Blue Neighbourhood || Watsonan ✔

and baby, i apologise that I got the good side

"...Eu jamais me esquecerei de todos os momentos que compartilhamos e sei da importância de todos eles para você e respeito isso. Quando éramos crianças, você costumava dizer que eu pedia muitas desculpas mesmo quando não necessário. E hoje eu concordo com isso mas, apenas desta vez, permita que eu realmente me desculpe com você..."

Aquele dia no penhasco permeava sua mente como uma névoa e inevitavelmente retornava aos seus pensamentos mesmo em momentos inoportunos. O último vislumbre de Emma voltada para o horizonte e sem olhar para trás, onde Saoirse se encontrava já distante e desejando poder encarar seus olhos castanhos uma última vez antes de partir, a assombrava por temer que talvez se tornasse o sinônimo da possível despedida delas. Mas, os sentimentos de Emma estavam vivos em algum lugar em seu coração confuso e Saoirse também sentia os seus retornando com mais intensidade. E era impossível lutar contra isso naquele momento.

Uma mensagem de voz deixada de forma inesperada por Emma há dois meses atrás era a prova de que finalmente os sentimentos das duas pareciam se igualar na mesma intensidade e tudo parecia progredir para algo ainda não definido.

Foi durante um dia extremamente agitado quando Saoirse a encontrou deixada em sua secretária eletrônica, e também se surpreendera ao notar quem era seu remetente. E mesmo depois de meses após seu envio, ainda se via a repetindo mentalmente:

- Eu sei que em Nova York deve ser bem tarde mas eu precisava falar isso, precisava muito mesmo. - Emma fez uma breve pausa e prosseguiu. -Sim, Saoirse, eu quero muito resolver isso... Na verdade, eu quero estar com você. - Houve uma outra pausa na voz trêmula de Emma que prosseguiu em um tom mais firme e decidido. - Mas nós precisamos esperar ainda só por enquanto... Eu prometo.

A mensagem trouxe consigo aquele antigo sentimento já conhecido de felicidade por ouvir a voz dela. Fazendo com que Saoirse percebesse como as duas já estavam totalmente contaminadas pela sensação de amar mesmo sem estarem necessariamente tendo algo.

Saoirse queria muito conseguir entender o que estava se passando na mente de Emma durante aquele período de afastamento tão repentino, mas parecia ser algo impossível visto que ela havia se tornado uma ilha de pensamentos inacessíveis distante o suficiente para que ela nem conseguisse ter um vislumbre destes pensamentos anteriores.

Mas, com o tempo, a situação foi se desenrolando naturalmente e Saoirse conseguiu ver com mais clareza o quanto Emma realmente estava disposta a ficar do seu lado. Ainda seria difícil todo o processo que enfrentariam após essa decisão de assumirem enfim seu relacionamento, porém elas já haviam esperado demais. E esta mensagem foi o estopim para isso.

Fazia um ano inteiro que Saoirse não a via já que sua breve visita para Londres havia se convertido em algo definitivo e segundo o pouco de informações que tinha conseguido obter, Emma estava tentando se resolver em todos os sentidos possíveis e aparentemente encontrava-se em um processo de divórcio. O que não deveria ser nada fácil de se lidar mesmo com os parceiros sendo compreensivos. Ela queria muito poder confortá-la mas, como Emma havia dito em sua mensagem, precisavam esperar.

Enquanto estava em Nova York,  Saoirse tentava se distrair em meio à sua rotina e não pensar tanto neste assunto. Mas agora que ela e Emma, mesmo sem explicitar nada ou ao menos conversarem sobre o assunto, adentraram este jogo e queriam ganhá-lo a todo custo.

Ambas finalmente haviam conseguido unir os pedaços quebrados pelo tempo e agora reconstruídas e mais fortes para encarar tudo, o que mais queriam era seguir em frente e lutar por isso. Pelo seu sentimento. Por elas.

E isto trouxe para Saoirse a total compreensão dos porquês de Emma em tentar se afastar para refletir o que faria a seguir, ela precisava de tempo mas não para entender-se e sim, para saber o que fazer. Esta situação já lhe foi familiar quando as duas há alguns anos atrás, durante sua estadia para o funeral do pai, voltaram a se encontrar. A culpa, a confusão e o medo trazidos com todo o contexto era algo não mais tão aterrador quanto antes. Mas para Emma talvez fosse.