Blue Neighbourhood || Watsonan ✔

EPÍLOGO: TAKE YOURSELF HOME

I'm tired of the city, scream if you're with me
If I'm gonna die, let's die somewhere pretty, ah, ah-ah
Sad in the summer, city needs a mother
If I'm gonna waste my time, then it's time to go
Take yourself home

Eu voltei por ela, esse foi seu primeiro pensamento ao voltar naquela vizinhança depois de 11 anos sem ao menos sonhar ou ansiar com seu retorno. Hoje em dia, Saoirse se sentia extremamente distante daquela pessoa que retornara para seu antigo lar e possuía seus próprios anseios, amarguras e claro, um amor ainda vivo dentro de seu peito que parecia uma bomba relógio a ser carregada por ela e a qualquer momento poderia gerar um grande desastre.

Atualmente, ela estava sem dúvidas mais diferente e segura que antes, menos relutante com relação aos seus sentimentos e muito mais forte para lutar por eles e não mais contra eles como se fossem algo a ser combatido, ela aprendera a lidar com eles da forma correta. Agora, num belo mas levemente triste fim de tarde, vendo aquela mesma paisagem que usualmente via de sua varanda durante sua infância e que lhe parecia sair de um quadro de Van Gogh estampado em um dos livros de arte de Emma, ela lembrou-se de como estava extremamente angustiada na época, odiando a tudo e a todos, e talvez até a si mesma por sentir tanto. Seu antigo eu poderia até ter alguma razão para isso, mas estes eram pensamentos e motivações tão distantes que atualmente ela conseguia enxergar o porquê.

As casas, paisagens, pessoas e tudo mais traduziam em um tom melancólico o que vinha permeando as mente de Emma e Saoirse após seu recente retorno mas que jamais explicitaram em alguma fala: Nove anos se passaram. Nove longos anos onde aconteceram diversos eventos bons e ruins mas que no fundo, já eram esperados ansiosamente por ela todos esse tempo. Ela estava os vivendo ao lado de Emma. Ambas agora estavam vendo sob o mesmo espectro.

- Ei, tudo bem? - Pergunta Emma se aproximando de forma preocupada enquanto lhe estende com cuidado uma xícara fumegante de chá e em seguida lhe abraçando pelas costas encostando sua cabeça no ombro de Saoirse que beija seu rosto como resposta. Elas haviam retornado há poucos dias e planejavam ficar apenas por mais dois depois do funeral da mãe de Saoirse que faleceu após lutar anos contra o terrível Alzheimer.

Henry estava na sala assistindo sem necessariamente prestar atenção, o choque havia sido maior para ele, que passou tanto tempo longe de casa e Saoirse achou melhor dar um espaço a ele, que decidiu voltar a viajar pelo mundo depois do funeral. Saoirse apenas concordou porque sabia o quanto ele precisava disso, já que todos esses anos lhe trouxeram informações demais em curto tempo, e teve a promessa dele de retornar para o casamento de Saoirse, que aconteceria em breve segundo as previsões dela e de Emma.

- Tudo bem, obrigada por perguntar. -Respondeu apoiando-se em Emma e deixando que suas mãos a envolvesse. E pensou como ainda seria difícil lidar com todas aquelas perdas que se acumularam ao longo de sua vida, mas que ao lado dela conseguiria se manter firme o suficiente.

Ela sentia que ali não era mais seu lar. Tudo o que a ligava aquele lugar havia se esvaido e não tinha mais nada que preenchesse esse vazio. E Emma também sentia o mesmo, principalmente após brigar com sua família e se separar de forma completa deles. Saoirse sabia que aquilo tinha doído muito, mesmo que ela tentasse não transparecer em seus gestos mas as ofensas dirigidas a ela ainda reverberavam na mente de Saoirse e talvez por esse motivo um dos acontecimentos mais satisfatórios foi ver Henry ir até lá e falar, ou no caso bradar, contra eles e até falar algumas verdades que precisavam ouvir os deixados aterrorizados. E isso conseguiu arrancar um sorriso no rosto de Emma depois de tanto tempo.

Por sua vez, Saoirse ficou levemente surpresa e até espantada com o tamanho apoio que recebeu de amigos e até familiares, como Henry e sua mãe, e queria muito que o mesmo tivesse acontecido a Emma. Era doloroso vê-la ser tão reprimida pelos próprios parentes mas ela aprendeu a conviver com isso e agora não lhe era mais um problema lidar com eles.