02. REJEIÇÃO

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Me sentei ao lado de Ada e Linda na mesa de jantar, fiquei com o pequeno Billy em meus braços enquanto Thomas se levantava para falar algo

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Me sentei ao lado de Ada e Linda na mesa de jantar, fiquei com o pequeno Billy em meus braços enquanto Thomas se levantava para falar algo. Continuei com meus olhos focados no pequeno sem nem sequer olhar para o Blinder, eu estava consumida por um rancor passado e eu não conseguia entender o porquê das coisas que nos ocorreram.

Se parássemos para sermos sinceros, tanto eu quanto Thomas tínhamos rancores passados. Ele talvez por pensar que eu o abandonei, eu pelo mesmo. A realidade cruel era que precisávamos sentar e conversar sobre tudo, como dois adultos maduros, mas infelizmente, o orgulho as vezes fala mais alto que a maldita maturidade.

━ Sei que todos vocês ficaram surpresos quando receberam o convite do almoço, mas eu precisava fazê-lo com urgência. Quero deixar claro aqui que o momento em que estamos vivendo é de extremo perigo, mas se permanecermos como uma família, unidos, venceremos! ━ deu uma pequena pausa e percebi que os olhares à volta direcionaram-se até mim. ━ Sei que aconteceram muitas coisas nesses anos, mas precisamos ficar juntos. Quero dizer também que Ana ficará com o Charlie para mim, então não precisam se preocupar mais com ele ou comigo. Agradeço pela ajuda de vocês e pela compreensão. ━ assim que terminou, ele se sentou, acendendo mais um de seus cigarros.

Quando Thomas pegou no copo de whisky, vi um pequeno menino aproximar-se de Thomas e automaticamente imaginei que seria Charlie. Fiquei analisando Thomas com o menino em seu colo, ele era carinhoso e atencioso com a criança e aquilo amoleceu meu coração.

Não estava acostumada com o lado atencioso e compreensivo de Thomas, não depois da guerra. Tudo mudou. Não podia culpá-lo, nenhuma mulher sabia ou tinha noção do inferno que aqueles guerreiros enfrentaram no campo de batalha, e pelo resultado psicológico causado, não parecia ter sido nada agradável.

━ Thomas. ━ falei e em meio ao falatório repentino, todos ficaram em silêncio, olhando de forma fixa para mim ━ Podemos conversar em particular? ━ o de olhos azuis apenas assentiu.

━ Polly, fique com Charlie. ━ bufou ━ Venha comigo Ana.

Entreguei Billy a Linda e segui Thomas. O mais velho subiu as escadas e levou-me até seu escritório. Quando chegamos no local, Tommy trancou a porta e na mesma hora sentei-me em uma das cadeiras.

Antes de permitir que alguma palavra saísse de minhas cordas vocais, apoiei ambos os cotovelos na coxa e passei a mão sobre meus fios negros, precisava respirar fundo.

━ Diga-me, o que quer falar comigo? O que pode ser tão importante para interrompermos o almoço? ━ perguntou ele, sentando-se em sua poltrona.

━ Thomas quero me entender com você. Já que serei eu a responsável por cuidar de Charlie, acho que precisamos nos acertar. Confesso que guardei rancor por muitos anos depois de tudo que aconteceu antes da guerra e... ━ respirei fundo mais uma vez no momento que senti uma lágrima escorrer pelo meu rosto ━ Só quero esquecer tudo e seguir em frente, em paz.

━ Se é só isso, por mim tudo bem, estamos entendidos Ana. ━ Thomas colocou whisky em seu copo e deu uma só golada. ━ Vamos falar de negócios agora. Soube que está com dificuldades financeiras, não é?

━ Como sabe disso? ━ senti um leve frio na espinha me subir, aquela era uma situação particular, não gostava de falar sobre, me fazia recordar momentos de tristeza.

━ Eu sei quase tudo sobre o que acontece com quem mora na minha cidade, sei que seu noivo morreu e deixou dividas da casa. ━ largou o copo em cima da mesa de madeira ━ Vou retribuir seus serviços com um salário digno, todas suas dividas serão sanadas, por ordem dos Peaky Blinders.

━ Fico grata, não estou aqui só pelo dinheiro, que fique claro, eu quero ajudar, então é meio desconfortável para mim que vocês banquem todas as dívidas feitas pelo meu noivo.

━ De qualquer jeito não importa. Já dei a ordem. ━ ele levantou com agilidade ━ Polly vai te passar o cronograma de Charlie, espero que siga-o a risca, é uma coisa que a mãe dele fazia. ━ complementou sem nem ao menos olhar para mim, era um assunto delicado notoriamente.

━ Certo, tudo bem então, irei entreter Charlie enquanto não recebo as instruções, acho que preciso me conectar com a criança pelo menos. Licença Tommy. ━ me levantei já caminhando em direção à porta.

Confesso que meu coração se contorceu dentro de mim, o maldito esperava que ele pedisse para que eu ficasse ali com ele, a mente batalhava em meio a razão e os sentimentos que por muito tempo achei que estavam mortos, mas no fim não saiu nenhuma palavra da boca de Thomas, precisava fazer alguma coisa para tentar resgatar o que um dia foi me tirado, então, com determinação, me virei em sua direção e não aguentei segurar as lágrimas, as deixei cair de meus olhos como uma cascata, precisava por pra fora todo aquele sentimento ruim que me rondou por quatro anos.

━ Você não me chamou nem ao menos pro seu casamento, não me disse que trouxe uma criança ao mundo, podia ao menos ter me dado uma explicação. ━ os olhos azuis gélidos voltaram-se para mim ━ Thomas eu senti sua falta, eu sucumbi depois que você voltou da guerra e não me procurou. Eu entendo você, eu imagino que tenha sido horrível naquele lugar mas... eu ainda estava ali ━ tentei segurar minha fala ao ver que o chefe da família me olhava friamente, sem expressar quaisquer reação, apenas acendeu seu cigarro e voltou a fitar seu olhar nos meus ━ Eu te amei Thomas Shelby e você me deixou, como se abandona um cachorro na esquina.

Tommy continuou a me olhar, mas dessa vez pude ver uma gota de remorso em seus olhos gélidos, mas ainda permanecia em silêncio e aquilo me corroía ainda mais por dentro, como se atirasse uma flecha em meu peito, talvez o silêncio fosse pior que ouvir as cruéis afirmações sobre o que realmente se passou em sua cabeça naquela época.

━ Quer saber, que se dane! ━ murmurei, abrindo a porta atrás de mim.

━ Ana! Você estava noiva de outro homem quando eu voltei da guerra, não tinha motivos para te procurar. ━ ele tragou a fumaça e a segurou em seu pulmão, apoiando seus punhos contra a mesa em seguida.

━ Meus pais me obrigaram, você os conhecia, sabia que eles só se importavam com o dinheiro. Mas que droga Tommy. ━ balancei a cabeça em negação ━ E adivinha? O dinheiro não serviu de nada, ele morreu e me deixou com as dívidas de suas apostas.

Dei de ombros secando minhas lágrimas e bati a porta com força ao sair do escritório. Segui em passos ligeiros para um dos quartos, aparentemente de Charlie, deduzi por conta dos brinquedos e quadros.

Enquanto explorava o local, avistei um retrato de uma mulher segurando Charlie em seus braços, havia uma assinatura que dizia: "Para a minha amada Grace.", aquela só poderia ser a mãe do menino. Ela era uma mulher tão linda e transpirava bondade em seu olhar, imaginei que deveria ser uma mulher importante para toda a família. Meus pensamentos voaram e de repente sou interrompida por uma batida na porta, era Polly.

✓ ESPELHOS QUEBRADOS | Thomas ShelbyOnde histórias criam vida. Descubra agora