PARTE II: TALK ME DOWN

42 9 0
                                    


Em uma de suas habituais visitas Signora Giordana, que já estava até se acostumando com a presença diária de sua ex-aluna inclusive a recomendando alguns livros como fazia antigamente e com o passar dos dias, uma estranha rotina se estabeleceu dentro das visitas e Saoirse vinha como uma ótima maneira de espairecer sua mente, mesmo que significasse eventualmente comprar cigarros para Giordana ou ajudá-la a organizar seus livros, além de outras tarefas banais.

As usuais idas à mercearia ordenadas pela senhora sempre eram vistas como um sinal de perigo e Saoirse via seu encontro com Emma se tornar cada vez mais inevitável e ela ainda não havia decidido se isso era algo bom ou ruim.

Em uma tarde entediante, Saoirse foi convencida pela mesma a sair um pouco e dar uma volta próxima a orla da praia porque ela "precisava se animar um pouco".

O dia estava ensolarado e as paredes das casas ganhavam um brilho maior, até perdendo um pouco de seus tons monocromáticos.

- Como você tem estado? - Perguntou a senhora como sempre acendendo seu usual cigarro antes de iniciar qualquer diálogo de forma propriamente dita.

- Eu diria que bem mas você sabe, nunca 100%.

- Eu entendo, nós estamos no início do século 21, ou seja, ninguém está bem de verdade...

- Concordo. - Elas pararam momentaneamente quando um outro ex-aluno cumprimentou a Signora Giordana e iniciou o velho diálogo entre duas pessoas que não se vêem a muito tempo.

- Você é o... Marcos... Matheus... -Giordana estreitou seus olhos e indireitou ligeiramente seus óculos tentando recordar o nome do rapaz diante delas.

- Matthew, professora. - Respondeu ele de forma tímida.

- Ah, sim... O ruivinho sardento. - Ele a olhou com uma expressão levemente confusa apesar de que o apelido da professora se encaixava perfeitamente nas suas características físicas, seus cabelos e a espessa barba que cultivava pareciam flamejantes ao sol e seu rosto era salpicado por sardas que o tornavam avermelhado. Saoirse não lembrava dele então deduziu ser alguns dos alunos que marcavam o horário das aulas para mais tarde, ou seja, ele provavelmente era um dos garotos que costumava ficar até tarde na praia ou perambulando por aí.

- Então, como a senhora está?

- Muito bem, e você?

- Eu estou ótimo.

- Está casado ou sofreu da mesma maldição de todos os meus outros alunos e aparentemente vai morrer solteiro? - Perguntou ela olhando de soslaio para Saoirse que suspirou alto em resposta.

- Eu não cheguei a me casar... Ainda.

- Então tem alguém?

- Sim, tenho... - Ele corou e sorriu de uma forma que lembrou Saoirse como o amor era capaz de tornar qualquer momento ou frase mais alegre e ao mesmo tempo lhe gerou uma estranheza ao notar que fazia anos que experenciara este sentimento.

- Eu posso apenas desejar boa sorte com seja lá quem for... E pedir que me convide para o casamento.

- Claro que sim... - Ele olhou rapidamente para trás antes de sair e disse. - Eu preciso ir andando, até logo.

Quando ele saiu, a professora simplesmente tomou mais um trago de seu cigarro e continou a caminhar.

- Queria que todos os meus alunos fossem como vocês dois... Lembrassem de sua velha professora.

- A senhora é bem difícil de esquecer.

- Me bajulando, menina? Será que depois se tanto tempo tendo aulas minhas ainda não aprendeu que isso não funciona?

Blue Neighbourhood || Watsonan ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora