Prólogo

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     Se havia algo que eu agradecia todos os dias, era ser a integrante das garotas Willians. Aprender a cada dia a ser uma mulher forte, com um pensamento avançado em relação às outras meninas do meu colégio e ser bastante decidida no que eu quero e não quero em minha vida era fantástico. Desde pequena, minha mãe e minha avó me falaram que iriam me apoiar sobre qualquer coisa que eu gostasse, e hoje com os meus 15 anos, eu pude ver que era verdade.

Desde os meus 8 anos, as duas me colocaram para assistir novelas mexicanas, e eu me apaixonei de cara. Mas não pelo romance, é algo que eu nunca irei priorizar em minha vida, e sim, por causa de toda trama que acontece ao decorrer, como assassinatos, a vilã, a irmã gêmea do mal e por aí vai. Amo histórias com mais de um tema, com reviravoltas que fazem o telespectador ficar com o coração na boca. Foi assim que eu percebi, aos meus 9 anos, que eu daria certo na carreira de escrita. E o melhor de tudo fora receber todo o apoio das mulheres da minha vida.

Leonor Willians era a mulher mais forte que eu conhecia. Com seus 50 anos, era bastante respeitada por todos os moradores do Harlem; mais conhecida como vovó Willians. Era pequena, robusta, pois como ela diz, ninguém é feliz sem comer. Seus olhos pretos que transbordavam determinação, amor e experiência, passava tudo o que sabia como uma mulher preta para sua filha; Mercedes Willians.

Mercedes Willians, minha mãe, era outra mulher trabalhadora, de altura média e tinha pouco cabelo também, com seus olhos castanhos. Ela me teve nova, com 18 anos, e não pode fazer a faculdade que queria para me sustentar. Esse é um dos motivos de as duas sempre me apoiarem: nenhuma delas tivera a oportunidade de seguir os seus sonhos, mas iriam se sentir realizadas se eu seguisse o meu.

Desde que decidi que escrever era minha paixão, elas trabalharam ainda mais para comprar um computador para mim, para o meu sonho poder se iniciar. Foi ali que eu vi as mulheres poderosas e batalhadoras a minha frente, e que eu iria fundo no meu sonho. Minha avó era costureira, costurava e produzia roupas para o bairro todo, onde ela era a referência para qualquer pessoa que estava à procura de uma costureira. Minha mãe era babá, cuidava de três crianças de uma mulher rica de Chinatown, onde eu só a via o dia todo nos finais de semana, mas o salário não era tão ruim.

As duas começaram a trabalhar desde cedo e ficavam felizes de eu não ter que fazer o mesmo. Eu perdi o meu pai; Terry Spence, que morreu pelo câncer, com meus 5 anos de idade, o que obrigou minha avó a trabalhar mais e minha mãe a procurar um emprego. Ele tinha um emprego e decidira que seria um ótimo pai. Perdê-lo era estranho para mim, pois eu não tinha tantas lembranças minhas com ele, então eu sentia falta dele em minha vida as vezes, mas de vez em quando, era como se ele nunca tivesse existido para mim, apenas minha avó e minha mãe. As vezes eu me sentia culpada por ter esse pensamento, mas aos poucos isso iria embora com o tempo.

6 anos se passaram e eu estou com meus 15 anos, espancando o teclado do meu computador com tanta inspiração. Eu escrevia sobre um casal apaixonado separados por gangues rivais na época onde o Harlem era um local perigoso, abordando tudo sobre o local onde eu vivo, principalmente a história cultural.

Harlem já não era mais um local perigoso a muitos anos, tanto que Nova York já entrou no top 10 das cidades mais seguras que existem. Mas mesmo assim, não significa que as vezes não é bom andar em um determinado local, numa determinada hora.

— Natalie Willians. — Minha mãe entra no meu quarto me chamando.

— Pode dizer. — Eu digo sem parar de digitar loucamente.

— Já está na hora da novela, onde vai ser relevado se é o Ramon ou o irmão gêmeo dele. Não vai vir? — Minha mãe pergunta balançando as minhas tranças.

— É claro. — Eu paro de digitar e salvo o arquivo. — Foi mal, estava muito inspirada. Mas o gato do Ramon, é o gato do Ramon. — Eu digo e nós duas começamos a rir e minha mãe fica encarando os meus grandes olhos castanhos.

— Que orgulho de você. Vamos? Ou sua avó irá nos matar... — Ela cerra os dentes e eu me levanto rapidamente.

— Vamos mamãe. — Nós vamos abraçadas em direção a sala, e minha avó já está lá, com nossos chocolates quentes e a mesinha de estar no meio da sala para colocarmos os pés. Esse era o nosso passatempo rotineiro preferido: o momento das garotas Willians.

— Achei que iriam perder a revelação do Ramon bonitão. — Minha avó diz rindo e em seguida estamos nós três em altas risadas.

— Como falei para minha mãe, é claro que não. — Eu digo me jogando no sofá. Minha avó no meio, eu na direita e minha mãe na esquerda. Todas concentradas, ansiosas com nossas canecas nas mãos, colocando nossos pés na mesa de estar, e preparadas para ficarmos boquiabertas com a revelação que a novela iria proporcionar.

Eu não trocaria esse momento por nada. Eu era feliz com a minha vida, com as mulheres nela e queria viver nesse ritmo familiar até meu último dia.

Mas será que o destino iria querer isso para mim?

—x—

Gostaram das garotas Willians? ♥️

Raízes (Finalizado) (2020)Onde histórias criam vida. Descubra agora