Capítulo 1

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"Eles disseram que eu estava viajando, tentaram me derrubar, peguei esses paus e pedras e mostrei a eles que eu podia construir uma casa".

— Katy Perry (Daisies)

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De uma vida simples, vendo inúmeras novelas no sofá de casa, com minha mãe e minha avó; estudando num colégio simples e me esforçando para ser a melhor, para uma mulher de 27 anos de idade, crescendo no ramo empresarial em Los Angeles. Às vezes a ficha não caía para mim, mas haviam se passado 12 anos e o destino havia mudado a minha vida radicalmente.

Me tornei uma mulher em ascensão, pois com muito trabalho duro, eu havia me tornado a dona da minha própria editora. Não era tão grande e famosa como algumas outras, mas com os métodos de marketing, a Ridge Willians havia finalmente caído na boca do povo, onde pode me render entrevistas com portais e revistas famosas. Rolling Stones seria uma delas.

De uma simples garota de 15 anos que estudava bastante e escrevia igual uma louca no computador com seu tempo livre, para uma mulher louca de trabalho, onde tempo livre era algo que eu não tinha muito. Mas eu amava o que eu fazia e isso não era um problema para mim.

Mas um defeito que eu tinha, era me atrasar. E numa simples e chata segunda feira, eu estava atrasada para revisar contratos da Ridge Willians e tenho toda certeza que Alyson Spellman, minha secretária e melhor amiga, iria me matar ao ver que eu estava 25 minutos atrasada.

Após estacionar meu carro de frente para a Ridge Tavares, eu faço algo, que eu prometi fazer sempre que olhava para a minha editora.

— Você é incrível, eu sou incrível. — Eu digo admirando o grande prédio de 15 andares, com um formato retângulo, cujo as janelas são azuis, com uma porta espelhada, com o nome da editora escrito acima. Eu precisava me conformar todos os dias quem era uma pessoa maravilhosa, por mais que eu não me sentisse assim na maioria das vezes, por conta de momentos do passado que ainda não pude e nem sei se irei superar.

Logo após dizer a minha frase padrão e fazer algumas poses para os jornalistas que estavam tirando fotos minhas, eu reparo que Alyson está encostada na porta do lado de fora, me encarando com os braços cruzados e com seu olhar de fúria. Usava um sobretudo marrom, com uma calça jeans preta, uma blusa preta da banda que ela amava, chamada Arctic Monkeys, o qual ela me obrigou a ir num show, mas não nego que adorei, e um salto alto preto, com seus cabelos pretos, num estilo bastante nostálgico e com uma franja que cobria a sua testa.

— Oi amiga... — Eu digo indo na direção dela fazendo um passinho de dança com os pés, tentando evitar de ela colocar sua fera para fora. Às vezes parecia que ela era a patroa.

— 25 minutos atrasada, esqueceu que você tem uma editora? — Ela me encara. Eu tinha medo dessa mulher.

— Óbvio que não. Tenho sempre você para me lembrar amiga. — Eu digo piscando para ela, que não muda a feição em seu rosto. — E se falar assim comigo de novo, está demitida. — Eu brinco, a imitando, ficando de braços cruzados e um olhar furioso.

— Se eu for demitida essa editora caí. Não vai encontrar nenhuma assistente, barra melhor amiga como eu. — Ela revira os olhos se gabando, colocando sua mão em seu queixo.

— É verdade. Mas agora já foram 30 minutos. Vamos trabalhar bitch! — Eu a abraço e entramos juntas na editora, que já estava aberta, lotada de clientes. E se tem clientes, tem papeladas.

A Ridge Willians tinha 3 andares, onde havia inúmeras estantes de vários formatos com diversos livros de inúmeros estilos. O 1 andar era focado apenas para os livros, onde o leitor poderia desfrutar de toda a magia, o 2 era a sala de leitura, com uma mesa única e com algumas funcionárias que servem bebidas, onde o leitor poderia ler o seu livro comprado confortavelmente, e o 3 andar era a sala dos funcionários e meu escritório.

Eu vou subindo as escadas lentamente com Alyson, que estava me mostrando a porcentagem de vendas da editora em seu tablet e eu morria de orgulho de ter ela como minha assistente. Alyson é minha melhor amiga desde os 16 anos, então meu modo de tratar ela é extremamente diferente. Eu nunca iria diminuir ela como minha funcionária, eu faço exatamente o contrário, sempre a motivo para continuar o seu livro, para ela ir de secretária a escritora com um contrato.

— E o seu livro, senhorita Spellman? — Eu pergunto abaixando o tablet. Alyson era maravilhosa, mas às vezes ficava obcecada no trabalho, ainda mais do que eu, o que eu achei que era impossível.

— Eu ainda estou escrevendo. Não tenho tempo para isso. Bitch! Eu trabalho, sabe? — Ela estala os dedos e rimos igual duas loucas enquanto subimos as escadas.

— Você sabe que pode tirar seus dias de folga, que são muitos aliás. Não escreve o seu livro por desculpas sem cabimento. Está esperando o que? Está chegando a fase dos 30, eu quero você como escritora e não como secretária! — Eu digo e é a minha vez de cruzar os braços.

— Obrigada por me lembrar que estou ficando velha, mas ainda faltam 3 anos. Mas vou tentar pensar no assunto. Agora cala a boca e vamos trabalhar, que você tem contratos para assinar sua doida de pedra! — Ela me empurra com as mãos em minhas costas para em direção ao corredor longo onde estavam todos os funcionários. Cada um com sua escrivaninha, com o material necessário para o trabalho. Passo pelo meio, onde o caminho ia direito para a minha sala, dando bom dia para todos e eles me respondendo bom dia novamente em coro.

As paredes do meu escritório eram marrons, minha mesa também, e as pontas eram brancas. Ela era projetada como eu imaginava com meus 17 anos. Alguma coisa se realizou pelo menos...

Eu me sento na minha cadeira, me remexendo até encontrar uma posição confortável e Alyson se senta numa de frente para mim.

— Aí está! — Ela me empurra a uma pilha de papeladas. Deveria ter uns 60 contratos de diversos leitores. Mas eu já estava acostumada a tanto trabalho. Imagine quando a minha editora decolar de vez. Planejar as suas coisas, sempre pensando à frente era prazeroso.

— Obrigada. — Eu dou um sorriso forçado para mostrar a minha alegria para aqueles contratos.

— Qualquer coisa me chama. Eu te amo e boa sorte. — Ela diz sorrindo e em seguida se levanta.

— Também te amo. — Eu digo um pouco mais alto, pois ela já está longe, indo buscar meu café, eu aposto.

Após assinar alguns contratos, eu acabo esbarrando o meu cotovelo no quadro, onde está eu, minha mãe e minha avó sentadas no sofá de casa no Harlem, vendo uma novela, a qual não me lembro mais.

Olhar para aquele quadro, me fazia lembrar dos momentos das garotas Willians, as 3 gerações de garotas poderosas, como a minha avó costumava falar. Mas tudo mudou quando o destino resolveu fazer uma brincadeira sem graça na minha família... De tirar a vida de uma das garotas Willians.

—x—

Raízes (Finalizado) (2020)Onde histórias criam vida. Descubra agora