white noise in my mind

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O som inconfundível das ondas se quebrando no cais permeavam a cidade e a pouca movimentação das pessoas e o silêncio evidenciavam ainda mais o ruído.

Durante o seu trajeto para o lugar onde costumava se encontrar com Emma, Saoirse observava as pessoas seguirem suas entediantes e repetitivas rotinas sempre sabendo que no fim do dia retornariam à segurança de suas casinhas azuis enquanto sentia uma crescente ansiedade ao se imaginar chegando lá e por acaso Emma também estar no local lhe aguardando como sempre.

Esta estranha ansiedade já lhe era trivial das épocas de início de primavera onde o perfume das flores que haviam desabrochado recentemente tomava conta do ar e ela sabia que Emma retornaria em breve de sua típica viagem para visitar seus parentes distantes, estando já aguardando seu retorno e planejando o que fariam para aproveitar devidamente a ligeira primavera.

Sua mente tratou logo de traçar um plano de como Saoirse agiria caso isso realmente acontecesse, tentando arrumar formas de burlar sua inquietação com o acontecimento.

- Você por aqui? - Ela diria em um tom de surpresa e em seguida suspiraria por um motivo que ela ainda não havia decidido se seria de alívio ou apreensão.

- Soube que estava na cidade... Imaginei que uma hora viria aqui. - Emma provavelmente diria e Saoirse lembraria que ambas sabiam tanto uma da outra que qualquer ação se tornava previsível.

- No nosso lugar. - Diria Saoirse ecoando a mesma frase dita por Emma há alguns anos atrás quando estavam naquele mesmo ponto durante um pôr do sol magnífico e Saoirse sentiu que ali realmente era seu lugar, ao lado de Emma e daquela bela paisagem.

- No nosso lugar. - Ela responderia de volta como se este fosse o mantra particular delas e partiria ao seu encontro deixando-se ser envolvida por seus braços.

Essa cena imaginária lhe acendeu uma esperança que ela não queria ter incentivado porque já lhe era conhecida a cadeia de eventos geradas por isso. A esperança lhe daria coragem e isso talvez a levasse de volta para onde ela nunca queria ter saído: Aquele quarto pequeno e repleto de esboços de desenhos por toda a parede, com um cheiro misturado de tinta, maresia e flores.

O céu naquela tarde silenciosa estava tomado por tons variados de azul e apenas algumas nuvens o cortavam. Algumas crianças ainda com seus uniformes escolares passaram correndo próximas a praia indo em direção à antiga sorveteria, que era uma espécie de ponto de encontro de todos os jovens desde a época em que Saoirse frequentara o colégio.

A pressa das crianças em atingir o lugar a lembrou de sua expectativa para que o sinal batesse e ela pudesse também sair em disparada para o lugar onde Emma estaria a aguardando.

Aguardar. Talvez Emma sempre esteve a esperando em algum lugar ainda não definido e quando finalmente seus sentimentos foram expostos naquele dia, sua eterna espera havia acabado. Agora era a vez de Saoirse aguardá-la seja lá onde fosse: Na praia, na sorveteria, em seu velho quarto, no lago, não importava de verdade a localização, apenas a chegada de Emma.

Sendo motivada pela nostalgia e também por uma certa relutância em revisitar o lugar, ela mudou sua rota e adentrou a sorveteria pedindo o de sempre e sentada na pequena mesa em frente ao estabelecimento sentia o acentuado sabor do clássico sorvete de morango enquanto apreciava um pouco as velhas ruas que ela jamais imaginava sentir tanto apreço e em seguida saiu para ir até um lugar que deveria ter ido desde que pisou na cidade.

Ela vai me matar quando me ver, pensava Saoirse enquanto caminhava pelas tortuosas ruazinhas que levavam à casa da conhecida professora de latim, a Signora Giordana, uma rígida e polida mulher italiana de idade já avançada que perdoava qualquer coisa menos o atraso ou descaso de seus alunos.

Blue Neighbourhood || Watsonan ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora