Capítulo 24

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Camila Cabello


Durante três semanas, fui realmente muito boa nessa coisa de não pensar. Depois da noite com Lauren no chuveiro, fiz um novo trato comigo mesma: uma vez que estava indefesa sobre como me sentia, iria simplesmente aceitar isso. Não tinha de mudar nada. Os sentimentos estavam apenas ali. Podia escolher o que faria – ou não – a respeito.

Houve outras noites no chuveiro. E dias. Tornou-se um de meus lugares favoritos para fazer sexo. Adorava a aspereza dos tapas em minha carne molhada, nosso som, ecoando nas rígidas paredes de azulejo do boxe.

Lauren sentia-se em casa em meu apartamento e até havia levado para lá uma escova de dentes e algumas peças de roupa. Não que isso significasse alguma coisa. Simples conveniência. Minha residência ficava muito mais perto do Pleasure Dome do que a dela; ficava ali, quase virando a esquina. E o fato de seu notebook ficar ali no canto da minha sala de jantar era outra comodidade, nada mais.

De qualquer forma, gostava quando escrevíamos juntas durante as tardes: Lauren em minha mesa de vidro, e eu sentada na área do escritório, poucos metros adiante. Era bem agradável. E, se uma de nós precisasse discutir um ponto importante, a outra estava bem ali. Obviamente, isso com frequência levava a mais sexo. Mas, uma vez que eu era uma autora erótica, considerava aquilo inspiração. Meu livro estava começando a tomar forma, o enredo e a dinâmica dos personagens amoldando-se, em grande parte graças a Lauren. Era sempre um bom sinal quando sua escrita ia bem.

Dinah havia ligado novamente, perguntado como ia tudo. Não mencionei a maioria dessas coisas para ela. Não sabia muito bem por quê. Talvez quisesse manter o que estava acontecendo apenas entre nós duas. Privadamente. Ou quem sabe tivesse medo de que falar a respeito tornasse aquilo muito real, destruindo minha capacidade de negar o que poderia significar para nós. Para mim. E seria melhor se deixasse esses pensamentos distantes do limite de minha consciência. Era uma estranha espécie de seminegação, mas tornava tudo administrável. Mantinha uma pequena distância de que precisava para manter um senso de equilíbrio. De controle.

Não havia deixado nenhuma de minhas coisas em sua casa, não que eu me importe quanto tempo passássemos lá.

Aquele era um dos poucos dias em que estava sozinha em casa por um tempo, sentada à mesa de jantar, tomando uma caneca de meu chá favorito, com um prato de torradas com manteiga perto de meu cotovelo.

Estava olhando para a paisagem além das janelas, como sempre fazia. O sol tentava forçar seu caminho através do nevoeiro matinal de Seattle, sua luz como ouro nebuloso formando pontos quentes sobre o piso de madeira lisa, fazendo com que brilhasse com um tom dourado acolhedor. Me lembrei, como se fosse o presente, de outra manhã em que estive na cama com Lauren. O sol incidia sobre os pelos ralos de seu antebraço, produzindo reflexos dourados e âmbar. Me levantei, tocando aquela superfície com a ponta dos dedos. E ela acordara, sorrindo para mim, seus olhos verdes que pareciam mirar através de mim. Dentro de mim.

Estava quase escurecendo quando Lauren se despediu com um beijo, uma hora atrás, saindo para encontrar sua amiga Verônica para um passeio em algum lugar. Nós jantaríamos com ela, mais tarde.

Envolve a caneca de chá com minhas mãos, levanto-me e tomo o líquido quente.

Não estava bem certa de como me sentiria quando conhecesse seus amigos. Parecia ser o curso natural das coisas, pude supor. Mas o curso natural de um relacionamento. E não era o que estava acontecendo ali. Ou era?

Será que era um sinal de que ela desejava que as coisas ficassem mais sérias? Ela era contra relacionamentos, como eu. Era o que me mantinha segura. Não importa quão próxima me sentia dela.

Luxúria - IntersexualOnde histórias criam vida. Descubra agora