você está bonita esta noite — completou Mione, fechando a cara para Pirraça.

 Murta olhou para Mione desconfiada.

— Você está caçoando de mim — disse, lágrimas prateadas marejando rapidamente os seus olhos penetrantes.

— Não, sério, eu não acabei de falar como a Murta está bonita? — falou Mione, cutucando dolorosamente Harry e Rony nas costelas.

— Ah, claro...

— Falou...

 As duas amigas resolveram nem se meter nessa.

— Não mintam para mim! — exclamou Murta, as lágrimas agora escorrendo livremente pelo rosto, enquanto Pirraça, feliz, dava risadinhas por cima do ombro dela. — Vocês acham que não sei como as pessoas me chamam pelas costas? Murta Gorda! Murta Feiosa! Murta infeliz, chorona, apática!

 Nesse momento, Lilium se sentiu mal pela garota, lembrava-se de quando ainda morava no orfanato, tinha que aguentar todos os xingamentos, as provocações, as marcas, o escuro... E muitas outras coisas terríveis.

 Antes que a ruiva pudesse interferir, Pirraça foi ao ouvido dela e sibilou:

— Você esqueceu do espinhenta —, e Lilium mandou um olhar mortal para o poltergeist, que respondeu dando a língua.

A Potter Esquecida.Onde histórias criam vida. Descubra agora