Havia algo na atmosfera daquele lugar que intranquilizava Saoirse. Talvez fosse a monotonia que era inexistente em Nova York ou até a forma como as pessoas a encaravam.Ela crescera ali e agora era uma estrangeira, como o filho que retornara à sua casa mas em vez de abraços recebera olhares desconfiados de seus próprios familiares. No fim, aquela vizinhança realmente nunca fora seu lar.
E Saoirse sabia que apenas Emma a entenderia naquele momento tão aterrador em que todos estavam diante do túmulo de seu pai sob forte chuva e ela conseguia sentir os olhares. Sua mãe estava de seu lado chorando copiosamente, Saoirse segurou sua mão e ela se lançou em seus braços com seu corpo sendo sacudido pelos soluços.
Ela não chorava apenas pelo marido falecido, mas também pelo filho que sumira no mundo fugindo da família e não aparecera no sepultamento do próprio pai. Saoirse sentia pena dela mas sabia que não podia fazer muito por ela a não ser consolá-la.
Em meio aos rostos melancólicos levemente borrados pela chuva que caia de forma violenta, Saoirse se via procurando Emma que ela deduzia estar muito diferente da última vez que a vira.
As pessoas apesar da inicial estranheza, agora tentavam ser mais amistosas e afagavam seu ombro e diziam o de sempre.
- Ele era um bom homem.
- Ele sempre vai ser lembrado com carinho.
- Que Deus o acolha.
Todas estas frases davam calafrios em Saoirse mas ela tentava disfarçar apenas asssentindo a cada consolo e rezando para que tudo acabasse logo enquanto seus tios e primos lamentavam exarcebadamente a morte de seu pai. Leah, uma de suas amigas de adolescência se aproximou lentamente e apenas tocou seu ombro em silêncio.
- Meus pêsames pelo seu pai... - Disse ela de maneira tímida.
- Obrigada...
- Você ainda vai ficar aqui depois do funeral?
- Sim, por um tempo. Por causa da minha mãe, sabe?
- Entendo... Você já deve ter percebido que aqui não mudou nada.
- Sim. Onde estão todos? - Perguntou Saoirse ainda olhando para o túmulo do pai onde agora o coveiro jogava terra enquanto a chuva persistia.
- Alguns foram embora mesmo. Lucas foi um destes... O Timotheé veio aqui recentemente mas voltou logo.
- Onde está Emma? - Esta pergunta povoava sua mente desde que pisara na cidade naquele dia nublado e ao perguntar a Leah sobre todos ela esperava conseguir esse enigma.
- Está aqui ainda... Ela ajuda na mercearia da família como antes. Não a vi aqui no cemitério, na verdade, ninguém da família dela veio. - Saoirse sabia perfeitamente o porquê nenhum dos Watson aparecera mas decidiu evitar esse pensamento.
Ela está bem, concluiu Saoirse tentando se convencer disto porque sabia que a realidade era totalmente contrária. Emma queria seguir sua vida bem longe dali e segundo o que ela relatava talvez nunca mais retornar, mas seus planejamentos não condiziam com os de sua família.
Agora na saída do cemitério, Saoirse observava junto à sua mãe as pessoas que compareceram ao enterro se distanciarem sob seus guarda-chuvas majoritariamente pretos e tendo a chuva já reduzido alguns nem estavam os usando.
- Então... Vamos? - Sua mãe mesmo com a maquiagem borrada e uma expressão extremamente melancólica conseguia esboçar um breve sorriso e pegando a mão de Saoirse esperou sua resposta.
- Eu... Preciso de um tempo... Eu vou andar um pouco... - Ela precisava sair dali porque sabia que em algum momento cometeria a enorme burrice de procurar Emma, mas não poderia deixar a mãe sozinha. - Eu volto para o jantar.
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Blue Neighbourhood || Watsonan ✔
FanfictionCapa e idealização por @Swift_Potter Baseado na Trilogia Blue Neighbourhood, do Troye Sivan Após anos sem retornar à sua terra natal, Saoirse Ronan decide visitar a pequena vizinhança onde viveu durante sua infância e parte da adolescência, um lugar...